Capítulo 5- Cauã

59 9 0
                                    


Percebi que no início ela não queria me ajudar com o conteúdo. Não falei nada pro professor nem pra ela, mas eu já sabia aquele conteúdo. Eu adoro física, então sempre estou me adiantando na matéria. Ela ficou irritada ao perceber que a fiz explicar detalhe por detalhe em vão.
Quando me perguntou porque eu queria passar a tarde com ela, eu não menti quando falei aquilo. E melhor foi ver sua reação, ver seu rosto corar e ela ficar sem jeito. Ela tem uma beleza natural que eu nunca tinha visto igual. Ela olhou pra baixo e sorriu, vi seus olhos quase fecharem e sua boca abrir suavemente, demonstrando que ela estava sorrindo. Quando inclinou a cabeça para baixo, seu cabelo, preso em um rabo de cavalo, caiu suavemente sobre seus ombros. Como ela consegue ser tão linda?

O fato é que, ela acabou derrubando sua caneta no chão. Eu fui para pegar e ela também. Nossos rostos ficaram tão próximos, pude perceber com tanta clareza os detalhes dela. Seus olhos que refletiam um brilho indescritível e sua boca carnuda é tão bem desenhada. Essa pouca distância só me fazia imaginar como seria eu a beijando, pensando nisso, sem qualquer controle sobre meus atos, peguei em sua mão. Ela não retribuiu, ao contrário, ela retirou e a partir daí fiquei mais confuso. Será que fiz besteira? O que eu fiz de errado? Antes que eu pudesse perguntar, Vivian pede para ir ao banheiro e sai desesperada.

Falo pro professor que preciso ir tomar um remédio, minto, e no caminho consigo ver Vivian correndo em direção ao banheiro chorando. O que eu fiz? Por que ela está chorando?

Volto pra sala e fico sem entender. Ponho a mesa e a cadeira onde eu estava no lugar original, atrás do lugar de Vivian. Sento lá por um tempo e decido deixar um recado para ela.

Nerdizinha,
Não sei o que aconteceu, nem quero que me fale se não se sentir vontade. E sobre hoje, não precisa vir se não quiser, mas me avisa pra que eu não venha de idiota. Não fiquei aí perto porque percebi que você quer espaço, então eu respeito.

D.

Arranquei a folha que havia escrito o bilhete e deixei embaixo do seu caderno. Peguei minhas coisas e voltei ao lugar onde estava quando o professor me mandou sentar perto de Vivian. Gustavo parecia gostar de implicar com Vivian.
- Como foi com a nerdizinha? Usou seu charme para conseguir cola da atividade? - Riu, e as pessoas em volta também.
- Não Gustavo. Eu fiz a tarefa. Não preciso disso.
- Ah, então quer dizer que a nerdizinha é difícil e não cedeu ao seu charmezinho encantador? -Ironizou
- Cara, deixa de ser um pouco babaca e se toca do que você tá falando. -Falei em tom sério o suficiente pra ele calar e boca e não fazer mais nenhum comentário engraçadinho.

Percebi que Vivian estava demorando muito, fiquei preocupado. É incrível a forma que ela tomou espaço na minha cabeça em menos de um dia, eu não a conhecia direito e já me importava tanto com ela. Eu só quero seu bem.

Eu estava pensando nela quando percebo que uma menina chega perto de mim, Natasha Jones. Ela é a popular da escola. Atraente e muito bonita... Alta, magra e com curvas invejáveis. Tem um cabelo castanho claro grande, até a cintura, o que lhe dá certa sensualidade. Ela se aproximou de onde eu estava e sentou na minha mesa.
- E aí gato, eu sou Natasha Jones. - Colocou a mão atrás do meu pescoço e e falou no meu ouvido. - Tudo bem com você e com essa boca aí? - Deu uma mordida em minha orelha.

Não entendi qual foi a daquela garota, ela tem mais atitude do que todas as garotas que já conheci. Mas o que ela fez não me agradou, ela se insinua pros garotos e vi que Gustavo não gostou nada do que ela fez. Puxou- a pelo braço, tirando ela de cima da minha mesa.
- Tá doida Natasha? O garoto mal chegou e você já tá se jogando pra cima dele? -Percebi que ele tinha alguma coisa com ela, ele havia ficado alterado.
- Gustavo, se toca, eu não sou patrimônio privado não querido. E mais uma coisa, o que a gente tem é um relacionamento aberto, eu faço o que eu quiser.
- Experimenta pra ver o que acontece... - Disse ainda segurando o braço dela com força.
- Escuta aqui, eu não tenho medo das tuas ameaças. E eu não fico dando piti quando tu fica se pegando com as bebezinhas do primeiro, então me deixa. - Nessa hora ele largou o braço da Natasha.

O que ela disse conseguiu calar ele. Mas ela pareceu não estar satisfeita e querer ver ele doido, como uma vingancinha. Percebi que aquilo não terminaria bem e acabei intervindo, Gustavo estava muito irritado com o que Natasha disse. Como não o conhecia bem, não sei se ele seria capaz de partir pra agressão física caso ela o provocasse mais.

