O que os olhos não vêem...

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Vesti o sobretudo preto e pesado que costumava usar para essas ocasiões especiais e saí da minha casa; tranquei as portas olhando ao redor... as 22:00 de uma sexta-feira 13 não se deve dar bandeira: minha mãe sempre dizia isso.

As noites da Califórnia normalmente eram frescas e agradáveis, mas hoje o céu estava um tanto mais obscuro que o normal, as ruas mais vazias do que de costume e o vento frio insistia em tentar cortar o rosto dos corajosos que se aventuravam noite adentro. 

Eu era a quinta geração de caçadores de monstros da minha família. Seres humanos se transformam em feras em noites de lua cheia, mas existem tantas outras aberrações espalhadas pelo mundo...

Dessa vez, estávamos atrás de algo por enquanto desconhecido. Só sabíamos que as vítimas eram sempre encontradas sem os olhos. Procuramos pelos anciãos da nossa comunidade, mas em nenhum livro - mesmo nos mais antigos - haviam pistas que nos levassem a que tipo de besta iríamos enfrentar.

A Califórnia é o meu distrito de proteção. Meus pais estão em Boston numa missão a procura de uma família de bruxos que utilizam seres-humanos em rituais mágicos, e cá estou eu a procura de algo que não sei o que é.

Caminhei por alguns minutos, me esgueirando pelas largas calçadas e estreitas vielas em busca de vestígios. E então eu o vi novamente.

- De novo por aqui S/N?! Não tem medo do tal monstro que os fofoqueiros dizem estar arrancando os olhos das vítimas?! - ele disse com um sorriso debochado estampado em seu rosto. Aquele belo rosto que já foi personagem principal dos meus sonhos.

- Digamos que não acredite em lendas urbanas... e também... precisava tomar um ar fresco - menti descaradamente. Não podia expor minha comunidade de caçadores, tampouco confirmar a existência desses monstros, isso causaria danos irreparáveis aos civis.

- Posso te pagar um café então?! A noite fria pede uma bebida quente - ele era um dos homens mais bonitos que já tinha visto. Precisava continuar minha busca, mas parar por alguns minutos não causaria estragos, não é?!

- Não tenho um argumento para não aceitar seu pedido, Jungkook - vi os olhos dele brilharem, e podia jurar que mudaram de cor...

Por um momento fiquei estatística, mas logo voltei a realidade com seu chamado.

Andamos por um tempo nas ruas não muito claras, com o vento gélido penetrando nossas roupas e a atmosfera sombria que a noite trazia até chegarmos a uma cafeteria simples.

A mesma se encontrava quase vazia, mas mesmo assim, por incrível que pareça, acolhedora.

Eu e Jungkook nos sentamos em uma das mesas perto da janela. Ele pediu um café forte e eu um expresso.

Mesmo que nós dois não necessariamente quiséssemos quebrar aquele silêncio, começamos a conversar sobre coisas aleatórias e rotineiras até nossos pedidos chegarem.

- Ah... Nada como algo quente em uma noite gelada! - Ele diz e eu apenas lhe dei um meio sorriso. - Mas, então, S/N? Você me disse que precisava tomar um ar... Aconteceu algo?

A maneira que ele havia me perguntado parecia-me estranha, sem preocupação. Sem curiosidade. Mas seus olhos, quase mortos, porém, com um brilho psicótico e com uma tonalidade violeta substituindo o castanho, denunciavam um sorriso diabólico que ele escondia.

O que os olhos não veem...Onde histórias criam vida. Descubra agora