"Oh, Aryaryagi-san."
"É Araragi."
"Desculpe, mordi minha língua."
Enquanto voltava da escola numa sexta-feira, avistei uma pequena garotinha de marias-chiquinhas carregando uma mochila, de nome Hachikuji Mayoi, adiante de mim enquanto eu pedalava a minha bicicleta por um declive. Eu freei e a chamei enquanto parava ao lado esquerdo dela. Hachikuji piscou e pareceu surpresa antes de pronunciar o meu nome errado como sempre.
Eu fiquei um pouco impressionado que ela ainda estava vindo com novas maneiras de se dizer o meu nome errado, então eu educadamente a corrigi.
"Não diga o nome das pessoas como se você fosse Ukkari Hachibei."
"Eu acho fofo."
"Isso me faz parecer absurdamente incompetente."
"Hmm. Bem, isso é surpreendentemente adequado."
Aquela estudante do quinto ano tinha uma maneira de dizer coisas horríveis sem nem pensar.
"Araragi-san, fico feliz que você pareça estar bem. Fico feliz por ser capaz de me encontrar com você novamente assim. Algo aconteceu desde então?"
"Hm? Ah, na verdade não. Esse tipo de coisa não acontece tão frequentemente. Tive uma vida bacana e pacífica. As coisas têm estado bastante calmas. Embora a gente tenha uma prova vindo por aí, então nem tudo tá tão pacífico ou calmo."
Quase duas semanas atrás, dia 14 de maio, também conhecido como o Dia das Mães, eu tinha conhecido Hachikuji Mayoi num certo parque, o que me levou a se envolver numa espécie de incidente. Nada de substância o suficiente para realmente ser chamado de incidente pode ter acontecido e nada abstrato digno de nota tinha acontecido, mas eu tive uma experiência incomum e tanto.
Por incomum, simplesmente quero dizer incomum.
Graças à ajuda daquele homem desagradável do Oshino e da Senjougahara, vi o problema ser resolvido sem mais complicações. Contudo, se eu visse os eventos de 14 de maio como inevitáveis em vez de algo que aconteceu por acaso, então essas calmas e pacíficas duas semanas seguintes em que nada aconteceu também pareciam ter sido inevitáveis em vez de acontecerem por acaso.
Pelo que eu podia ver, Hachikuji estava bem também. Isso significava que os eventos daquele Dia das Mães tinham sido resolvidos sem deixar nenhuma ponta solta. Para experiências tão incomuns, na verdade aquilo era bem raro. Para a Hanekawa, Senjougahara ou eu, lidar com as consequências da experiência incomum era bem mais duro que a experiência em si. Você poderia até mesmo chamar de cruel.
Hachikuji Mayoi.
Nesse sentido, eu estava com um pouco de inveja dela.
"Oh, o que parece ser o problema, Araragi-san? Por que você estava me olhando com olhos tão apaixonados? Isso é tão indecente."
"... Como os meus olhos são apaixonados?"
E eles são indecentes?Esse não é o tipo de paixão que eu quero.
"Se você me olhar assim, ficarei com soluços."
"Você tem um diafragma esquisito."
Isso me surpreendeu.
Se você pensasse pelo que Hachikuji tinha passado, não era algo do qual eu devesse sentir inveja. Se você olhasse para isso de certa maneira, a Hachikuji pode ter passado por mais dificuldades do que Hanekawa, Senjougahara ou eu. Tenho certeza de que muitas pessoas sentiriam que seria essa a maneira adequada de se olhar para isso.
Enquanto eu pensava nisso, duas estudantes do ensino médio passaram pelo lado esquerdo da minha bicicleta. As duas eram garotas. Elas vestiam uniformes de uma escola do ensino médio diferente do meu. Elas claramente estavam olhando para Hachikuji e eu suspeitosamente. As vozes sussurradas que ouvi enquanto elas passavam deixaram um sentimento desagradável em mim. Aparentemente, a vista do estudante do terceiro ano do ensino médio, Araragi Koyomi, falando com uma estudante do quinto ano da escola primária, Hachikuji Mayoi, parecia muito estranha para pessoas com gostos normais.
Mas eu não ligava.
O olhar frio do mundo não significava nada para mim.
Eu não tinha chamado a Hachikuji de forma impensada, e nós éramos os únicos que precisavam saber da verdade. A amizade que tínhamos construído não seria abalada por tal preconceito.
"Oh, céus. Parece que aquelas garotas perceberem que você é um lolicon, Araragi-san. Elas descobriram o seu verdadeiro desejo."
"Eu não quero ouvir isso de você!"
"Não precisa se envergonhar. Não há nenhuma lei contra gostar de garotinhas. As pessoas são livres para ter quaisquer gostos que elas desejem ter. Contanto que você não realize de verdade nenhum de seus desejos anormais, não há nenhum problema."
