Voltas
Já dei duas voltas ao sol, rodopiei sobre mim próprio mais de setecentas vezes até me sentir zonzo, entre o dia e a noite, onde um começa e o outro nem acaba, o sol e a lua fundem-se num astro só, naquela outra velocidade que se chama ausência.
Procurei-te no cume de uma serra de labaredas rodeada, num vale onde os caminhos de água todos se encontram na paz de um mar sem ondas, tentei aí encontrar no ínfimo cofre do meu coração um esgar de ti.
Numa busca por prados verdejantes onde a vista perde o pé e por terras inóspitas e acres que me fazem sentir um formigueiro nas pontas do meu sentir, mas não te deslumbro em lado nenhum.
Privação esta profunda de uma rocha árida que rasga e corrompe um amago que se contorce de tanto querer e não conseguir, que pretende o ser sem o estar, mais do que tira, leva para longe aquele canto de conforto que só outrora o teve quando sorrias na busca que em mim encontravas, que nesse querer de sentir sempre o teve, onde do escuro se ergue a montanha do teu carinho, essa lufada de ar fresco que tantas vezes mitigo no fundo de um pensamento, onde nas voltas que dou, só eu lá estou… contigo.
