platão.

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Paixão platônica tem esse nome por conta de um filósofo bem famoso, Platão, que dizia que esse é um amor extremamente puro, sem interesses, é sobre virtude e é desprovido de paixões, que são cegas, materiais, falsas. Eu acredito nessa filosofia, baseando-me em todas as paixões assim que tive. Não houve nenhum interesse material ou outro que Platão julgaria como fútil, era apenas uma pessoa interessada apenas no que não vê de outra pessoa.

Pode soar esquisito ou até melancólico para alguns, mas eu nunca quis abraçar o amor e vive-lo com intensidade. Eu gosto de observar ele se concretizando, ficar agoniado quando esse sentimento se cruza com outros, como ódio e mágoas, e triste quando acaba. É fascinante como as pessoas choram, juram que nunca irão superar (e muito menos esquecer) alguém e meses depois já está com outra. Isso me faz pensar que todos somos substituíveis e me deixa mais incrédulo sobre aqueles que procuram o amor de suas vidas.

Luke Hemmings é uma dessas pessoas, pelo o que já observei. Um estudante com olhos azuis bem brilhantes, que escreve poesias sobre o amor, quase esfregando seu desejo por ter um real e sincero no papel. Não sei se sinto pena ou se fico impressionado com esse menino, pois nunca vi alguém buscar tanto por um sentimento e botar coisas tão lindas no papel. Ele é o tipo de pessoa que Platão detestaria, eu acho. Não o conheço bem o bastante, apenas fazemos algumas aulas de exatas juntos e nos cruzamos no intervalo, nada muito profundo.

-Ashton! Tava te procurando, preciso falar com você. – Diz Michael, interrompendo meus pensamentos, quando atendo o telefone.

- Você sabia que Platão achava que a nossa alma tem três partes? – Falo, ainda muito envolvido com o que estava fazendo antes.

- Aposto que achava mesmo. Temos uma festa pra ir hoje e não adianta você me falar não, Irwin, já comprei seu ingresso. Tô indo pra sua casa, chego em 10 minutos pra gente ir.

- Eu vou se você me falar de quem é, pelo menos, né?

- Calum Hood.

Calum Hood é um menino muito pelicular. Eu já percebi que eu e ele compartilhamos a mesma paixão por Filosofia e por outras coisas também, mas ele reprime muito seus gostos para se encaixar no padrão que lhe foi imposto. É outro que eu sinto pena, mas aprecio sua inteligência, mesmo que ele se recuse a mostrar isso.

- Ah, o falso burro do nosso ano.

- Não entendi.

- Ele quer se mostrar burro pros amigos porque eles consideram que ser inteligente é muito old school.

- Ata. Vamos então na festa?

- Tem jeito?

Eu não curto muito essas festas que Michael sempre me arrasta, porém é engraçado ver todo mundo bêbado e fazendo merda. Eu geralmente bebo um pouco, como salgadinhos e tento arranjar alguém sóbrio para conversar, o que nunca acontece, então só mexo no celular e espero meu amigo acabar de se divertir ou ficar tão bêbado a ponto de esquecer que me trouxe e poder vazar de lá. Não fico chateado com o fato dele me arrastar para essas festas porque eu meio que gosto, mesmo que não me divirta como os outros.

Quando o menino chega em minha casa, ainda estou me arrumando, então peço pra ele ver televisão enquanto me espera. Boto minha calça jeans, enfio uma camiseta de qualquer banda e grito que estou pronto. Ele me avisa que já estamos atrasados então temos que ir correndo, ou quase isso.

- Okay, eu vou pegar duas cervejas pra nós dois e já volto. Fica aí se não eu te perco! – Fala Michael, assim que chegamos na tal festa.

Eu sento em uma cadeira esperando que ele volte, mesmo que eu tenha uma certa dúvida sobre essa parte. Todas as meninas estão dançando em volta dos garotos, que fazem o mesmo e pegam na cintura delas. Mais previsível que isso, impossível. Daqui a pouco, já vai ter gente nos quartos e alguém vai começar uma briga ou quebrar algo.

- Bem chata a festa, não acha? – Alguém fala, sentando ao meu lado.

- Eu diria que depende do ponto de vista. Eles – aponto pra um casal se beijando – não estão achando isso.

- Faz sentido. Ainda acho que no meu ponto de vista tá bem chato. Essas festas são todas iguais, nem sei por que eu ainda deixo Calum me convencer. – Diz o menino e eu percebo que é Luke Hemmings.

- Eu meio que gosto, mesmo sendo tudo igual. Você sempre pode ver as pessoas trocando as outras em um segundo, é engraçado.

- Eu acho meio triste.

- Por que? – Pergunto, mas já sei a resposta.

- Eu vejo relacionamentos de uma maneira diferente das pessoas hoje em dia. Ainda tenho o sonho louco de achar que existe uma pessoa certa pra mim e não quero me desgastar com gente que não vale a pena, mesmo que eu faça muito isso.

- Entendi.

- E você?

- Gosto de estar sozinho.

- Como?

- Amor próprio, eu acho. Não preciso nem quero achar minha metade da laranja.

- Que estranho. Bom, menino sozinho, tenho que ir embora.

Luke se despediu de mim, mas não antes de me encarar e sorrir. Essa foi a conversa de festa mais interessante que eu já tive, até porque não foram muitas. Ele realmente vê os relacionamentos de uma forma muito contos de fada e mesmo falando que eu entendi o que ele quis dizer, não sei como esse menino faz isso. Será que na sua infância ele foi obrigado a ver muito filme das princesas? Não, acho que ele gosta disso mesmo.

Porém agora posso colocar outra característica em Luke Hemmings: seu sorriso cheio de confusão por ver o total oposto dele.  

philosophy; lashtonWhere stories live. Discover now