Capítulo 3

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                                                                                       Erik

— O que foi isso, Erik? O que aconteceu? O que disse para irritá-la daquele jeito?

Thomaz falava sem parar, fazendo eu me sentir ainda pior.

Vi Bellanne olhar para trás e em seus olhos havia mais do que raiva. Ela seria capaz de me matar com aquele olhar. Eu sei... Passei dos limites.

— Nada, Thomaz. Talvez eu tenha sido um tanto seco, mas posso reverter isso, te prometo.

— Que droga, Erik! Tem ideia do quanto será importante termos o nome de Bellanne vinculado à nossa campanha? Você quase estragou tudo!

— Ela assinou, não assinou? Então, pronto! Vamos encerrar o assunto.

Flávia aguardava ao lado, como uma fiel escudeira, e quando Thomaz bufou e saiu em direção à sua sala, ela se aproximou.

— Senhor, eu não encontrei seu celular. Tem certeza de que...

Meti a mão no bolso, retirei o aparelho e mostrei o celular para ela.

— Me perdoe, Flávia. Esqueci que estava em meu bolso. — Eu não quis fazê-la de boba, mas precisava daqueles segundos com Bellanne e não queria que começassem a especular nada. Colegas de trabalho são sempre especuladores.

Tornei a guardá-lo e senti o outro aparelho, o que tinha recebido uma nota 7, no fundo do meu bolso. O humor chegou fácil ao lembrar dos olhos de Bellanne cravados em mim, crispando de fúria. Precisava dar um fim àquele aparelho ou dar um jeito de devolvê-lo à sua dona.

A noite já havia chegado, mas eu não tinha vontade de ir para casa. Estranhava as rotinas, as pessoas e me sentia inquieto demais. Além disso, estava arrependido de ter cometido uma espécie de bullying com a fotógrafa. Não foi justo e nem decente.

Sorvi um pouco do whisky, enquanto admirava a noite estrelada através da imensa janela de vidro.

Foi engraçado sim, e vê-la corar era surpreendentemente encantador. Mas, em algum momento, senti que passei dos limites, que cheguei a algum lugar onde já não havia graça.

— Com licença?

Olhei para trás e vi Flávia com metade do corpo já dentro da sala.

— Ainda aqui? Seu expediente não já acabou?

— Achei que pudesse precisar de algo.

Voltei a olhar o céu através da janela, mas escutei a porta fechar e sabia que ela havia entrado.

— Não. Estou bem, obrigado.

Flávia se aproximou e encostou o quadril na minha mesa, ao meu lado.

— A noite é linda daqui, não é?

Não respondi. Apenas baixei meus olhos para o líquido âmbar no fundo do copo. Flávia era excelente assistente, mas parecia interessada demais em ser útil. Mais do que deveria. Mais do que a sua função pedia.

— É sim, e perigosa. Deveria ir para casa.

Ela sorriu, mas não respondeu. Ao invés disso, mudou de assunto.

— É tudo muito diferente, não é? Toda essa mudança: Dinamarca, França, Brasil!

Ergui o olhar e tornei a atenção à paisagem. O que ela sabia sobre mim? Onde queria chegar?

— Sim, muito.

— O senhor sabe que as pessoas são curiosas e... Bem, me contaram um pouco sobre todas essas mudanças. Sobre como o senhor foi corajoso e saiu de casa ainda tão novo. Não que o senhor seja velho, por Deus! Trinta e dois anos não chega nem perto de velho, mas... Mudar de país tão jovem e iniciar um negócio... E ainda ter o sucesso que teve...

Bellanne-se! - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora