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Quando tocou para a saída apressei-me a arrumar as minhas coisas e, pela primeira vez, fui a primeira a sair da sala. Normalmente costumo ser a última por ficar a conversar com professores e a tirar dúvidas que não tive oportunidade de tirar durante a aula, mas desta vez era muito diferente. Queria ir para um local escondido de forma a que o Calum não me encontrasse e para não acontecer algo de mal, mas devo ter demorado muito tempo no mesmo lugar, porque assim que dei por mim ele estava mesmo à minha frente mais os seus amigos.

-O que é que tu queres agora? - Disse olhando para ele e tentando parecer serena.

-Tu não devias ter feito o que fizeste e, agora, vais pagar as consequências.

Assim que acabou, agarrou-me no braço com tanta força que este ficou dormente de imediato, mas é rapidamente impedido de avançar pelo tal rapaz misterioso da minha sala.

-É bom que a largues.

-Ou o quê? - O olhar de Calum neste momento está ameaçador, mais do que alguma vez eu tinha visto e tinha medo do que pudesse vir a acontecer.

-Ou vais-te arrepender.

Ouço o Calum e os seus amiguinhos a rir, sinto o meu braço a ser liberto e eu massajo-o logo de seguida para tentar aliviar um pouco a dor. Este aproxima-se do rapaz, quase como se o fosse beijar, mas em vez de começar à porrada, apenas empurra-o e vai-se embora. Eu ainda estava estupefacta com o que acabara de acontecer, estava completamente à toa e quando vou agradecer ao rapaz, ele já tinha desaparecido. Devo estar a ficar completamente maluca.

O resto da manhã passou muito devagar ao contrário do que eu esperava, mas, felizmente, não voltei a ver o Calum, ou o rapaz misterioso. Pode ser que se tenha assustado e tenha ido embora ou então está escondido algures. Quando por fim já eram horas de sair da escola e ir para casa, decidi ir a pé, por já ter perdido o autocarro e até estava um dia muito bonito de sol. Durante todo o percurso até casa fui a chutar uma pedra que ainda não tinha saído do meu caminho e já me estava a aborrecer solenemente. Quando estava a alguns quarteirões de minha casa comecei a ouvir uma música de fundo, apesar de ainda ser longe reconheci logo qual era: Jet Black Heart. Ai como eu adoro esta música!! Apressei logo o meu passo para tentar descobrir de onde vinha e, à medida que me aproximava do local, apercebi-me de que a música não vinha da rádio de alguma casa, mas sim de uma garagem onde se encontravam quatro rapazes a tocar e a cantá-la. Não demorei muito até descobrir quem é que lá se encontrava e quase me ia dando um fanico. Os Five Seconds Of Summer!!! Espera. Eles vivem aqui? Não pode ser. Os meus pensamentos foram desviados para as vozes deles que em uníssono cantavam:

- 'Cause I've got a jet black heart

And there's a hurricane underneath it

Trying to keep us apart

I write with a poison pen

But these chemicals moving between us

Are the reason to start again

O meu sorriso desvaneceu assim que vi aquele que me massacrava a vida. Também estavas à espera de quê? Se ele faz parte da banda é normal que também aqui esteja. A maneira como ele tocava, a maneira como se mexia, sentindo a música, a maneira como se concentrava e sorria olhando para os amigos algo me dizia que aquela música se identificava com a vida dele e, absolutamente, era um Calum completamente diferente daquele que eu encontrava na escola. Os meus pensamentos desapareceram assim que ouvi a sua voz a soar pela garagem.

- The blood in my veins

Is made up of mistakes

Let's forget who we are

And dive into the dark

As we burst into color,

Returning to life

Adoro a voz dele quando canta, deixa-me toda arrepiada. Mas, o que me deixou mesmo assustada, foi o olhar que ele fez mal me viu parada a olhar para ele, fui-me logo embora e, longe do alcance deles, comecei a correr até casa, pois tinha a certeza que iria sofrer se ele tivesse continuado lá parada. Amanhã vai ser um longo dia.

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Assim que cheguei a casa meti as minhas coisas no quarto e vi no telemóvel uma mensagem da minha mãe - Filha, eu e o teu pai vamos ficar a trabalhar dia e noite! Tens o jantar no frigorífico, lasanha o teu preferido filha. Faz os teus estudos e não te esqueças de te deitar a horas! Adoro-te muito filha, beijinhos. Mãe. Mais uma noite sozinha, que maravilha. Fui tomar banho para ver se relaxava e esquecia o olhar que o Calum me mandou quando os vi na garagem, infelizmente, algo me diz que ele não vai esquecer... Quando acabei, vesti o meu pijama, calcei as minhas pantufas e fui para a sala ver um filme, não tive trabalhos de casa e a matéria já eu a sabia de cor e salteado. Mas, o meu descanso acabou assim que ouvi a campainha a tocar. Bonito. Fui ver quem era, arrependendo-me logo de o ter feito no exato momento em que abri a porta, ainda a tentei fechar, mas todos sabem que a maioria dos homens têm mais força que as mulheres, então a força que eu fazia nada era comparada com a que ele fazia.

-SAI DAQUI PARA FORA SEU CÃO!

-Tem calma miúda! Deixa-me entrar.

-NÃO! SAI DAQUI ANTES QUE EU CHAME A POLÍCIA!

Não valeu de nada as minhas ameaças, ele entrou na mesma. Calum. Fiquei a olhar para ele derrotada e, claramente, com o medo estampado nos meus olhos. Ele estava em MINHA casa, demónio como é, eu não sei o que é que ele está aqui a fazer ou até mesmo se me vai fazer mal.

-Eu vi-te ao pé da garagem onde eu e os rapazes estávamos a ensaiar. - Ele diz sentando-se no MEU sofá.

Não disse nada e fiquei a olhar para ele desconfiada e pasmada pelo tão à vontade dele na MINHA casa.

-Eu espero que não andes por aí a espalhar o que viste, ou então nunca mais podemos ensaiar ali.

-Vocês é que são os burros. Qualquer fã que estivesse a passar por ali não se limitava a observar. -Ripostei. - Mas sabes o que é irónico Calum Hood? Sabes a música que vocês estavam a cantar? A Jet Black Heart? Essa música descreve-te e eu sei que tu te identificas com aquela música. Como é que eu percebi? The blood in my veins

Is made up of mistakes.

Ele levantou-se rapidamente e encostou-me contra a parede, magoando-me as costas por eu não estar à espera. Sim, esperava uma reação violenta, mas não como esta. Ele encosta a sua boca ao meu ouvido e o meu coração quase que foge do meu corpo com o medo. Este apenas me diz:

-Tu não sabes nada sobre mim. - E vai-se embora fechando a porta com força, como é o seu habitual.

Respirei fundo e sentei-me no chão, desta vez não chorei. Não gritei. Não me cortei. Apenas fiquei sentada no chão como se tivesse paralisada e a frase que ele me tinha dito de uma maneira sedutora e ao mesmo tempo assustadora não me saía da cabeça.

Tu não sabes nada sobre mim.

The Bad BoyWhere stories live. Discover now