| N i n a |
Não, eu não estou usando algo muito fora do meu usual de vestimenta. Bem, agora eu estou, já que Margot me vestiu ridiculamente, mas quando ela for embora e eu mudar de roupa, não é fora do meu usual. É um vestido branco que não é justo ao corpo, mas marca um pouco a minha cintura; um casaco fino que é rosa claro e meias-calça pretas, seguidas pelas minhas melhores meias coloridas até os joelhos e uma sapatilha da mesma cor do casaco. Eu me odeio por ter sido obrigada a usar essa roupa ridícula e, principalmente, por ter aceitado sair com Chris Roberts. E o pior: Natalie e Adam terminaram, o que faz com que tenhamos de ir sozinhos, o que me deixa afundada em pânico.
"Você está bonita." Adam diz, roendo as unhas. Eu gostaria de agradecer, mas abaixo os olhos e não digo nada."Eu tenho que ir embora, mas conte-me amanhã." Margot sorri e beija a minha testa. "Tchau, queridos."
"Até, Margot." Adam sorri.
Tenho a leve impressão de que Adam está mais nervoso que eu, o que é, além de estranho, quase impossível.
Nossos pais ainda não chegaram e eu pareço uma boneca que foi muito bem arrumada por Margot, mas assim que ela sai de casa, corro até o segundo andar para trocar de roupa. Eu ouvi Adam rir enquanto eu corria escadas à cima.
Visto jeans claro, que é um pouco curto na perna. Ah, meu amado jeans. Jeans e uma blusa preta, obviamente seguida por um casaco cinza que eu nunca usei na vida, porque ele é bonito demais para usar para ir à escola e não saio para fazer algo além disso. Fico hesitante sobre o meu all star, mas eu o calço. Eu não vou parecer muito bonita de nenhuma das formas, de qualquer forma. Nem que eu use Louboutin, Gucci ou Versace. De qualquer forma, eu tenho certeza de que há algo por trás disso. Por que um garoto me chamaria para sair? Por que logo Chris Roberts me chamaria para sair? Será que, sei lá, Adam seria capaz de pedir ao amigo para que fizesse isso?
Desço as escadas novamente e consigo respirar, quando me sento no sofá novamente. Estico minhas pernas para frente e semicerro os olhos. Ainda faltam 10m até ele chegar e eu acho tão provável que Chris me deixe aqui, plantada. Eu não o culparia por isso, mesmo que fosse ficar chateada.
Ouço um toque na porta de madeira e eu arregalo os olhos; Adam sorri.
"Quer que eu atenda?" Ele pergunta.
Dou os ombros, fingindo não ligar. Deus sabe o quanto eu ligo. O que ele faz aqui? Eu estava tão esperançosa de ele notar que eu não sou uma líder de torcida, só a Nina Davis e fugir para o Oriente Médio para nunca mais me ver. Mas ele está lá quando Adam abre a porta. Muito bem vestido, aliás. Nem parece o garoto que eu vejo nos corredores da escola, que depois de me chamar para sair, encarou-me algumas vezes e direcionou-me sorrisos durante os intervalos e as vezes que me viu.
"Oi." Chris diz, sorrindo. Tem um bonito sorriso, diga-se de passagem."Oi." Eu digo.
É nesse momento em que sou eu quem quer fugir para o Oriente Médio, porque eu prevejo toda a vergonha que vou passar essa noite.
"Você está linda." Ele diz, adentrando à sala.
Chris retira uma mão que estava atrás das costas e revela um buquê de tulipas amarelas vibrantes. São lindas, então eu acabo por sorri. Ele me entrega as flores e eu as cheiro; elas têm um cheiro tão bom...
"Eu cheguei cedo, não é? Estava ansioso." Ele solta uma gargalhada nervosa e coça a nuca. É adorável, devo dizer. Mas não digo."Eu vou subir. Tenho que estudar. Boa noite." Adam diz, sorrindo. "Pode me ligar ou me mandar uma mensagem. Sabe disso, não sabe?" Ele beija a minha têmpora esquerda. "Não precisa ficar nervosa." Adam sussurra em meu ouvido. "Você está incrível. Você é, na verdade." Ele completa e eu sorrio.
Eu gosto do Adam quando ele me põe para cima e diz coisas gentis. Ele vive dizendo que sou inteligente, gentil, adorável, fofa, bonita. Eu acredito, quando ele diz. Eu sei que devia acreditar o tempo todo, mas é difícil. Entretanto, eu acredito quando ele diz e eu gosto de me sentir todas essas coisas. Ele parece ser tão sincero quando me elogia, que não existem meios de eu não conseguir acreditar.
Adam me põe para cima, como fez ontem. Eu passaria a tarde chorando, mas ele me vestiu e me levou para fora, mesmo que só para andar um pouco. Talvez ele não saiba, mas é significante. Incondicionalmente significante. E eu agradeço. Muito.
"Vamos?" Chris diz e eu assinto e seguindo-o.
Seu carro é preto e ele não é novo para ter um carro tão bom e aparentemente caro? Eu adentro ao lado do passageiro e ele no do motorista. Ele não põe o cinto e isso me incomoda. Eu ponho e respiro fundo. Podemos sofrer um acidente e ele pode se machucar.
Ele sorri para mim e dá partida.
"Eu perguntei, e Adam me disse que você não é muito de sair. Eu não sabia bem onde te levar." Ele diz, focado na estrada. "Como é dia dos namorados e isso é um encontro, eu pensei em um restaurante, mas eu não sabia se você gostava de coisas muito chiques, com muitos talheres ou se você gostaria apenas de ir à uma lanchonete."
Lanchonete. Restaurantes chiques têm nomes em francês e a comida é tão pouca. Por eu estar sempre ansiosa, eu como bastante. Eu adoro comer. Comidas caras e poucas. Eu sei que exige muito estudo e faculdade para aprender a cozinhar e montar os pratos com perfeição; é um tipo de arte, eu acho. Mas eu prefiro muito uma lanchonete. O que eu posso fazer?
"Aí ele disse que esse um mês com você o fez perceber que você gosta de comida bem gordurosa e em uma porção generosa." Ele diz de forma engraçada e eu rio. "Eu também gosto, mesmo que a minha mãe seja nutricionista e me force a comer 'bem'." Ele revira os olhos.
Paramos em uma lanchonete. Ele pede um hambúrguer com duas carnes, cebola frita, batata frita e disse que pediria um suco só porque está de dieta. Eu ri. Ele é engraçado. Não parece tão abominável quanto se fez parecer durante o mês que estou aqui. Talvez só faça coisas idiotas para aparecer, ou para ter amigos, como a Natalie. E não, ela não me ofende quando diz aquelas coisas ruins sobre mim; ela só quer ter amigos e eu consigo notar isso. Não a julgo por querer ser alguém, só por precisar destratar as pessoas para isso. Eu não ligo para o que ela fala de mim, só para o que ela fala da Anna, que mesmo que não pareça, é mais sensível que eu. Eu consegui conviver todos esses anos sem ter muitos amigos, mas ela sofreu bullying e é a mais nova da turma. Ela pode fazer comigo, mas não com a Anna. Talvez eu até mereça, mas ela, não.
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O Silêncio Entre Nós
RomanceHISTÓRIA EM EDIÇÃO | LEIA A INTRODUÇÃO Após a morte do pai de Nina Davis, ela desenvolve uma fobia social que a impossibilita de se comunicar com as pessoas de maneira direta, além de uma depressão severa que a mantém à margem do mundo, sempre tranc...