Duas horas depois.
Estava no apartamento da Senjougahara, deixando Oshino e Shinobu atrás do cursinho abandonado.
Casa de Senjougahara.
Tamikura-sou(1), se chamava.
Um condomínio de dois pisos de madeira, construída há trinta anos. Caixas de correio de estanho nas portas. Um chuveiro e um toalete incluídos, a contragosto, em cada apartamento. Com seis quartos e uma pequena pia. Vinte minutos de a pé até uma parada de ônibus mais próxima. O aluguel era de 30~40000 ienes(2), dependendo do apartamento (incluindo a manutenção, os serviços públicos e a taxa de associação).
Não era realmente o que Hanekawa me levou a acreditar.
Deveria estar destacado no meu rosto. Mesmo sem ter pedido, Senjougahara disse sem rodeios: "Minha mãe se juntou a um culto."
Como se isso fosse desculpa.
Era evidente que ela estava passando por muitas coisas.
"Não apenas deu todo seu dinheiro a eles, como também criou enormes dividas doando para eles. Sua casa foi a primeira da lista."
"Um culto?"
Uma dessas novas e perigosas "religiões".
Todos eles levaram aos mesmos resultados.
"Finalmente eles tinham concordado em se divorciar no final do ano passado. Meu pai me pegou, e nós vivemos aqui. Pelo menos, foi isso... mas toda a dívida está no nome do meu pai, então ele está trabalhando dia e noite para pagá-la, e quase nunca fica em casa. Praticamente, moro sozinha aqui. Com toda liberdade que isso implica."
Parecia ótimo.
"Nos registros escolares, ainda está o endereço antigo. Nem Hanekawa-san sabe."
Hmm...
Você não vai mudar isso?
"Eu prefiro que inimigos com potencial não soubessem onde vivo."
"Todo mundo é um inimigo, hunh?"
Normalmente, isso soaria como um exagero. Mas como era um segredo que ela estava desesperada em proteger, poderia muito bem ter mantido com certo nível de cautela.
"Senjougahara, quando sua mãe entrou para o culto?... ela estava tentando te ajudar?"
"Que pergunta horrível", ela riu."Não sei. Talvez não."
Uma terrível resposta.
Provavelmente isso que recebo por perguntar.
Foi uma pergunta terrível. Esse pensamento só fez meu estômago revirar. Não deveria ter perguntado, e por causa de ter perguntado, Senjougahara estava absolutamente certa explorar todo o potencial de sua língua.
Claro que sua família teria notado que sua filha já não pesava nada. Especialmente sua mãe. Família não é como a escola, onde cada um de nós tinha seu espaço ao redor das mesas de trabalho. Se algo de ruim acontecesse a sua única filha, iria perceber imediatamente. E quando os médicos não tinham ideia de como ajudar, os testes continuavam a seguir e ninguém poderia culpar sua mãe por procurar ajuda em outro lugar.
Não, quem sabe pudéssemos culpá-la.
Não era lugar para se dizer.
Não deveria falar o que não tinha entendido.
De qualquer forma.
De qualquer forma. estava na casa da Senjougahara. Tamikura-sou quarto 201, sentado sobre uma almofada e olhando para o vapor de chá que ela tinha me dado.
Dada a sua personalidade, pensei que ela iria me fazer esperar pelo lado de fora, mas convidou para entrar e ainda me fez chá. Foi um tremendo choque.
"Estou indo torturá-lo."
"Hmm..."
"Eu quis recebê-lo."
"Certo..."
"Não, talvez eu quisesse te torturar."
"Eu preferia um bem-vindo! Nenhuma outra opção seria aceitável! Nem todos podem corrigir seus erros! Bem feito, Senjougahara-san!"
E isso que tinha realmente para conversar. Acabei apenas sentado ali, nervoso. Realmente não poderia dizer que me senti estranho estar numa casa de um garota que acabei de conhecer. Tudo que eu podia fazer era olhar para o meu chá.
Senjouhagara estava tomando banho.
Limpando seu corpo, purificando-se.
Oshino tinha dito para lavar seu corpo em água fria e, em seguida, trocar de roupa - que não precisa ser nova nem nada, apenas limpa.
E eu havia a acompanhado na volta. Ela andou com a minha bicicleta da escola até o Oshino, então tinha algo a fazer, então Oshino deu mais algumas instruções.
Olhei em volta da sala. Estava realmente vazia - era difícil acreditar que uma adolescente vivia aqui. Me escorei contra a cômoda que estava atrás de mim.
Refletindo sobre o diagnóstico do Oshino.
Quando Senjougahara terminou de me contar sobre sua condição, Oshino acenou a cabeça, olhou para o teto por algum tempo, e finalmente disse: "Um Caranguejo Peso."
