No dia do nascimento de seu último filho, Manoel conseguiu voltar antes das últimas contrações, das últimas dores e antes da criança ser lançada para fora da barriga da mãe.
A chuva caía forte sobre eles quando, finalmente, o cordão umbilical foi cortado e o pai cobriu a mãe e o filho recém-nascido com grandes folhas de uma planta que usavam para cobrir seus barracos. As meninas ainda ficaram bastante tempo sentadas sob a chuva, tremendo de frio, e assustadas com todo o ocorrido. Mas... com o estômago, pelo menos, forrado. Não cheio. O pai conseguira matar um tatu e encontrar frutas do cerrado.
Nos meses seguintes a família foi testemunha muda e escondida, do extermínio dos últimos do seu povo, que ainda se mantinham escondidos nos emaranhados de espinhos, samambaias e cipós, na margem do rio. Definitivamente expulsos do campo, seu território tradicional, agora totalmente invado pelos criadores de gado.
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Os últimos de seu povo
Ficción históricaA família já não tinha mais nada. Sequer algo para comer. Estavam encurralados e escondidos nos fundos de uma, agora, fazenda de gado. E tinham muito menor valor que uma cabeça de gado. Não tinham para onde ir, ou a quem recorrer. E a mulher est...