Minha liberdade me custou caro, eu sei. Mas não a trocaria por nada.
Voar alto, com asas só minhas, foi um aprendizado duro e prazeroso - coisa para Sade se deliciar.
Quando havia a dor também havia prazer e meus vôos foram longos... nem sempre quentes, nem sempre solitários, mas sempre compensadores, didaticamente compensadores.
Criança, ainda, vi uma borboleta saindo de seu casulo e nada me pareceu tão frágil - qualquer ventinho esmagaria fácil aquelas asas quase transparentes. Eu também aprenderia a voar - mas as minhas asas seriam firmes e eu não perderia o meu poder de pássaro. Não domaria meus sonhos.
Nadine olhou-se sordidamente no espelho e viu seus próprios pensamentos.
Tirava as meias e se lembrava daquela boca em seus pés, sugando seus dedos ainda no carro, das mãos que entravam pelo decote de sua blusa e expunha sua pele nua – e o semáforo maravilhosamente fechado.
Tesão antigo, acumulado, proibido e negociado – que importava agora? Não havia culpa nenhuma. Só prazer. Sem conseqüências no dia seguinte – exceto pela enorme vontade de rir ao encontrá-lo formalmente e lembrar da trepada tântrica-selvagem que tiveram e da qual ninguém mais sabia.
Nadine gostava de ser eroticamente explorada e dava, literalmente, tudo de si enquanto transava. Ficava de quatro com orgulho. Cavalgava com prazer um belo animal humano.
Passeava pela sala ainda deliciada com aquelas lembranças e não se importava com a janela aberta – sua pele era sempre quente.
No nono andar do prédio vizinho, a luz ainda estava acesa - como Nadine.
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Aprendendo a voar
ChickLitA vida de Nadine Kingston e sua jornada em busca de liberdade, independência e de si mesma.