"O que é isso?" Pressionando Senjougahara.
"Uma lenda popular das montanhas de Kyushu. Em alguns lugares o chamam de 'Caranguejo peso', em outros 'caranguejo pesado' ou 'caranguejo porte bruto', alguns lugares o chamam até de 'Deus'. Afinal, 'Kami' e 'Kani'(3) não soam tão diferentes no final. Os detalhes variam, mas a única coisa que eles têm em comum é que eles tiram o peso das pessoas. As pessoas que os encontram - as que encontram em caminhos errados - é como se deixassem de existir da mesma forma de antes."
"Isso muda a maneira que você existe?"
Você se tornou frágil.
Delicada.
E mais bonita.
"Em alguns casos, as pessoas deixam de existir. Se for mais ao norte, existe algo chamado 'Rocha de Peso', mas não pense que estão relacionados. Um é uma rocha e um é um caranguejo."
"Então... realmente é um caranguejo?"
"Você é burro, Araragi-kun", Oshino parecia completamente revoltado comigo."Estamos falando da Prefeitura Miyazaki... talvez Oita também. Eles nem têm caranguejos lá. É apenas uma história. E as coisas que eles não se deparam são mais fáceis de fazer merda. Como também é fácil trabalhar sob delírios e fofocas.
"São caranguejos, o mesmos dos japoneses?"
"Você deve ter comido o tipo americano. Mas você devia ter lido sobre as velhas histórias japonesas, Araragi-kun. Você nunca ouviu falar do 'O Caranguejo e o Macaco?' A Rússia tem uma famosa história sobre um caranguejo, a China também possuí algumas. Japão não é um exceção."
"Ah, sim. Já ouvi essa história. Ou devo ter ouvido falar dele. Mas... por que Miyazaki?"
"Quem que foi atacado por uma vampira em uma tranquila cidade? O lugar realmente não importa. Apenas as condições que nasceram de lá."
Embora Oshino admitiu o clima do local que tinha desempenhado um fator.
"Não tem que ser um caranguejo realmente. Poderia ter sido um coelho. Algumas histórias também tem uma linda mulher - não como a Shinobu-chan ou alguma coisa, mas existem histórias.
"Hunh... como os padrões da lua."
Estávamos chamando de Shinobu-chan já?
De repente, senti pena dela.
Uma vez que uma lendária vampira...
Esta sendo direcionada com o sufixo -chan(4).
"Mas se você diz que se encontrou com um caranguejo, vamos supor então que seja um caranguejo. Do tipo mais comum, depois de tudo."
"Mas o que é isso?" Resmungou Senjougahara. "Não dou a mínima para como se é chamado."
"Você diz isso, mas o nome é tudo. Como eu tinha dito Araragi-kun, eles não têm caranguejos nas montanhas de Kyushu. Eles têm alguns no Norte, mas muitos deles não foram pelo caminho de Kyushu."
"Têm os de água doce."
"Talvez tenha, mas não vem ao caso."
"Então, qual é o ponto?"
"Eles não costumavam ser caranguejos, e sim Deuses - kami, não kani. O Deus do Peso evoluiu para um caranguejo. Digo, isso é minha teoria. Muitas pessoas dizem ter sido de outra forma. Ou pelo menos, insistem dizer que eram ambos desde o princípio."
"De qualquer maneira, nunca ouvi falar deles."
"Claro que ouviu", disse Oshino. "Você conheceu um."
Isso a fez ficar quieta.
"E ele ainda está com você."
"Você pode...ver isso?"
"Eu não posso ver nada", disse Oshino, rindo alegremente. Uma risada inapropriadamente agradável, que fez Senjougahara tomar o caminho errado.
Isso teve um efeito semelhante em mim.
Ele estava zombando dela, com certeza.
"Não é esse o seu trabalho?"
"É mesmo? O problema de todas as 'aparições'(5) é que ninguém pode vê-las, não podem tocá-los. Isso é normal."
"Normal. Mas..."
"Os fantasmas não tem pernas, os vampiros não possuem reflexos, mas esse não é ponto, certo? Coisas como essas não podem ser pegas. Me diga isso, mocinha - Se ninguém pode vê-los e ninguém pode tocá-los... como eles existem?"
"Eles fazem... você apenas disse o que eles fazem!"
"Falei. Mas ninguém pode vê-los e ninguém pode tocá-los, então cientificamente falando, eles não existem. Não importa se são reais ou não."
Era esse o seu ponto.
Senjougahara não parecia satisfeita.
Foi uma boa lógica, mas não era algo que ela poderia aceitar.
Não na sua posição.
