A cada inverno vencido minha fome de conhecer mais, viver mais e ser mais parecia se renovar e eu novamente me entregava àquele jogo de buscar o que eu nem sabia que era.
Vivi em experimentos e tentativas. Leitura, teorias e práticas. Conheci o que há de melhor e uma boa parte do que havia de pior em mim e nos outros.
Sabia que não podia estar a salvo indefinidamente e ser encontrada era só mais um dos riscos que eu corria. E eu sempre gostei de correr riscos.
Aos oitenta, correr riscos passa a ser história, memórias, suspiros.
Nadine sabia que o momento estava chegando e estava nervosíssima. Apresentar aquele projeto era tudo o que havia sonhado e durante meses trabalhara duro para que fosse perfeito.
Sentada na cadeira de couro preto – o que fazia alguém comprar aquela coisa fria e impessoal? –, pensava no telefonema de sua mãe, desejando boa sorte. Incrivelmente, ela sempre estava lá, nos momentos decisivos, apesar de todo o rancor do passado. Se era sincero ou consciência pesada não importava.
O que importava é que elas já estavam distantes tempo demais. Tudo fora explicado e dito. Não havia mais motivo para culpá-la e Nadine já entendia tudo. Isso fazia muita diferença.
Não agüentava mais aquele monstro cheio de tentáculos em sua cabeça.
Demorou a entender que as coisas aconteceram naturalmente e seu pai não foi assassinado – ninguém produziu uma parada cardíaca nele, aquilo não era um seriado de TV.
Nadine sabia o que devia fazer e cuidadosamente planejava os próximos passos.
Era hora de dar vida ao seu projeto.
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Aprendendo a voar
ChickLitA vida de Nadine Kingston e sua jornada em busca de liberdade, independência e de si mesma.