"Mesmo que eu gostasse de garotinhas, eu te odiaria!"
Parecia que nós não tínhamos desenvolvido nenhuma amizade.
Todos ao meu redor eram assim.
Eu olhei por cima do meu ombro.
Não vi mais ninguém lá.
Por enquanto, pelo menos.
"Sério... Tudo que você diz e faz faz parecer que você tem um grande compromisso. De todo jeito, Hachikuji, o que você tá fazendo vagando por aqui? Você tava tentando chegar a algum lugar e se perdeu de novo?"
"Essa é uma coisa muito rude de você dizer, Araragi-san. Desde que nasci, eu nunca me perdi nenhuma vez."
"Você tem uma memória bastante maravilhosa."
"Para, você vai me fazer corar."
"Sim, seria realmente maravilhoso se esquecer de tudo que você achasse ser desfavorável."
"Não, não. A propósito, quem é você?"
"Você se esqueceu de mim?!"
Essa foi uma resposta maneira.
Ela tinha bom gosto.
"Digo, mesmo que eu saiba que é uma piada, alguém se esquecer de você é razoavelmente depressivo, Hachikuji."
"Não se pode evitar. Eu me esqueço de tudo que eu acho desinteligente."
"Não sou estúpido o suficiente para que você tenha qualquer direito de dizer qualquer coisa sobre isso! E eu disse desfavorável, não desinteligente!"
"Não se pode evitar. Eu me esqueço de tudo que eu acho desfavorável."
"Sim, sim. Você entendeu agora... espera! Não, não entendeu! Não chame a mera existência de outras pessoas de desfavorável!"
"Foi você quem disse isso."
"Quieta. Não tente transformar isso em algo que é culpa minha."
"Você com certeza é egoísta, Araragi-san. Mas tudo bem. Serei mais cuidadosa quanto ao que direi no futuro. Por enquanto..."
"Por enquanto?"
"Em vez disso, direi que você é anti-favorável."
"......"
Era uma conversa agradável.
Na verdade, eu tinha um pequeno problema com o fato de que eu, o estudante do terceiro ano do ensino médio chamado de Araragi Koyomi, estava falando no mesmo nível que uma estudante da quinta série. Contudo, não parecia ser muito diferente de conversar com as minhas irmãs do ensino fundamental. E se você não se preocupasse muito com a diferença entre o ensino do primário e do fundamental, as minhas conversas com a Hachikuji progrediam muito mais facilmente do que aquelas com as minhas irmãs.
Com um suspiro, saí da minha bicicleta.
Eu então caminhei junto da bicicleta, puxando-a pelo guidão.
Falar com a Hachikuji era agradável, mas se nós apenas ficássemos andando por aí enquanto fazíamos piadas, isso poderia arruinar meus planos posteriores. Não era como se eu estivesse com pressa, mas ainda senti que era melhor continuar andando enquanto falava com a Hachikuji. Hachikuji não parecia estar vagando por aí porque ela tinha um destino definido, então ela caminhou ao lado da minha bicicleta sem eu precisar dizer algo ou instá-la pelo caminho. Ela realmente não tinha muito que fazer.
Havia outro motivo pelo qual permaneci em movimento, mas outra olhada por cima do meu ombro colocou essa preocupação em repouso por enquanto.
"Para onde você está indo, Araragi-san?"
"Pra casa, por agora."
"Por agora? Você vai sair de novo mais tarde?"
"Mais ou menos. Se você se recorda, mencionei que tinha uma prova chegando."
"Sim, ele vai testar a sua habilidade e, portanto, o seu valor, certo?"
"Isso é levar isso longe demais. O propósito da prova é de meramente ver se posso me graduar ou não."
"Entendo. Então é de ver se você falhará em graduar ou não."
"......"
Isso significava a mesma coisa, mas a nuance era um pouco diferente.
Japonês era uma língua traiçoeira.
"Afinal de contas, sua inteligência é anti-favorável, Araragi-san."
"Agora eu preferiria que você simplesmente me chamasse de desinteligente."
"Mesmo se fosse verdade, há algumas coisas que você pode dizer e outras coisas que não precisam ser ditas."
"Então não tem nada que você possa dizer?!"
"Não se preocupe, Araragi-san. As minhas notas também não estão boas, então nós realmente somos iguais."
"......"
Uma garota estudante do primário estava me consolando.
Eu era igual a uma garota estudante do primário.
Eu também podia sentir a enganação casual de Hachikuji Mayoi no fato de que ela mudou "desinteligente" para "notas ruins" quando se referindo a si mesma.
"Sinceramente, esse é um problema bem grave. Se eu me sair mal nessa prova, eu poderia ficar numa situação realmente ruim."