"Bem, mocinha, você pode até ter azar, mas você está do lado da sorte do azar. Araragi-kun apenas não cumpria o seu dever aqui; ele tinha sido atacado. E atacado por uma vampira. Existe algo mais constrangedor para um homem moderno?"
Retire.
Retire isso agora.
"Você é muito melhor que ele."
"Por quê?"
"Por que os deuses estão por toda parte. Eles estão em todos os lugares e ao mesmo tempo em nenhum. Estava com você antes de sua condição atual... mas pode se dizer que também não estava."
"Isso é uma espécie de zen(6)?"
"Shinto. Shugendo(7), especificamente", disse Oshino."Você precisa entender, mocinha. Você não acabou assim por causa de alguma coisa. Você apenas mudou seu ponto de vista."
Ela sempre foi assim.
Era exatamente como os médicos diziam, como quem joga a toalha.
"Meu ponto de vista? O que está tentando dizer?"
"Eu estou dizendo mocinha, que precisa parar de agir como uma vitima," criticou Oshino, como um súbito calor por trás de suas palavras.
Comigo tinha sido o mesmo.
Assim como Hanekawa também.
Eu estava preocupado como Senjougahara iria reagir, mas ela não disse uma palavra sequer.
Ela apenas aceitou.
Isso pareceu que a pressionou um pouco. "Bem feito. Acho que você não é apenas uma mocinha egoísta, afinal."
"O que o fez pensar que eu era?"
"A maioria das pessoas que se deparam com o Caranguejo Peso são assim. Não é o tipo de coisa que pode conhecer apenas querendo, e não é um tipo de Deus prejudicial. Não é como vampiros."
"Não ferem?"
"Eles não ferem... portanto eles não atacam?
"Eles não possuem você. Eles apenas existem. A menos que você queria uma mudança, eles não vão mudar. Agora, não estou querendo me intrometer na vida das pessoas. Eu não quero salvá-la, depois de tudo."
Ela teria que salvar a si mesma.
Como Oshino tinha dito.
"Me interrompa caso já tenha ouvido isso. É uma velha história do exterior. Era uma vez, um jovem homem. Ele era um bom homem. Um dia, esse jovem encontrou um estranho velho na aldeia. O velho então perguntou ao jovem se ele queria vender a sua sombra."
"Sua sombra?"
"Sim. A sombra que surgia a partir de suas pernas quando sol brilhava sobre ele. A vendo por dez moedas. O jovem o fez sem pensar por um segundo. Vendeu sua sombra por dez moedas."
"...por isso?"
"O que você teria feito?"
"Não sei. Não saberia dizer o que iria acontecer comigo. Talvez venderia, talvez não. Dependeria do preço."
"Está era a resposta certa. Se eu lhe perguntasse o que era mais importante, o dinheiro ou sua vida, bem... essa pergunta tem algo errado para começar. 'Dinheiro' não quer dizer nada. Há uma grande diferença entre um iene e um trilhão. Uma coisa vale mais do que a outra. A vida significa mais para algumas pessoas do que para outras. Toda vida é igual? Eu nego essa ideia. Enfim, esse jovem não acreditava que sua sombra valia mais do que dez moedas. Por que ele o fez? O que ele iria perder caso não tivesse sua sombra? Que problemas isso iria lhe causar?"
Oshino estremeceu.
"Uma vez que ele tinha perdido sua sombra, todos na cidade, incluindo sua família, o odiavam. Ele não poderia se dar bem com ninguém. Não tendo uma sombra... era assustador. Claro que era. Muito assustador. Sombras em si podem ser bastante assustadoras, mas não ter uma sombra é ainda mais. A ausência de algo que você deveria ter. Em outras palavras, o jovem tinha vendido algo que ele deveria ter... por apenas dez moedas."
Ele deixou de falar por um breve momento.
"O rapaz foi a procura do velho, para conseguir sua sombra de volta. Mas não importa onde tivesse ido, o quanto ele tivesse pedido, ele nunca conseguir encontrar o velho. Fim."
"Então", disse Senjougahara sem piscar o olho."E dai?"
"Bem, realmente nada. Apenas pensei que poderia ser história que tocaria você. O jovem pode ter vendido sua sombra, mas você perdeu o seu peso."
"Eu não vendi meu peso."
"Não, você não vendeu. Você o trocou. Perder o seu peso pode não ser grande problema como perder sua sombra... mas causa muitos problemas, socialmente. Apenas isso."
"O que você quer dizer?"
"Quer dizer que terminei de falar", disse ele e bateu as palmas uma vez."Certo, se você gostaria de obter seu peso de volta, então irei fazer o que posso. Araragi-kun a trouxe aqui, depois de tudo."
