Capítulo 08

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Eu já mantinha meu quarto sempre impecável, então escovei os tapetes do corredor, limpei os janelões da sala e até poli todas as panelas.

Horas de trabalho árduo enquanto todos dormiam, mas eu não daria sorte para o azar. Por segurança eu imprimi o meu histórico escolar e prêmios acadêmicos recentes, e aguardei o papai Dylan acordar, bem sentadinho no sofá.

Tudo daria certo. Eu só precisava... esperar... ele...

Alguém apertou meu ombro, e eu percebi ter adormecido. Quando avistei o papai Dylan eu logo endireitei os ombros, sentando-me com os ombros retos e a postura de um nobre tritão.

"Bom dia, pai. O senhor dormiu bem?" Falei, amassando minha papelada nas mãos trêmulas.

"Por que dormiu no sofá? Você tem uma cama." Ele disse, seguindo à cozinha para preparar o café.

Eu o segui logo atrás, com o coração quase na garganta.

"Eu... eu limpei a casa, você viu?"

"Sim." Ele abriu o armário e percebeu as panelas perfeitamente prateadas. "O Gabe ficará feliz, parabéns."

Eu sorri, começando a sentir uma pontinha de otimismo.

Papai Dylan preparou a cafeteira, e começou a cortar o pão. Era o dever do alfa cuidar do bem-estar constante do ômega, então Gabe sempre recebia café na cama, e nunca se preocupava em alimentar as crianças, ou levá-las à creche, embora ele gostasse de fazer isso às vezes. Mesmo que nossa família fosse um caso único, a dinâmica era a mesma de qualquer núcleo de tritões. O chamado sempre falava sobre isso, demonstrando sua satisfação com nosso núcleo em ondas calmas e previsíveis.

"Pai, ahm... alguns colegas meus vão ir num show, hoje de noite."

"Hm." Ele grunhiu, compenetrado em seus afazeres.

"E eu estava pensando... se talvez... eu poderia ir."

"Que tipo de show?" Ele perguntou.

"É um show de death metal. Vai tocar uma banda chamada Death Cannibals, e todas as pessoas legais vão estar lá."

Papai Dylan deixou de lado as fatias de pão e pegou o celular.

"Coisas que acontecem num show de death metal." Ele recitou na busca por voz. Quando viu o primeiro resultado na busca, seu queixo caiu. E o espanto só aumentou ao abrir a busca por imagens.

Um arrepio percorreu minha coluna. Pelo choque no olhar do papai Dylan, e pela palidez em seu rosto, eu já previa a resposta.

"Não. Nem pensar." Ele guardou o celular e colocou as fatias de pão na torradeira.

"Por favor, pai!" Eu lhe estendi minhas notas, mas ele nem quis ver. "Sou o melhor aluno da turma, sempre tiro A em todas as matérias!"

Papai Dylan suspirou exausto, largando o café mais uma vez.

"Hian, o que fazem os tritões?"

Eu baixei a cabeça.

"Satisfazem o seu predestinado e reproduzem a espécie."

"Exato. Não se esqueça, Hian, que humanos são uma espécie menos evoluída. O chamado deles é uma sutil intuição, e a formação de núcleos é imprecisa, e quebra-se com facilidade. O chamado valoriza pureza e virtude, o oposto de uma... uma... festa indecente e promíscua."

"Mas o Maikon também vai..." Falei, com a voz quase sumindo.

Papai Dylan afagou meu cabelo.

"Eu imagino que seja complicado, mas você não pode se corromper. Um bom tritão..."

Ondas em Rebentação (AMOSTRA)Onde histórias criam vida. Descubra agora