11: someone like you

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"Eu esperava que você veria meu rosto e que você se lembraria de que pra mim não acabou."
Adele - Someone Like You

Katrina viveu os próximos dias num turbilhão de névoa e puro cansaço. O estágio não lhe pedia muito mais que poucas horas no dia, mas ela sentia como se ainda precisasse de mais. Na sua cabeça, por todo o tempo pensou demais em Paulo, um cara que não lhe dava a mínima.

O dia após o beijo que deram resumiu-se em puro caos. Ela se sentia emocionalmente devastada e fisicamente usada. Sentindo-se distante de ser boa o suficiente para alguém como o cara que beijou. Aquilo a fazia se sentir mal de certa forma. Durante dias aquela dor lhe abraçou. Não é como se pudesse acabar com um sentimento tão repentinamente.



Katrina POVS

Passo os dedos por meu lábio ainda confusa. Meu cérebro não me deu a chance de raciocínio o bastante para ter me afastado enquanto ainda tinha tempo. Eu o pressionei. Me apaixonei sabendo o problema que isso me traria e agora pago com a decepção.
Meu pai me disse anos antes para não confiar nas pessoas. Ele me disse que garotos me magoariam, e eu fui falha. Eu confiei em um, no pior que eu poderia confiar, talvez.

"Eu sinto muito por isso, Kat!"

Estou abruptamente envergonhada. Inspiro, respiro, sentindo-me estupidamente fútil e tola. Mas fui eu quem entrou como uma intrometida na sua história. Fui eu a boba o bastante de criar laço afetivo por alguém como ele. Alguém que não gostava nem de sí mesmo, quem dirá aos outros.

"Entendo." Estou de pé num instante, caminhando de costas para afastar-me dele. Sinto algo correr por minhas veias de forma avassaladora.

"Não! Não me entenda mal, Kat. Eu apenas..."

"Eu não preciso de suas explicações, Dybala!" Pego o meu casaco preso no apoiador ao pé da parede e sigo em direção a porta. No meio do percurso me dou conta que ao menos tinha dinheiro para um táxi, pois minha bolsa ficou na redação.

"Eu te levo em casa." Ele diz, vindo atrás de mim.

"Não!" Estico as mãos o impedindo de chegar perto de mim. Ele olha para minha mão, para meu rosto e fica estático. Aquela vontade de chorar me invade sorrateiramente, como se fosse rasgar os meus pulmões a qualquer momento.

De certa forma, sinto-me humilhada. Eu o beijei. Tomei a atitude de beijar os seus lábios num momento de fraqueza e carência. Enlaçando as nossas bocas sabendo que há pouco mais de um mês perdeu a mulher por quem daria a vida.
Eu nunca poderia competir com algo do gênero. Um Romeu e Julieta dos tempos modernos. Mas foi preciso a rejeição invadir a minha vida para eu me dar conta.


Minha pele fica parcialmente estática quando o ar gélido de Turim bate contra o meu rosto. Um vento úmido e molhado lançando-me a realidade de mais um dia após sair da cama. Meu telefone toca no mesmo minuto em que decido sair da cama e fico trêmula ao ver o nome de 'Dybala' no visor.

Visto-me num jeans escuro e camisa de manga e sigo para a sala, faminta pelo almoço que me levaria a seguir para um novo dia de estágio na ESPN. Eu ainda não acreditava que estava lá.

Chego no andar abaixo da pensão arrancando sorrisos cansados de meus outros companheiros. Forçando um tom animado, não quero que percebam o meu momento quase depressivo. Estava difícil seguir em frente. Não tão difícil quanto tirar os olhos verdes-água de meus pensamentos. "Parece que alguém encontrou um emprego! Wou." Alex sorri resplandecente para mim, alegrando o meu dia. "Nós vimos a sua chamada na tevê!"

"Paulo Dybala!" Juan diz com devoção, destacando um lindo sorriso puxando pequenas marquinhas nos cantos de seus olhos. "Nós temos de marcar um jantar para comemorar isso. É incrível, Katrina!" pisco um pouco tímida, acomodando-me ao lado de Thayse e Mandi. Percebo o tom de flerte dele. Capto este tom galanteador há semanas e decido dar um fim para aquele capítulo.

"Sim. Pode ser!" Mordo a torrada com cuidado para não borrar o batom. Ouço-o se engasgar com suco no minuto seguinte e reprimo uma risada com as feições lançadas por meus colegas á mesa. "Você fala sério?" Ele questiona um pouco surpreso.

"Você pode me buscar no trabalho hoje" entrego o telefone para que ele deixe o seu contato. Feito isso, abro um pequeno sorriso. "Eu te envio uma mensagem com o endereço!"




***HORAS DEPOIS***

Rodopio o anel solitário por meus dedos. Destruída em pensamentos que nem mesmo consigo terminar de escrever uma matéria sobre Olivier Giroud e seu belo hat-trick pela seleção francesa há poucos dias.

Penso em Juan por um instante. Nas pequenas piscadelas que ele me lançou um pouco chocado segundos antes de eu deixar a mesa de refeições e acho que talvez este seja o motivo de minha desatenção. Mas não. Eu sabia que aquele não era o motivo a minha distração pois a cor verde viva era tudo o que preenchia o meu mundo meio cinzento.

- Mandou bem na entrevista!

Olho para o lado oposto de onde estava e vejo uma ruiva de olhos escuros me encarar sorridente. Retribuo o seu gesto no mesmo ato. "Obrigada!"

- Eu sou Lilith, mas, me chame de Lily, por favor. - Estende a mão para mim que a aperto alegremente. - Seremos vizinhas de cabine nos próximos meses. Qual o seu nome?

- Katrina. Mas pode me chamar de Kat.

- Katrina. Puft... Como o furacão!

- Vivi numa zombaria constante por ter recebido esse nome indiferente, mas, acredito que não havia como os meus pais terem adivinho aquele desastre.

Ela assente. Ameaça ir de volta para a sua cabine mas se volta para mim um pouco antes disso. - Eu pensei que viria para ficar como entrevistadora e não na parte redativa.

- Acho que o Pedrosa se deu conta de que entrevistar não foi bem a minha praia. Quer dizer, foi Paulo quem ped... -paro ao perceber que estava falando demais. Dizer as pessoas que Paulo queria que eu o entrevistasse era como dizer que havia algo entre nós dois.
Algo que faria surgir questões na cabeça das pessoas, e, que, eu não estava preparada para lidar. "Sei!" Ela diz e volta para o seu lugar. E eu, para o estonteante Olivier Giroud.

O restante passa feito um borrão. Rápido e silencioso. Mau percebo a noção do tempo passar, pois, quando vejo todos ao meu redor já guardaram os seus pertences e estão a esvaziar o pequeno espaço claro que dividimos computadores e papéis.

- Até amanhã, Kat! - A ruiva diz animadamente para mim quando estamos descendo as escadas para a saída. Sentindo a brisa fria chocar-se com minhas bochechas. "Até amanhã, Lily!" retruco, vendo Juan acenar calorosamente para mim do outro lado da rua.

KATRINA | DYBALA ✨ Onde histórias criam vida. Descubra agora