"Você irá me ajudar?"
"Eu não vou. Apenas verei o que posso fazer", disse Oshino, olhando para o relógio em seu pulso esquerdo."O Sol não nasceu, para ir em casa. Lave seu corpo em água fria e coloque algumas roupas limpas. Tenho algumas preparações para o final. Se você é da turma do Araragi-kun, provavelmente é uma estudante muito séria, então vou perguntar a você... é capaz de sair à noite?"
"Sim. Se a ocasião exigir."
"Então, nos encontraremos novamente aqui, por volta da meia-noite."
"Tudo bem. Por roupas limpas, você diz...?"
"Não precisa ser novas. Algo diferente do uniforme. Afinal você o usa todos os dias."
"E quando lhe devo?"
"Hmm?"
"Não se faça de idiota. Você não está fazendo isso voluntariamente."
"Oh, hmm..." Oshino olhou para mim, como se estivesse me avaliando."Bem, se isso te faz sentir melhor, então, cem mil ienes."
"Cem mil", disse ela, como se tivesse confirmado.
"Se trabalhar em meio-período num restaurante por um ou dois meses, deve ganhar essa quantia facilmente. Parece justo."
"Um bom negócio, comparado ao meu."
"É mesmo? Eu cobrei da Representante de Classe-chan cem mil também."
"E você me cobrou cinco milhões."
"Bem, você era um vampiro."
"Não ponha a culpa nos vampiros! Quem se importa se eles estão na moda agora!"
"Você consegue me pagar?" Ele perguntou, ignorando meus gritos.
"É claro, disse ela. "Não importa o que tenho que fazer."
E depois...
Duas horas depois, em seu quarto.
Apartamento da Senjougahara.
Olhei ao redor novamente.
Cem mil ienes pode não se muito normal, mas ao julgar pelo estado do seu quarto, provavelmente era muito para Senjougahara.
Uma cômoda, uma mesa para chá, e uma pequena estante. Só isso. Para todos os livros que ela lia, tinha incrivelmente poucos em seu quarto. Ela deve conseguir a maior parte em lojas de livros usados ou nas bibliotecas.
Como uma estudante pobre.
Que, no caso, era a Senjougahara,
Ela disse que estava frequentando a escola com uma bolsa.
Oshino havia dito a Senjougahara que ela tinha mais sorte que eu, mas tenho minhas dúvidas.
Certamente, a vida dela não estava num mesmo tipo de perigo, e ela era um perigo a menos para as pessoas ao seu redor - algumas coisas se aproximam de vampiros nessas duas frentes. Eu perdi a conta de quantas vezes eu desejei morrer naquele instante, e isso é uma armadilha fácil de se cair novamente, mesmo agora.
Então, sim.
Senjougahara pode estar do lado da sorte do azar, Mas, à luz de que Hanekawa havia dito da vida dela no ginásio, está mais difícil de ver agora.
Definitivamente não foi uma comparação justa.
Hanekawa... como comparar com Hanekawa Tsubasa?
Que tinha uma experiência incrivelmente estranha.
Eu fui atacado por um demônio, Senjougahara encontrou uma caranguejo e Hanekawa foi paralisada por um gato. Durante a Golden Week. O que aconteceu foi tão grande que parecia algo que foi há bastante tempo, Mas tinha acontecido apenas há alguns dias.
Embora Hanekawa não se tivesse mantido as memórias do que aconteceu durante a Golden Week, tudo o que ela sabia é que Oshino havia cuidado de tudo, então ela não tem a real noção do quão foi ruim tinha sido as coisas. Mas eu lembrava de tudo.
Foi uma tremenda confusão.
Depois de ter sobrevivido a um demônio, nunca pensei que um gato seria mais aterrorizante do que um demônio.
Novamente, tendo em vista o risco de vida e à integridade física, a experiência de Hanekawa era muito pior da que de Senjougahara. Mas à luz que Senjougahara havia mantido em silêncio há tanto tempo não eram coisas muitos simples.
Tudo importava.
Tudo valia a pena a considerar.
O quão grave tem que ser as coisas para considerar um ato de bondade de um inimigo?
O jovem que tinha vendido sua sombra.
A garota que perdeu seu peso.
Nunca poderia saber.
Nunca esperaria poder compreender.
"Terminei o meu banho", disse Senjougahara, saindo do banheiro.
Nua.
Eu gritei, encolhido.
"Se afaste. Não posso pegar minhas roupas."
Senjougahara apontou para cômoda atrás de mim. Ela parecia mais irritada pelo seu cabelo molhado do que preocupada de eu estar vendo ela.
"Coloque algumas roupas!"
