Capítulo 4

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BELLANNE

"Wake up" soou do meu celular, e quando me virei na cama e vi o Alex ainda dormindo, abdiquei do meu hábito de protelar a saída da cama. Se eu ficasse mais dez minutos ali, ele não me deixaria sair antes das oito.

Levantei rapidamente e apanhei uma calça de moletom, uma camiseta, uma borracha de cabelo e meus tênis. Precisava respirar o ar marinho e pensar um pouco. Bebi um copo bem cheio de água e passei a mão no Ipod e nas minhas chaves. Desci os quinze andares pela escada e quase trombei no zelador. Precisava muito ver o mar, olhar a linha do horizonte e sentir aquela imensidão.

Havia poucos carros na rua e alguns rostos conhecidos no calçadão. Selecionei a coletânea de Blake Shelton e iniciei um alongamento rápido, puxando o ar carregado de maresia e enchendo meus pulmões. Amarrei meus cabelos em um rabo-de-cavalo alto e logo já estava caminhando.

Precisava preparar meu espírito para a prova de roupas com a mamãe. Ana Maria é uma mulher fascinante. Sempre muito elegante, discreta e inteligente — um modelo bem difícil de alcançar. Minha mãe sempre foi o exemplo a ser seguido por mim e por Margie, mas nenhuma das duas havia conseguido chegar sequer perto. Margie, com seu jeito delicado, princesinha de ser, conseguiu me ultrapassar léguas, mas ainda assim, estava longe de fazer jus à Sra. Ana Maria Fraise.

Naquela manhã, eu iria encontrar a Ana Maria mais difícil de lidar: a que manipula sem ser autoritária; a que critica sem proferir uma única palavra de ofensa. Em vinte e sete anos, eu ainda não sabia como agir com esta sua versão. Por sorte, ela também sabia ser uma mãe doce, amorosa e encorajadora.

Eu já havia alcançado um ritmo de corrida confortável, mas o susto que levei ao ver o carro de luxo preto parado no semáforo fez meu coração disparar. Não podia ser...

Parei de correr e estreitei os olhos. Era o mesmo carro que o Erik usava quando nos vimos no congestionamento. Não é possível que nem na minha corrida, na minha área, ele me daria sossego!

O semáforo abriu e, à medida em que o carro se aproximava, eu sentia o ar parar ao meu redor. O vidro era escuro e pouco dava para ver, mas quando ele passou bem ao meu lado, soltei o ar que nem havia me dado conta de que estava prendendo.

Era uma mulher ao volante.

Coloquei as mãos na cintura e soltei o ar com força, enquanto dobrava o corpo e ria de mim mesma. Que idiota, hein, Bellanne? Seria azar demais, esbarrar com Eric às sete e meia da manhã. Seria um sinal de péssimo presságio. Dei meia volta e retomei minha rota no mesmo ritmo em que estava, antes de quase encontrar o viking infernal.

Os olhos dele ocuparam a minha mente quando encarei o azul daquele mar lindo da Barra. Eram de um azul tão intenso, tão profundo, como jamais vi igual. Eu não curtia loiros, muito menos gringos. Sempre fui mais dos morenos, estilo sangue apache. Só que era realmente difícil ignorar a beleza do viking diabólico. A barba castanho-dourada e crescida lhe conferia, ao mesmo tempo, seriedade e cafajestagem. O olhar fixo, penetrante, parecia me perseguir até ali, nos confins da cidade, quase no portão da minha casa. Parei antes de entrar no prédio e olhei para os dois lados, mas não havia nada suspeito. Piração minha, claro. Optei pelo elevador — a corrida havia me desgastado além do normal.



— Bell? Vai querer ovos?

Alex estava na cozinha e o cheiro de ovos fritos e pão integral torrado perfumava o ar.

— Quero sim, apenas ovos e suco. Tem uma jarra de suco de graviola na geladeira.

Passei direto para o banho e tomei uma ducha rápida, abdicando de lavar os cabelos para não me atrasar.

Bellanne-se! - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora