Eu ainda me lembro daquela noite, aquela maldita noite. Faltavam exatos 7 dias para o meu aniversário, eram onze horas da noite e eu estava vendo um programa qualquer na TV, eu tinha 9 anos, minha irmã mais nova tinha apenas 5, lembro que eu estava rindo de algo que ela tinha me dito, ela riu também e se levantou, correu pro quarto e foi brincar de boneca. Meus pais estavam no quarto, eu ainda me lembro que era um sábado, eles me deixavam dormir tarde nos finais de semana. Lembro que eu estava muito feliz, tinha passado o dia correndo com meus amigos, que hoje em dia nem lembram que eu existo, não que a culpa seja deles, eu me afastei de tudo que me lembra ele. Continuando, eu estava feliz, mas não totalmente, ele estava no hospital, estava doente e eu não podia visita-lo, minha mãe dizia que eu era muito nova, eu não achava isso, me considerava uma adulta, mesmo sendo menor que a maioria das crianças da minha idade, foi ele que me fez acreditar que eu era diferente, me dizia que eu era mais inteligente que muitas pessoas, que era mais corajosa que muitos adultos e que era mais feliz do que muitas pessoas. Veja bem, ele era meu herói, tudo que eu respeito, eu via nele a personalidade que eu queria ter no futuro, engraçada, de bem com a vida e humilde.
Mas tudo acabou com um telefonema. O celular do meu pai tocou, quando ele atendeu, eu senti um calafrio, mas foi quando eu escutei a voz dele que eu soube que algo estava errado.
- Você tem certeza? – Meu pai perguntou, à essa altura eu já tinha me levantado do sofá e já tinha ido para mais perto do quarto de meus pais, porém eu não precisei andar muito para descobrir o motivo de sua voz estar alterada, ele não estava gritando, ele parecia estar chorando, até aquele dia eu nunca tinha visto meu pai chorar. Foi então que minha mãe entrou em cena.
- Não! Meu companheiro não! – Ela gritou tão alto que eu me assustei, minha irmã também se assustou, pois ela correu pra fora do quarto, ela perguntava o motivo de minha mãe estar gritando e perguntava com quem meu pai estava falando, mas ninguém respondia ela.
Então ela se virou pra mim, vale ressaltar que eu sou muito emotiva, choro por qualquer coisa, mas não o choro silencioso, eu fazia um escândalo. Só que, quando ela se virou pra mim, ela me viu olhando pro nada, com as lágrimas caindo, eu não fazia um único som, não tinha como, eu havia perdido meu chão. Ela chegou bem pertinho e perguntou baixo.
- Lari, o que foi que aconteceu? – Ela perguntou puxando a barra da minha blusa.
- Ele se foi... – Eu murmurei, deixando mais algumas lágrimas caírem.
- Quem? – Ela perguntou ainda mais baixo do quê da primeira vez.
Eu olhei bem pra ela, respirei bem fundo e fiquei de joelhos, minha irmã também era baixa, então eu fiquei mais ou menos de sua altura. Coloquei minha mão no seu ombro e apertei de leve.- O vovô morreu, Laíze – Sabe quando a ficha cai? A minha ainda não tinha caído, eu estava chorando mais pelo pensamento de perder meu avô, do quê a crença na notícia, de que eu realmente havia perdido ele. Só que quando eu disse aquilo a minha irmã, foi como se eu me desse conta que ele tinha mesmo partido. Ela ficou me olhando por uns 20 segundos, sem falar nada, ela piscou três vezes, se encostou na parede e escorregou até o chão, ela começou a chorar, foi aí que olhei de volta para meus pais, minha mãe ainda gritava e meu pai estava ali, abraçando minha mãe, sem dizer nada. Ele olhou pra mim e ficamos assim, nós quatro, no corredor do nosso pequeno apartamento, sentindo o impacto da notícia.
- Larissa, vá se trocar e leve sua irmã junto, vou avisar para sua tia – Ele disse isso, eu me levantei, peguei o braço de minha irmã e puxei ela até o quarto, peguei um vestido e vesti de qualquer forma, peguei um short e uma blusa pra Laíze e ajudei ela a se vestir.
Quando a gente saiu do quarto, meu pai estava destrancando a porta e saindo com a minha mãe, ele virou pra trás e fez um sinal pra gente seguir eles. Andei até lá e quando Lalá passou pela porta, eu tranquei e nós duas descemos as escadas do nosso prédio. Antes mesmo de sair, eu já escutava os gritos. “Meu pai acabou de contar para minha tia...” foi isso que pensei na hora.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Com Todo o Meu Amor
Short Story"A saudade existe não porque estamos longe, mas porque um dia estivemos juntos" Vocês sabem que plágio é crime, não é? Então vamos evitar o discurso todo. Aproveitem!