"Eu pretendo."
"Você pretende?"
"Você prefere que eu não o faça?"
"Por que já não o fez?"
"Tinha esquecido de levar algo comigo."
"Então, use uma toalha para se cobrir ou algo do tipo."
"Ahh, isso seria triste."
Não sabia como ela poderia se tão acostumada com isso.
Era claro com o dia que não teria sentido em continuar discutindo, então sai do seu caminho e fiquei diante da prateleira, contando cuidadosamente os livros na minha frente. Tentando focar meu olhar em meus pensamentos.
Augh.
Nunca tinha visto uma mulher nua antes... não na vida real, de forma alguma.
Não era exatamente o que eu havia imaginado. Tinha muitas ideias de como seria, o que tinha imaginado não era isso... o nudismo aberto, essa franca indiferença.
"Roupas limpas... acha que branco fica melhor?"
"Não faço ideia."
"Todas as minhas roupas têm padrões."
"Não é da minha conta."
"Eu só estou pedindo conselhos. Não precisa gritar tão alto. Honestamente, parece que você está passado pela menopausa."
Ouvi a gaveta se abrindo.
O barulho das roupas.
Isso era mal.
Isso foi queimando meu cérebro. Não queria ir embora.
"Araragi-kun. Você não está excitado por eu estar nua, certo?"
"Se, hipoteticamente estivesse, não seria minha culpa."
"Vá em frente e ponha um dedo em mim. Ouço dizer que morder a língua é sempre fatal."
"Sim, sim, você é muito protetora de seu corpo."
"Eu estava pensando em morder a língua."
"Isso seria bastante aterrorizante."
Sheesh.
Ela parecia ser incapaz de ver a situação no meu ponto de vista.
É impossível que o ser humano compreenda um ao outro?
Foi está noção que deveria aprender a aceitar?
"Não se preocupe, pode olhar agora."
"Ok, certo."
Eu me virei.
Ela ainda estava com a roupa de baixo.
Nem mesmo estava usando meias.
"O que você está tentando fazer aqui?"
"O que você acha? Estou o recompensando pela sua ajuda de hoje. Seja feliz."
"..................."
Uma recompensa?
Desconcertante.
Eu prefiro um pedido de desculpas.
"Seja feliz!"
"Você está louca agora?"
"Essa é seu modo de expressar uma opinião."
"U-uma opinião?"
Modo?
Como devo responder?
Hmm...
"V-Você tem um grande corpo...?"
"...patético."
Ela me olhou de forma que olharia para um lixo podre.
Mas, como um pouco de pena.
"Você sempre vai ser um virgem."
"Eu sempre vou ser...? Você veio do futuro?"
"Tente não cuspir. Virgindade é contagiosa."
"Não é uma doença."
Uma vez perdida, nunca mais volta.
"Por falar nisso, por que simplesmente assumiu que eu era virgem?"
"Porque você é. Nenhuma criança jamais dormiu com você."
"Duas objeções! Primeiro, eu não sou pedófilo! Em segundo, eu definitivamente acho poderia encontrar alguma se eu procurasse o suficiente.
"O primeiro é verdadeiro, o segundo pode não ser."
"..............."
Ótimo ponto.
"Mas admito que foi presunçoso da minha parte."
"Fico feliz em ouvir isso."
"Se você já usou um profissional..."
"Ok, ok, eu admito! Eu sou virgem!"
A coisa mais humilhante que já tinha confessado.
Senjougahara parecia satisfeita.
"Você devia ter dito isso antes. Você usou metade da sua sorte que havia designado para o resto da vida, de modo que fique bem e fosse apreciada.
"Você na verdade é um shinigami(8)?"
Fazer um acordo com uma shinigami, ver uma garota nua.
A melhor vista de uma shinigami da história.
"Não se preocupe", disse ela. Enquanto falava, ela pegou uma camisa branca de sua cômoda, e colocou uma sutiã azul-claro. Parecia ridículo continuar a contar os livros da dua prateleira, então só fiquei olhando."Eu não vou contar para Hanekawa-san."
"Hanekawa..."
"Você tem uma paixão unilateral por ela, certo?"
"Não é verdade."
"Oh? Você fala tantas vezes que simplesmente assumi isso. Daí a pergunta."
"Quem usa as principais perguntas na vida real?"
"Silêncio, Você deseja ser erradicado?"
"Quanto de poder você possuí?"
Estava um pouco surpreendido por escutar que Senjougahara tinha uma certa atenção para resto de nós. Eu realmente me perguntei se ela ainda sabia que eu era assistente da representante de classe. Ou talvez ela tivesse acabado de assumir que um dia seriam seus inimigos e apenas nos observava;
"Apenas falamos mais dela do que falamos de mim."