- Gustavo se acalma. E Natasha para de provocar, ele tá ficando irritado.
Gustavo pôs a mão sobre meu ombro.
-Acho bom você não me meter nisso. Meu papo é com ela.

Natasha estava gostando de deixar Gustavo com ciúmes dela. Foi aí que ela falou:
- Tá irritadinho Gustavo? E o que acontece se eu fizer isso? - Nessa hora ela passou de todos os limites. Me puxou depressa e me beijou.

Na hora fiquei sem saber o que fazer, mas a afastei de mim e acabei jogando-a contra Gustavo.
- Você tá louca garota? Se você tem seus problemas com o Gustavo resolva com ele, e não me envolva nisso.

Nessa hora o sino bateu e o professor, que não havia percebido nada do que aconteceu, saiu da sala. Passaram-se alguns minutos e o professor de educação física chega na sala.
- Boa tarde galera! -Fala ele entusiasmado com bolas de futsal nas mãos.
- Tava boa até 10 minutos atrás. -Disse Gustavo ainda irritado
- Bom, vamos pra quadra que hoje tem jogo. E você Gustavo, vê se tira toda essa raiva sem descontar nos colegas na hora do jogo.
- Não prometo nada professor. - Fala Gustavo já saindo da sala.

Estávamos indo para a quadra, e nada da Vivian. Nenhum sinal de existência. Estou bem preocupado. Ela saiu correndo e chorando sem falar nada.

Ao chegarmos na quadra o professor dividiu a turma em dois times. Nem todos quiseram jogar, é claro, mas eu queria tirar um pouco a Vivian da cabeça, então decidi ir, mesmo estando um pouco enferrujado.

O professor colocou Gus (Gustavo), Dan, Edu e eu no mesmo time. No nosso time também estavam André, Ícaro e Amy- Uma das poucas meninas que jogava futsal. O primeiro jogo seria só aquecimento de 10 minutos e depois começaríamos a aula em si. Mas antes precisava me resolver com Gustavo, não queria que nada ficasse mal entendido entre nós por causa das doidices de Natasha.
- Gustavo, quero ter um papo sério contigo.
- Fala logo.
- Olha cara, sobre o que aconteceu...
- Não quero saber nada de você, nem sobre o que aconteceu na sala. - Falou ele me interrompendo
- Eu não falei nada. Escuta e depois tu diz alguma coisa e tira ruas conclusões. Eu em momento algum quis beijar a Natasha. Ela é bonita e tudo mais, mas não tenho nenhum interesse nela, ela não é o tipo de garota que me chama a atenção. E sinceramente, eu só tô vindo falar contigo por consideração é porque eu percebi que vocês tem algo.
- Olha Cauã, eu sei como é a Natasha. Ela gosta de me provocar, e eu perco a cabeça quando eu vejo ela beijando outro garoto, mesmo a gente tendo um relacionamento aberto. Mas relaxa cara, tá de boa. Agora vamos parar de falar e vamos ganhar essa parada aqui né...
- Pra agora. - Demos um aperto de mão

Começamos o jogo, e o que eu esperava não aconteceu, não esqueci de Vivian. Perdi inclusive algumas chances de gol por estar preocupado com ela. Nos últimos 5 minutos da partida estávamos perdendo de dois a zero, e Gustavo já estava irritado novamente. Foi aí que o sangue veio nos olhos e eu dei o máximo de mim no tempo restante. No final, viramos o jogo e ganhamos por três a dois. Dei algumas assistências pro Gustavo que marcou um gol, e os outros dois me senti na obrigação de fazer, e os fiz. Quando o jogo acabou, notei a presença isolada de Vivian no canto da arquibancada, ela havia voltado com seu caderno e estava escrevendo. Eu daria de tudo pra ver o que ela estava escrevendo naquele momento.

O professor se aproximou dela e logo depois saiu. Fui até ela. Senti uma dor no peito quando a vi daquele jeito. Seus olhos estavam vermelhos e um pouco inchados. O que me mostra que ela passou esse tempo todo chorando... Cheguei perto dela e me sentei. Fiquei sem saber o que dizer, mas ela falou antes.
- Eu vi o papel que você deixou. E você não atrapalha em nada. - Disse ela em meio a soluços
- Olha. -disse chegando mais perto dela- Eu não sei o que aconteceu pra você sair tão depressa da sala e só voltar agora. E ainda mais com a cara inchada de quem chorou tanto, mas eu quero que você saiba que pode contar comigo.
- Obrigada. -Vi lágrimas rolarem pelo seu rosto, e mais uma vez senti tristeza em meu peito, como havia sentido a poucos minutos atrás.

Não tive outra reação a não ser puxá-la pra perto de mim, e envolvê-la em meus braços. A abracei por um tempo, o suficiente pra ela se acalmar. Senti seu corpo ao meu, sua respiração perto de mim, seus braços envoltos  no corpo e sua cabeça em meu ombro. E eu fiquei pensando... O que dói tanto que a faz chorar assim?

Sentimentos GuardadosOnde histórias criam vida. Descubra agora