Macaca Suruga 003

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"Eu tenho a sensação de que algo desagradável foi dito sobre mim", disse Senjougahara Hitagi, subitamente.
Realmente tinha sido súbito e sem contexto, então meu lápis parou de se mover pelo caderno no qual eu estava escrevendo.
Contudo, parecia que ela tinha falado isso para si mesma, porque Senjougahara logo mudou de assunto.
"A qualquer custo, ensinar alguém a estudar é bastante difícil", disse ela.
No final, Hachikuji tinha caminhado comigo até de volta para minha casa enquanto conversávamos sobre a Kanbaru e outras coisas. Foi aí que nós nos separamos. Hachikuji sempre estava vagando por aí em algum lugar, então eu tinha certeza de que me esbarraria com ela novamente mais cedo ou mais tarde. Deixei minha mochila, troquei de roupas, enchi uma bolsa de viagem com livros didáticos, cadernos e livros de referência, troquei para minha mountain bike e saí para a casa de Senjougahara. As minhas irmãs já tinham voltado para casa, então eu tinha esperado ser minuciosamente interrogado sobre para onde estava indo, mas eu tive sorte e consegui escapar despercebido.
Como eu tinha mencionado para Hachikuji, a casa de Senjougahara ficava a uma boa distância. Eu normalmente não iria de bicicleta por essa distância tão grande, mas pegar o ônibus acabaria aumentando a quantidade que teria de andar, então decidi que ir de bicicleta seria o meio mais rápido. Tive que tirar minhas próprias conclusões porque, mesmo que fosse minha segunda vez indo até a casa dela, era a primeira vez que eu estava indo direto para lá direto da minha casa.
Os Apartamentos Tamikura, um edifício de apartamentos de dois andares.
Apartamento 201.
Uma sala pequena e uma pia pequena.
Dois estudantes do ensino médio de tamanhos padrões sentaram-se de frente um ao outro com uma mesa de chá entre eles e ferramentas para estudo espalhadas à direita e à esquerda. Isso era tudo que se precisava para se preencher a sala. A família Senjougahara era somente um pai e uma filha, Senjougahara era uma filha única, e seu pai trabalhava até tarde da noite, então nós estávamos sozinhos, claro.
Araragi Koyomi estava sozinho com Senjougahara Hitagi.
Dois adolescentes saudáveis estavam sozinhos numa pequena sala.
Um garoto e uma garota.
E eles estavam namorando oficialmente.
Eles eram namorado e namorada.
E mesmo assim...
"... Por que eu tô estudando?"
"Hm? Por que você é um idiota, certo?"
"Você não tem que dizer isso assim!"
Ela estava certa, é claro.
Mas eu ainda desejava que algo acontecesse.
Nós tínhamos começado a namorar naquele dia de 14 de maio, no Dia das Mães em que eu tinha conhecido Hachikuji Mayoi, mas nada sequer levemente sexual tinha acontecido nas duas semanas desde então.
......
Espera, nós sequer fomos num encontro?

Pensando nisso, não fomos.

Nós nos encontramos de manhã na escola, nós conversamos entre as aulas, nós comemos lanches juntos, e nós caminhamos juntos após as aulas até que tivemos que nos separar para irmos para nossas respectivas casas. Aqueles com algum conhecimento mundano provavelmente pensariam que isso se parece mais com o que amigos fazem, não amantes.
Não era como se eu desejasse imensamente que algum tipo de situação sexual ocorresse, mas eu ainda sentia que poderíamos agir um pouco mais como amantes.
"Eu nunca, nenhuma vez, tive que me esforçar nas atividades conhecidas como 'estudar', então não tenho ideia do que lhe deixa tão perturbado ou com o que você está tendo dificuldades, Araragi-kun. Eu não entendo o que você não entende."
"Entendo..."
Ela tinha um modo de dizer coisas que me deprimiam.
Tive que me perguntar simplesmente quão grande era a lacuna entre nossas habilidades acadêmicas. Certamente parecia um cânion de profundeza inconcebível.
"Uma teoria que tive foi a de que você está apenas fingindo não entender a fim de receber tratamento especial."
"Isso seria sacrificar demais pra receber atenção... Mas, Senjougahara, você não era tão inteligente desde o momento em que nasceu, certo? Com certeza você deve ter se esforçado bastante pra manter suas notas tão altas na classe."
"Você acha que as pessoas que se esforçam tanto assim estão cientes disso?"
"... É mesmo?"
"Oh, mas não se engane. Eu sinto muito por pessoas como você, que não só meramente não recebem nada em troca de seu esforço, mas que nem sabem como realizar esse esforço."
"Não sinta muito por mim!"
"Eu sinto desespero por você."
"Ghh! Tem alguma regra dizendo que você tem que mudar isso pra algo pior se eu fizer um comentário? Agora eu nem posso suplicar por piedade descuidadamente!"
Que tipo de jogo é esse?

Bakemonogatari: Volume 1Onde histórias criam vida. Descubra agora