"Quem você pensa que é? Você está tentando dizer que a Hanekawa-san tem uma queda por você?"
"Isso não absolutamente verdade", eu disse. Hanekawa está apenas... cuidando de mim. Ela realmente é uma intrometida. Super-protetora. Ela tem essa divertida ideia de valer a pena sentir pena de perdedores. E ela quer ajudar a corrigi-los."
"Essa é uma ideia divertida", disse Senjougahara. "Perdedores são perdedores porque eles nascem estúpidos."
"...Eu não diria isso."
"Mas está escrito no seu rosto."
"Não está não."
"Eu pensei que iria dizer isso, então eu escrevi há um momento atrás."
"Ninguém está tão preparado."
Francamente.
Não precisava dizer tanto aqui. Senjougahara deve entender a Hanekawa, assim como eu. Ao julgar pelo o que ela havia dito depois da escola, Hanekawa estava prestando mais do que um pouco de atenção a Senjougahara.
Mas talvez isso explique tudo.
"Oshino-san ajudou a Hanekawa também?"
"Hmm. Sim."
Senjougahara havia terminado de abotoar a camisa e começões a vestir um casaco branco por cima. Aparentemente, ela havia planejado vestir totalmente a parte superior de seu corpo antes de por qualquer outra coisa na metade inferior. Suponho que cada um tenha maneiras diferentes de se vestir. Senjougahara não parecia absolutamente preocupada por eu estar vendo. Na verdade, ela parecia ter deliberadamente se colocado na minha frente.
"Hmm."
"Então... quero dizer, você pode confiar nele. Ele não não é o cara mais sério do mundo; alegre e arrogante é o que ele têm. mas ele sabe o que faz. Você não tem que tomar a minha palavra para ele. Ele fez o mesmo para a Hanekawa."
"Então diga você, Araragi-kun", disse Senjougahara. "Mas tenho medo que apenas metade de mim possa confiar nele. Fui enganada muitas vezes."
".............."
Cinco pessoas haviam dito a mesma coisa.
Eles tinham sido mentirosos.
E...
Isso não parecia ser o fim de tudo.
"Mesmo no hospital - Eu apenas saí da inércia. Honestamente, havia praticamente desistido."
"Desistido...?"
Do que ela tinha desistido?
O que ela tinha deixado de lado?
"Esse mundo pode ser bizarro. mas não existem nem Mugen Mamiya ou Kudan Kumiko(9)."
"................"
"O melhor que posso gerenciar é Touge Miroku", disse Senjougahara, com uma voz de desgosto." Então Araragi-kun, não estou preocupada o suficiente para aceitar alegremente pelo fato de ter deslizado na escada e pelo fato de você ter me pegado e pelo fato de você ter sido mordido por um vampiro durante as férias de primavera e pelo fato de você ter ajudado a representante de classe e pelo fato de você estar tentando me ajudar."
E com isso, Senjougahara começou a tirar o seu casaco.
"Finalmente você tinha colocado uma roupa - por que a tirou novamente?"
"Eu esqueci de secar o meu cabelo."
"Você realmente é um pouco idiota?"
"Não seja rude. Quer ferir meus sentimentos?"
Seu secador parecia caro.
Aparentemente, ela havia se esforçado pela sua aparência.
A olhando novamente, até a calcinha tinha sido cuidadosamente escolhida. Era estranho que, no dia anterior, isso iria ocupar uma parte importante de meus pensamento e agora parecia um pouco mais do que alguns pedaços de pano. Eu derramei uma lágrima silenciosa dentro de mim.
"Despreocupada...?"
"Eu não sou assim."
"Talvez. Mas e se você fosse?" Eu disse. "E se você fosse despreocupada?"
".............."
"Não é uma coisa ruim de ser. Você não tem nada a esconder, afinal de contas. Basta ter certeza, como você tem agora."
"Como eu tenho agora?" disse Senjougahara, perplexa.
Aparentemente, ela não tinha ideia de o quanto foi incrível seu desempenho aqui.
"Não é uma coisa ruim...?"
"É mesmo?"
"Suponho que não", disse ela. Em seguida: "Mas eu poderia estar escondendo alguma coisa."
"Hmm?"
"Não é nada."
Com o cabelo seco, finalmente ela colocou o secador para baixo, e começou a colocar as roupas novamente. Desde que ela tinha colocado sua roupa em cima do cabelo molhado, sua primeira roupa estava molhada, então ela tirou a camisa e colocou no cabide e pegou uma outra da cômoda.
"Na minha próxima vida", disse Senjougahara. "Eu quero ser o Sargento Major Kululu(10)."
