Capítulo 28

183 35 59
                                    

  O chão estava cheio de bitucas de cigarro, embalagens alimentícias e papéis coloridos, o tempo úmido e com uma leve brisa que ao tocar minha pele causava arrepios, eu estava gelada e não só externamente. A balada funcionava a todo vapor vários metros distantes de mim, ainda era possível escutar a música ao longe e pessoas se divertindo mas tudo parecia em outra dimensão, eu parecia em qualquer lugar que não fosse esse, os últimos minutos haviam sido um borrão, corri o mais rápido que pude, me lembro dos meus pés tocando o chão com agilidade, da sineta da porta tocando ao ser aberta, das pessoas olhando de canto como se não fosse nada, me lembro de tudo, tudo antes e tudo agora, ainda me lembro de como vim parar aqui. 

  Me sentei no chão sem me importar com a sujeira, encostei meu corpo na parede logo atrás enquanto abraçava as pernas com toda a força. Isso não podia estar acontecendo, eu não ia deixar isso acontecer, não de novo. A quanto tempo não tinha uma recaída como essa, seis, oito meses? Talvez mais. Cobri meu rosto com as mãos não conseguindo mais conter as lágrimas que ameaçavam cair, o que acontecia comigo? Era sempre tudo assim tão repentino, eu sequer conseguia entender o que estava acontecendo antes de acontecer, eu não conseguia impedir. 

_Alexia! -a voz voltou a chamar mas eu estava muito distante pra responder, tudo e todos ao meu redor não passavam de vultos e coisas presas em outra realidade, como se fossem reflexos em câmera lenta impossíveis de serem distinguidos- Alexia, você está bem? 

  Eu queria sumir, queria desaparecer e me tornar um nada assim como me sinto no momento, queria ser invisível para que ele parasse de me procurar quando eu não quero ser encontrada. 

_Alexia fala comigo, por favor -seus dedos quentes tocaram minha pele gelada buscando por algum sinal de que eu estava ouvindo, de que eu iria responder- olha pra mim, deixa eu te ajudar -pediu tentando afastar meu cabelo do rosto, você não pode me ajudar, não entende?- eu não vou sair daqui ok,não importa se não quer conversar ou olhar pra mim, eu vou ficar até sentir que está tudo bem 

  Seus braços me apertaram em um abraço caloroso, suas mãos levavam meu corpo mais para perto enquanto minha cabeça se acomodava em seu peito. Benjamin estava ali, e estava ali por mim, eu conseguia sentir seus desespero, seu nervosismo, seu coração batendo descompassadamente contra meu ouvido, eu conseguia sentir seu medo mas eu sabia que para ele nada que o envolvesse no momento importava, importava apenas o que me envolvesse.

_Vai ficar tudo bem, eu estou aqui agora -sussurrou contra meu ouvido enquanto me embalava como uma criança assustada, chorei ainda mais enquanto houveram lágrimas, quando finalmente parei tomei coragem de abrir os olhos e focar em nada especial, abri minha boca uma, duas, na terceira vez a voz saiu  

_Eu estou doente, -murmurei enquanto seu olhar surpreso se virava para mim- e não sei quando isso começou, só sei que começou e desde então eu simplesmente não sou mais eu, mas continuo sendo a mesma pessoa, você entende? -Benjamin assentiu mesmo sem se dar conta de que o fazia- Eu mudei, sei disso, mas eu ainda parecia a mesma, eu sorria e tudo estava normal, e eu estava feliz, e eu estava acostumada e eu estava fingindo, porque era mais fácil sorrir do que falar a verdade.

_Você pode falar a verdade pra mim, não importa o quão difícil isso seja, você pode contar comigo -disse afagando minhas costas- então, o que está acontecendo?

 Eu não sei, o mundo parece cheio, o lugar abafado, tudo parece tóxico, eu não sei, eu estou no lugar errado, eu não me encaixo, eu sou inadmissível, inaceitável. 

_Eu tenho medo, medo de gente -me ouvi dizendo 

_Medo de mim? -ele perguntou 

_Não, não de você, medo de muita gente -expliquei- eu sofro de Transtorno ansioso social, fobia social ou sociofobia, e tenho medo de gente -completei 

Minha geração problemaOnde histórias criam vida. Descubra agora