Capítulo Único

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Pov. Chandler Riggs.

O vento deste dia balançava meus cabelos fazendo que eu quase não enxergasse um palmo a minha frente. Parecia mais estranhamente tranquilo do que nos últimos dois anos, sem contar com o forte vento.

A lápide a minha frente lembrava-me dos momentos que pareciam grudados em mim como meu nariz é parte do meu rosto. Pensamentos que há três anos parecem mais frequentes do que nunca, também faziam três anos que eu tinha estado exatamente nesse lugar. Apenas três em que considero essa minha obrigação a cada ano que se passa.

As lágrimas quentes insistiam em escorrer lentamente por minhas bochechas, eu não quero começar a soluçar justamente aqui. Foda-se as pessoas que estão olhando, eu simplesmente não quero mais chorar. Me surpreendo comigo mesmo por ainda me restarem lágrimas a derramar.

Notei algumas velhinhas me encarando, talvez achando que eu não percebi a presença delas ali. Por acaso nunca viram ninguém chorando? Minha mãe diz que eu não costumo chorar muito, ainda bem que ela não está me vendo agora.

Queria sair daqui, ao mesmo tempo em que não quero ir embora por saber que não vai mudar nada. Austin Abrams é um filho da mãe por me fazer chorar, por me levar a voltar aqui. Eu não quero mais sentir sua falta, mas eu sinto. Sinto todos os anos, todos os dias.
 
Austin...
Eu sinto falta de você sussurrando babe no meu ouvido e me fazendo arrepiar, quando reclamava comigo por achar que eu estava irritado sem motivo, quando chamava para brincar as crianças que ficavam sozinhas no parque... Eu sempre achava que alguém pensaria que iríamos as sequestrar, lembro da sua estranha mania que querer colocar canela em tudo que comia. As coisas me lembram você, acho que eu não consegui sair da fase de luto mesmo depois de tanto tempo.

O pior é saber que eu ainda ligo para o seu número, eu deixo recados todo dia 2 de setembro. Você tem noção de como eu fiquei depois que partiu? Eu sei, a culpa não foi sua, mas teimosia sempre foi seu nome do meio e foi o que te tirou de mim aquele dia.

Austin, você é um filho da mãe, mas está morto e eu não posso dizer isso olhando no fundo de seus olhos.

Às vezes eu sinto que você é como a única rosa morta do meu jardim, a que eu continuo regando na insistência de mantê-la viva quando já não faz mais diferença.

— Uma flor viva para uma rosa morta.

Digo após colocar um flor perto da lápide. Já está na hora de ir embora, tiro meu celular no bolso quando me encontro perto do portão do cemitério.

— Infeliz dia 2 de setembro para você também, Abrams.

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