"................"
Isso não parecia ter nenhum sentido, mas ele fez um certo tipo de sentido.
"Eu sei o que você quer dizer. Isso parecia não ter sentido, e não vejo por que eu faria."
"Hmm, apenas metade está certo."
"Pensei assim."
"Quero dizer, pelo menos, você poderia ter dito Cabo Dororo(11)."
"Seu modo de trauma atingiria um pouco perto de casa."
"Ok, mas..."
"Sem mas. Ignorante."
"Ignorante?"
Não conseguia entender o que ela estava dizendo.
Havia perdido real noção do ponto importante.
Provavelmente ela havia entendido, e imediatamente mudou o assunto.
"Posso te perguntar uma coisa, Araragi-kun? Nada demais."
"Ok."
"O que você quis dizer com 'os padrões da lua'?"
"Hunh? Quando eu disse isso?"
"Antes. Para Oshino-san."
"Hmm."
Oh.
Agora me lembrei.
"Certo, Oshino estava falando sobre ele ser um caranguejo, ou um coelho ou uma bela mulher -. No Japão, as pessoas geralmente se referem a um coelho como um Mochi(12), mas em outros países como um caranguejo ou o rosto de uma mulher num perfil e assim por diante."
Eu nunca tinha visto isso em pessoa, mas assim que eu ouvi, Senjougahara parecia nunca ter ouvido essa informação antes.
"Estou impressionada que você se preocupou em segurar tais informações inúteis. Pela primeira vez, você realmente conseguiu me impressionar."
Com informações inúteis.
Uma espécie de elogio indireto.
Decidi mostrar.
"Eu sei bastante sobre astronomia e o espaço. Estive bastante interessado por um tempo."
"Não se preocupe em se gabar para mim. Vejo através dela. Não é como se soubesse de outra coisa."
"As palavras podem machucar, sabia."
"Então chame a polícia de palavras."
"..........."
Mesmo os policiais reais não seriam páreo para ela.
"Eu sei de outras coisas! Como por exemplo, você sabe por que há um coelho na lua?"
"Não existe nenhum coelho na lua, Araragi-kun. Você está na escola agora, deveria saber essas coisas."
"Digamos que existam."
Espere, isso está certo?
Dizer que existem?
Estou confundido.
"Era uma vez, havia um Deus, ou um Buda talvez... tanto faz a diferença. E por esse Deus, um coelho se jogou no fogo, queimando até a morte - sacrificando-se para o Deus. Este Deus ficou tocado por esse ato de auto-sacrifício e colocou o coelho na Lua para nunca esquecê-lo."
Tinha visto esta história na televisão quando era criança, e não me lembro muito bem, não era exatamente igual aquela, mas a essência em si era.
"Wow, esse Deus é um idiota. Ele zombou do pobre coelho."
"Não era realmente esse o ponto."
"E o coelho também - Dava para ver totalmente que o coelho queria ficar ao lado de Deus, mediante a seu sacrifício. Se aproveitando da pequena merda."
"Realmente, não era sobre isso."
"Bem, certamente eu não posso compreendê-lo", ela retrucou e começou a tirar a roupa novamente.
"Ok, realmente você está apenas exibindo seu corpo para mim, não é?"
"Eu não tenho um corpo que vale a pena. Era apenas de dentro para fora e para trás."
"Isso é um grande feito."
"Eu admito que não sou boa em se vestir."
"Você é como uma criança."
"Não. Elas são pesadas."
"Eh."
Eu escapei disso.
Se os sapatos eram pesados, imagina suas roupas.
Menos de dez vezes o seu peso normal, as roupas não podiam ser levadas para brincadeiras.
Eu estava envergonhado.
Tinha sido um comentário descuidado, completamente desprovido de tato.
"Eu cansada disso, por não estar acostumada. Você é mais culto do que eu esperava, Araragi-kun. Me permita expressar uma suave surpresa. Possa ser que realmente você tenha um cérebro dentro de seu crânio."
"Claro que tem."
"Claro...? Um cérebro formar dentro de um crânio como o seu é um milagre."
"Agora você está apenas sendo má."
"Não se preocupe, só estou dizendo a verdade."
"Pelo menos uma pessoa pessoa dessa sala merece realmente morrer."
"Hoshina-sensei não está aqui."
"Você acabou de desejar a morte de nosso querido professor de sala de aula?"
"É o mesmo com o caranguejo?"
"Hunh?"
"Será que um caranguejo se jogaria no fogo como o coelho?"
"Oh, hmm, não sei a história do caranguejo. Deve haver um em algum lugar. Nunca pensei sobre isso. Por que a lua tem mar?"
