Recomendo ler o conto anterior (S.L.A.V.E) antes de ler esse
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Oslo, Noruega, Setembro de 2109, 22:00, Sábado
Políticos de diferentes hierarquias se reuniam ao redor de uma grande mesa oval, discutindo o futuro daquele tão próspero país. Tal debate ocorria por dias seguidos sem chegar realmente a algum lugar, e o cansaço de todos estava começando a aparecer em seus tons irritados e nas palavras, antes eloquentes, se tornando cada vez mais rudes.
"Não podemos simplesmente nos render assim! Somos uma das maiores economias do mundo!" Um homem careca de terno escuro, que ocupava o posto de Ministro da Guerra, exclamou ao bater com o punho sobre a mesa.
"Se não nos rendermos, eles vão dar início a um embargo nunca visto antes! Podemos ser poderosos, mas não conseguiremos viver isolados" Respondeu uma senadora, vestida de modo igualmente formal, mas no lugar de suas mãos, havia próteses de um metal escuro.
"Não sabemos se eles vão realmente fazer isso, podem estar querendo apenas nos assustar" um alienígena de pele vermelha semelhante a couro, com longos chifres e garras, falou calmamente, sentado em sua cadeira. Era conhecido por suas soluções diplomáticas e facilidade de conversa, não era a toa que havia sido eleito Ministro de Relações Exteriores.
"O que eles pedem é inaceitável, não vamos impor tal regime num país democrata como o nosso. Intolerância não será aceita, seja com humanos, alienígenas ou qualquer outra raça." Um dos ministros ali presentes falou firme, um homem negro de voz grave e intimidante, fazendo alguns ali se encolherem.
"A Nova Coligação está fora de controle, nossos informantes reportaram sequestros, torturas e homicídios contra aqueles que tentaram derruba-la. Eu não quero fazer parte desses números." Outra ministra disse, a boca enrugada numa linha fina e o olhar sério.
Mais e mais discussões preenchiam a sala, e a única figura que nada falava permanecia sentada na ponta da enorme mesa, os olhos em fenda admirando o vazio enquanto seu cérebro trabalhava como nunca, na tentativa de achar uma solução para aquela situação. Ser presidente de um dos únicos países que ainda não havia nenhuma pretensão de aderir ao novo regime não era fácil, e Callista Niara estava cada vez mais cansada.
Primeiro, 4 anos atrás, ocorreu um golpe na Coreia que deu início a uma série de eventos mundiais. Outras nações, em seu desespero por melhora nas condições da população, começaram a aderir a tal regime. Brasil e Estados Unidos no final de 2107 foram os últimos países que controlavam o grande mercado mundial a fazê-lo. Embora suas condições econômicas tivessem melhorado, relatórios de espiões demonstravam que a nova regra de segregação populacional, enaltecendo humanos entre outras raças, trouxe impactos extremamente negativos para as condições de vida dos outros habitantes. Sendo ela mesma uma não-humana, fazer parte dessa atrocidade era a ultima coisa que queria.
Por outro lado, a Nova Coligação havia feito ameaças implícitas nos últimos meses, em indiretas e comunicados formais, mas a Drekash, como sua raça era chamada pelos humanos, não era ingênua. Ela sabia do que eles eram capazes e não parariam em um mero embargo econômico, queriam total controle de sua nação. A questão é que não havia nada que pudesse fazer para impedi-los, seu exercito não era tão forte assim e ela não queria sacrificar tantas vidas inocentes. Era um verdadeiro impasse.
Ela suspirou, deixando os ombros caírem em derrota, já estava muito tarde, estavam exaustos. Mais um dia se passou sem chegarem a lugar algum, teriam de continuar pela manhã. Enquanto isso a Coligação dava um passo a frente, e eles continuavam sem respostas... Ela ergueu a mão e a sala se silenciou.
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Cyberpunk Chronicles
Science Fiction"É a combinação entre cibernética e punk, descrevendo um lugar controlado por tecnologias de informação num ambiente de dominação ou destruição da sociedade, da revolta de seus cidadãos e da degradação do estilo de vida. As sociedades sao marginaliz...