Capítulo I - Joanne

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5 de Agosto de 2020

A moça do echarpe rosa salmão era uma das únicas coisas que destacavam em meio a tantas roupas de tom neutro que vestiam as mais diversas pessoas daquele corredor, e que também deixavam a jovem ainda mais tensa, fazendo-a se sentir um tanto quanto descontextualizada, ansiedade e insegurança tomavam conta de si, tudo o que a garota torcia era para que uma das portas do escritório se abrisse e alguém chamasse seu nome.

       - Joana Washington! - Uma voz ecoa pelo corredor repleto de pessoas, porém extremamente silencioso.

A moça se levanta, agora um pouco mais aliviada de a terem chamado, caminha até a porta do escritório, respira fundo e entra com ar de confiança no local, porém, toda essa confiança se desfaz ao se deparar com o entrevistador, que a faz se sentir desconfortável com o entrevistador a encarando ininterruptamente.

      - Sente-se, Joana, tenho algumas perguntas para você- Diz o entrevistador, com ar de quem já estava acostumado com todo esse processo- Pode me chamar de Sr. Fitzgerund.

      - Prazer, Joanne, Joanne Washington- Responde a moça, repetindo propositalmente seu nome, para que o entrevistador perceba que ele havia pronunciado errado.

      - Comecemos então ... Preciso que me diga um pouco de você - Diz pegando uma caneta e preparando-se para escrever algo, como se fosse transcrever tudo o que for dito por Joanne.

      -  Bem... Como posso me descrever? - A garota se inclina levemente para frente- Posso dizer que sou uma pessoa muito alegre,  tenho a capacidade de transformar o ambiente a minha volta em algo mais.... como posso lhe dizer...Positivo. Alguns dos meus hobbies são pintar, escrever e correr, me considero uma pessoa ativa, focada e organizada. Acredito que não conste em meu currículo, mas entre meu último emprego e hoje, preferi ficar um ano longe dos escritórios para que tivesse mais tempo para aprimorar meu conhecimento. -

20 de Julho de 2018

POV Joanne

6:45 PM

      Entro em casa rapidamente, pois  meu dia no trabalho fora cansativo, mal posso esperar para me jogar na cama, descansar o resto da noite, retiro meus sapatos logo após entrar em casa, um loft industrial aconchegante, passo pela pequena e improvisada sala de estar, vou retirando algumas peças de roupa enquanto caminho em direção às escadas que levam ao meu quarto e do meu namorado, e o quarto de minha mãe.

      Muitas pessoas sentiriam vergonha em dizer que moram com suas mães, mas eu não, sou eu quem a sustenta, tanto psicologicamente quanto financeiramente, já devem fazer uns três anos desde quando ela foi diagnosticada com depressão em estado avançado. No início toda família se mobilizou, mas aos poucos, foram se afastando, se acostumando com o novo estilo de vida da ex arquiteta da alegria contagiante. Assumo que em alguns momentos me pego distante dela, que tanto precisa da minha ajuda, o que pode ser comprometedor para ela.

      O que acontece é que esse dia, esse dia em específico, eu queria apaga-lo de minha memória. Enquanto subo as escadas para meu quarto e o de minha mãe, nao vejo nada além de uma nota jogada em cima da cama dela, corro desesperadamente para ler o que ela havia escrito, meu coração disparava, quase saía pela boca, parecia que todos os poros de meu corpo transpiravam.

      "Ela me pediu, ela implorou para que eu a internasse, ela sabe o valor sentimental dela para você, por isso ela preferiu nao ser um fardo, ela nao queria transformar esse relacionamento tão próximo de vocês em algo negativo, eu nao tinha opção, pois ela começou a ameaçar de cometer suicídio.
      Joanne, você sabe que eu a amo muito, mas isso é demais para mim, não poderia assumir tal responsabilidade, acho que está terminado, não posso esperar algo de grave acontecer para dizer que acabou, sinto muito.

Com imensa tristeza, -K.

      Ps.: As malas dela já estão arrumadas, sua tia irá passar aí pela manhã para busca-las.
      Ps /2.: Por favor, não tente me ligar, preciso de espaço, creio que você também, por isso, comprei um vinho para você, está na geladeira."

      Me deito no chão em posição fetal, com o rosto vermelho, mohado, nao consigo acreditar no que acabei de ler, grito desesperadamente, epserando que aquilo fosse um sonho, que em momentos eu acordaria e iria trabalhar, não podia ser real.... porem a noite caía e eu percebia cada vez mais que essa era a minha realidade agora.

Uma musica começa a tocar baixinho no rádio, enquanto Joanne bebe seu vinho, encolhida no sofá

5 de Agosto de 2020

      - Muito bem, Joanne, preciso que me conte um pouco sobre seu núcleo famíliar - O Sr. Fitzgerund termina de escrever as palavras ditas por Joanne, e agora a encara fixamente.

      - B...Bem... Meu núcleo famíliar se resume apenas a mim, moro sozinha, mas algumas vezes no mês visito minha mãe. - Joanne parece ter tido un choque de realidade misturado com tristeza - Mas me dou muito bem com minha mãe, ela é uma das unicas pessoas que fariam de tudo para me ver fel...-  O entrevistador a interrompe.

      - Já entendi o que você quis dizer, Joanne, muito obrigado, te retornaremos em breve - Sr. Fitzgerund reclama, quase que expulsando a jovem de sua sala - Me dou muito bem com minha mãe, todos os sábados fazemos tortas de maçã juntas... Depressiva e mentirosa - Ele imita a voz de Joanne logo após ela se retirar

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⏰ Last updated: Jul 23, 2017 ⏰

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