"A lua não tem mar. E você parecia tão certo que parecia estar dizendo algo inteligente."
"Eh? Não tem? Mas eles --"
"Seu conhecimento de astronomia me surpreende. Eles são apenas mares no nome."
"Oh."
Hmm.
Eu não poderia competir com pessoas inteligentes.
"E assim sua verdadeira identidade foi revelada, Araragi=kun. Fui descuidada de minha parte esperar algo mais ignorante de você."
"Você realmente acha que sou um idiota, não é?"
"Como você sabia!?"
"Você parece realmente surpresa!"
Ela pensou que tinha escondido isso?
Sério?
"É tudo minha culpa. Por minha causa, eu fiz uma confusão na sua pequena cabeça. Me sinto responsável."
"Espere um minuto. Você disse que sou extremamente burro?"
"Não tenha medo. Não julgo as pessoas pelas suas qualidades."
"Você acabou de julgar as minhas!"
"Tente não cuspir. Más notas são contagiosas."
"Olha, nós vamos a mesma escola."
"Nós dois iremos nos graduar?"
"Eh..."
Isso era uma dúvida.
"Eu vou passar na universidade. E você irá abandonar a escola."
"Eu estou no terceiro ano! Eu só tenho que terminá-lo!"
"No entanto, em breve você estará me implorando para deixá-lo sair, e lágrimas irão escorrer pelo seu rosto."
"Nunca ouvi ninguém falar desse jeito além de um mangá!"
"Compare nossas notas padrões. A minha é setenta e quatro.
"Argh."
Ela já ganhou.
"Apenas quarenta e seis."
"Isso arredondando para zero."
"O quê? Não, não, isso é um seis... espera, você está arredondando no local da dezena. O que você tem contra a minha nota padrão!?"
Ela já havia me batido por quase trinta anos, mas ela teve que bater no cadáver!
"Eu não sinto que ganhei a menos que a margem seja, de pelo menos, cem."
"Você está arredondando suas próprias dezenas de lugar também?"
Implacável.
"Bom, por favor, a partir de agora, mantenha pelo menos vinte mil quilômetros de distancia de mim em todos os momentos."
"Estou sendo banido da Terra?"
"Você sabia que Deus se preocupou em comer o coelho?"
"Hunh? Oh, de volta à história. Será que ele o comeu? Se a história terminar assim, seria muito terrível."
"E ele foi."
"Não sei. Eu sou estúpido, lembra?"
"Não fique de mau humor. Você pode me fazer menos feliz."
"Você não tem piedade em tudo, não é?"
"Pena que não irá trazer a paz a esse mundo."
"Se você pode salvar uma única alma, não comece de forma global! Estenda sua mão para ajudar aqueles a sua frente! Tenho certeza de que você poder fazer isso!"
"Ok, tudo pronto."
Senjougahara agora usava uma camisa branca, uma jaqueta branca e uma saia clara branca.
"Se isso tudo correr bem, uma viagem para Hokkaido para comer um caranguejo está em ordem."
"Nós podemos comer caranguejo sem precisar ir a Hokkaido, e de qualquer maneira, está fora da época, mas se você quiser ir, vá em frente."
"Você irá junto também."
"Por quê!?"
"Você não sabe?" Senjougahara sorriu. "O caranguejo é delicioso."1 - -sou. Sufixo usado para referir a uma residência ou edifício.
2 - Iene. moeda japonesa, hoje equivalente a 0,02 reais.
3 - Kami e Kani. significam, respectivamente, Deus e Caranguejo.
4 - -chan. Sufixo usado para deixar algo no diminutivo. No Japão, só se pode usar esse sufixo (no caso, em pessoas) quando essa for mais velha, ou se a quem for dirigida com -chan lhe permitir o uso.
5 - Chimi-moryo, no original.
6 - Zen. tradição religiosa japonesa, surgido na China. Utilizado para acalmar a alma.
7 - Shugendo. Forma de budismo originada do Japão, formado de diversas tradições religiosas japonesas, dentre uma delas o Xintoismo (Shinto).
8 - Shinigami. Deus da morte.
9 - Mugen Mamiya/Kudan Kumiko. Ambos são jogos.
10 - Sergento Major Kululu. Personagem do Mangá: Sargento Keroro.
11 - Cabo Dororo. Também personagem do mangá: Sargento Keroro.
12 - Mochi. É um bolinho de arroz glutinoso moído em pasta e depois moldado.
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Bakemonogatari: Volume 1
FantasyLight Novel que inspirou o anime Monogatari Series. Crédito total para à página https://www.baka-tsuki.org/project/index.php?title=Monogatari_%7EBrazilian_Portuguese%7E