O caminho até a casa dos meus tios foi marcado por longos momentos de silêncio, uma música sertaneja insuportavelmente alta e algumas perguntas pontuais da tia Joana. Minhas mãos ainda doíam depois de carregar minha mala até onde o meu primo havia estacionado o carro.
Enquanto minha tia comentava sobre como tudo tinha mudado, eu percebi os olhos de Caleb me observando pelo retrovisor. Tentei disfarçar olhando para a janela, mas quando tentei olhar discretamente de novo, lá estava ele com aqueles olhos mel me analisando.
Eu achei que demoraríamos alguns minutos ainda para chegar na zona rural da cidade aonde deveria ser a chácara dos meus tios, mas para a minha surpresa o carro parou em frente a um pequeno sobrado branco, com grandes janelas de madeira escura, uma rede armada na garagem e um jardim florido na frente. A casa não tinha portões altos como eu estava acostumado, ao invés disso ela tinha uma cerca composta por pequenos arbustos e um portão que batia mais ou menos na minha cintura.
Minha tia e meu primo saíram do carro e olharam para mim. Impaciente, Caleb abriu a minha porta de supetão e soltou:
- Chegamos vossa realeza! - Disse ele fazendo uma reverência e apontando para casa.
- Caleb!! Vamos querido..- Tia Joana me deu um sorriso pedindo desculpas e abriu o portãozinho.
Eu já ia entrar na casa quando ouvi Caleb pigarrear ao lado do carro. Ele estava com o porta-malas aberto e fez um gesto com a cabeça indicando a mala.
- Pelo amor de Deus Caleb! Você quer matar a sua mãe de vergonha? O que está acontecendo aqui? Você trate de pegar a mala do SEU primo e levar para dentro. - Tia Joana tinha adquirido um novo tom de vermelho e seu olhar parecia poder fulminar alguém em segundos.
- Não se preocupe tia eu posso ....
- Não se atreva a pegar essa mala Tato! - Ela disse sem tirar os olhos de Caleb - Vamos entrando. Seu primo vai levar sua mala para o quarto COM A MAIOR ALEGRIA, não é Caleb?
- Claro ,uhuu.- disse meu primo jogando as mãos para cima - Mas depois vou ter que voltar para o trabalho. O Sr. Moura não gostou nada de me liberar no meio do expediente. - Caleb falou essa última parte enfatizando que eu tinha atrapalhado sua rotina.
- Imagina, o Sr Moura não se importaria de te dar a noite toda se você pedisse. Acho que o motivo de você querer voltar é outro ... - Minha tia se virou para mim - O Caleb tem uma quedinha pela filha do dono da farmácia que ele trabalha...
- Mãe! - Com esse rosnado ele abriu a porta e subiu pisando duro a escada de madeira que tinha logo do lado da porta.
- Entre querido. Não repare no mal humor do Caleb. Os meninos andam meio .... tensos ultimamente. - Tia Joana olhou para baixo e por um momento eu vi uma nuvem escura em seu olhar. Percebendo que eu a observava ela logo completou - Mas não é nada com você viu? Vamos .. quer um lanchinho? Tomar um banho? Tira um soneca? Todo mundo deve chegar para o jantar às 22h. Costumamos jantar tarde aqui em casa. Então se você estiver com fome eu posso preparar alguma coisa para você beliscar.
- Não precisa tia, eu comi no ônibus. Acho que vou só tomar um banho e descansar um pouco. O tio Marcelo está no trabalho também? - Perguntei estranhando que ela não tinha mencionado o nome do meu tio.
- Ah ele está em Campo Verde. É a maior cidade da redondeza . Ele teve que ir lá .... resolver algumas coisas. Creio que estará conosco só na semana que vem. Venha , deixa eu te mostrar seu quarto.
A casa era pequena, mas confortável. Subimos a escada e eu dei de cara com um corredor com cinco portas. No final do corredor uma das portas estava entreaberta e percebi que ali era o banheiro ... Espera. Será que só tinha UM banheiro para esse tanto de gente? Ah meu Deus! Eu não conseguia dividir o banheiro nem com meus amigos quando iam dormir em casa, imagina dividir com mais sete pessoas.
Passamos pelas duas primeiras portas, uma de frente para a outra e paramos em frente a segunda da esquerda. A porta já estava aberta e vi minha mala ao lado de uma cama que ocupava quase todo o quarto, deixando apenas espaço para uma cômoda e um criado mudo. Não que a cama fosse grande, o quarto que era pequeno mesmo.
- Você vai ficar no quarto do Caio, ele vai dormir junto com o Caleb. É um quarto pequeno, mas foi o único jeito que achamos de cada um ter o seu espaço na casa. A porta da frente é do quarto do Gabriel, do lado dele fica o quarto do Léo e do lado do seu vão ficar os gêmeos. No final do corredor tem o banheiro. Os meninos normalmente usam ele em horários intercalados, pois cada um tem o seu horário para chegar e sair. Você vai se acostumar logo. O meu quarto fica lá embaixo, depois da sala. Se precisar de qualquer coisa pode bater lá a qualquer hora viu querido?
- Sim .. tudo bem. Mas eu posso dormir na sala, não precisa tirar o Caio do quarto dele. Eu poderia ...
- Ótimo , tenho certeza que você vai amar o sofá. - Surgiu Caleb da porta do seu novo quarto.
- Imagina Tato, não tem necessidade nenhuma disso. Já fizemos toda a mudança. Sorte que Caleb ainda dorme no antigo beliche dele , então caiu como uma luva. Além disso estamos numa época de muito frio, você congelaria na sala.
- Ok. Se a senhora tem certeza..
- Tenho sim. Agora vá descansar. Quer que eu te acorde na hora do jantar? Se preferir pode ligar o alarme que tem do lado da cama. Seu pai me avisou que você estaria sem celular e como tudo hoje em dia depende desse aparelhinho , imaginei que você poderia estar um pouco perdido no tempo.
- Ah sim.. obrigado. Eu vou colocar o despertador.
Dei um abraço rápido na minha tia e entrei no quarto minúsculo fechando a porta atrás de mim. Era impossível mais uma pessoa entrar ali. Como Caio conseguia morar ali? Dei uma olhada nas gavetas da cômoda e todas estavam vazias. Que ótimo! Além de ter tirado o meu primo do quarto , a minha presença ainda tinha obrigado ele a tirar todas as suas coisas do quarto. Se Caleb estava me tratando assim, imagino a alegria com a qual Caio iria me receber. Aliais julgando pelos últimos acontecimentos, imagino a alegria com que todos todos irmãos iriam me receber.
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O preço do nosso amor (Romance gay)
RomanceTato sempre teve a vida perfeita: rico, popular e com pais que o aceitam como ele é. Sua maior preocupação era com qual combinação ele iria desfilar pelos corredores da Castro e Silva no próximo dia. Mas as coisas estão prestes a mudar. Obrigado a...