"Você seria expulso?"
"Pode ser uma escola preparatória para a faculdade, mas ela não é louca o suficiente pra expulsar as pessoas por se saírem mal em suas provas. Na verdade, uma escola assim ao menos existe? Isso parece uma piada ruim. De todo jeito, acho que o pior que poderia acontecer é ter que repetir o ano, mas eu ainda preferiria não ter que fazer isso."
Se eu pudesse evitar isso, evitaria.
Não, eu tinha que evitar isso a todo custo.
"Hm. Então, Araragi-san, esse não seria um bom motivo pra não sair hoje? Você não deveria ficar em casa e estudar?"
"Você diz umas coisas surpreendentemente sérias, Hachikuji."
"Araragi-san, eu preferiria que você não dissesse coisas tão sérias."
"Você ficou de boa comigo dizendo que era surpreendente?!"
Ela era uma animadora e tanto.
"Você não precisa se preocupar, no entanto. Na verdade, essa faz uma boa sequência, Hachikuji. É desnecessário dizer, mas eu não tô saindo pra me divertir ou pra ir ao shopping. Estou saindo pra estudar."
"Hm?" Hachikuji solenemente inclinou sua cabeça para o lado. "Então você está indo para a biblioteca ou para algum lugar para estudar? Hmm... Pessoalmente, sinto que estudar no conforto do seu próprio quarto é muito mais efetivo... Oh, Araragi-san, você está frequentando um cursinho?"
"Acho que é mais um cursinho do que uma biblioteca", falei. "Você se lembra da Senjougahara? As notas dela ficaram no topo da nossa classe no ano passado, e ela prometeu me ajudar a estudar na casa dela."
"Senjougahara-san..."
Hachikuji dobrou seus braços e olhou para baixo.
Ela não se esqueceu dela, esqueceu?
Se sim, era mais provável por conta de medo do que achá-la desfavorável.
"O nome completo dela é Senjougahara Hitagi. Ela era a garota de rabo-de-cavalo que tava comigo antes. Ela ajudou..."
"... Oh, aquela tsundere."
"......"
Bem, parecia que ela tinha se lembrado dela.
Parecia que aquela palavra de oito letras que começa com um T e termina com um E estava se tornando grandemente usada para descrever seu comportamento, mas eu não tinha tanta certeza de que isso era uma coisa boa. Eu decidi que precisava perguntar a ela sobre isso alguma hora. Como eu responderia a ela ser chamada assim mudaria dependendo da resposta dela.
"Ela era uma pessoa de mente maravilhosamente aberta. Ela me mostrou o caminho enquanto me carregava nos ombros por todo o caminho."
"Você tá embelezando as suas memórias?!"
Parecia que as memórias da Hachikuji de Senjougahara tinham sido um pouco traumáticas. Bem, dados ambos os problemas delas, isso não é tão surpreendente.
"Hmm", Hachikuji murmurou com seus braços ainda dobrados. "Mas, se me recordo, você e a Senjougahara-san estavam... como devo dizer... umm...."
Hachikuji parecia estar tentando escolher suas palavras cuidadosamente. Eu tinha uma boa ideia do que ela estava tentando dizer, mas a Hachikuji deveria estar hesitante em dizer isso diretamente, então ela estava procurando por uma maneira diferente de dizer isso. Pode não ter sido a ponto de curiosidade, mas eu fiquei um pouco interessado quanto a quantas opções o vocabulário de uma estudante da quinta série daria a ela, então eu meramente a observei sem oferecer nenhuma ajuda.
Finalmente, Hachikuji disse, "Vocês dois entraram em um contrato romântico, não entraram?"
"Essa é uma escolha horrível!"
Como esperado, acabei gritando com ela.
A troca tinha sido perfeita o suficiente para sair direto de um livro didático.
"Hã? Araragi-san, eu falei algo estranho?"
"Mesmo que nenhuma das palavras que você usou tenha sido estranha na superfície, acho que a maioria das pessoas detectaria um tom desagradável de significado à espreita debaixo da superfície."
"Se você não gosta do termo contrato, Araragi-san, que tal transação. Uma transação romântica."
"Isso é ainda pior! Só diga isso como uma pessoa normal!"
"Tudo bem, farei como você deseja e direi isso normalmente. Dizer as coisas normalmente é mamão com açúcar para mim. Aqui vai, Araragi-san. Você e a Senjougahara-san entraram em uma relação romântica."
"Acho que assim fica bem."
Uma relação romântica?
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Bakemonogatari: Volume 1
FantasyLight Novel que inspirou o anime Monogatari Series. Crédito total para à página https://www.baka-tsuki.org/project/index.php?title=Monogatari_%7EBrazilian_Portuguese%7E