4. O fim

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Em 1903 só restavam, da tribo Oti, no campo, um homem, quatro mulheres e quatro crianças. Nesse mesmo ano foi morto o último homem adulto do grupo: um tal de Manoel Caetano.

Mais tarde, essas quatro mulheres, foram vistas pelos brancos, tentando se unir a eles. Estavam sendo perseguidas pelos índios coroados, seus inimigos naturais. As mulheres correram, com os filhos nos braços, para perto de um grupo de trabalhadores, que colhiam milho. Agarrando-os pelas mãos, encenaram que queriam se unir a eles, precisavam de proteção.

Os trabalhadores, no entanto, associando-as aos temidos coroados, foram tomados de pânico e correram para suas armas. O primeiro deles atirou, da distância de menos de um metro, na mulher indígena, que se encontrava mais próxima, lhe estraçalhando a cabeça. Ela caiu aos seus pés. Seu corpo ainda tremia, enquanto o sangue crescia, colorindo de vermelho vivo, a massa cinzenta do cérebro danificado.

As outras três mulheres, fugiram para o mato e os homens para suas casas.

No dia seguinte, voltaram para ver a mulher morta. Só então verificaram que ela tinha a orelha furada, sinal de que era da tribo Oti. Junto ao cadáver da mulher, encontraram viva uma criança, a qual só viria a falecer muito tempo depois. Estava ali morta, Aimara, a que foi esposa de Manoel, morto no mesmo ano.

As outras três mulheres não seriam mais vistas. Os brancos encontrariam, de vez em quando, nos mais retirados recantos do campo sem fim, suas três choças.

No ano de 1908, um boiadeiro, que procurava um gado perdido, as viu. Elas tentavam atravessar um brejo. Com elas já tinha só uma criança. A última menina viva da família de Aimara.

Depois disso, a última notícia desse povo, veio por meio de um viajante, que encontrou apenas duas mulheres sentadas ao lado da estrada. Elas estavam esqueléticas, como só um cachorro pestilento pode ser concebido, e encobriam o rosto com suas mãos. 

FIM 

Os últimos de seu povoOnde histórias criam vida. Descubra agora