Capítulo 6

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Não era um restaurante da moda e nem fazia o tipo caríssimo, mas o lugar tinha um charme sem igual. Dividido em três salões, o melhor deles ficava no subsolo, onde havia uma varanda de madeira apoiada sobre uma escarpa, com vista para o mar. Sob a varanda, havia um jardim belíssimo, com imensas cerejeiras que subiam e alcançavam a parte mais alta da varanda. As lanternas, espalhadas pelo jardim, davam uma aura aconchegante e como era dia de semana, não haviam muitas mesas ocupadas.

O maitre nos levou para a mesa que estava no local mais ermo da varanda, bem ao lado da balaustrada, onde os galhos das cerejeiras quase invadiam o espaço.

Nos sentamos e logo o cardápio nos foi apresentado. Enquanto decidia o que gostaria de comer, observava Erik por sobre o cardápio. Seus olhos azuis estudavam de cima a baixo as opções e ele mantinha uma expressão séria, encantadora. Por fim, decidimos pedir uma barca completa e vinho branco para acompanhar, depois que declinei do saquê. Não tinha a menor intenção de perder a noção das coisas nessa noite.

- Então, senhorita Fraise, quando decidiu que seria uma fotógrafa brilhante?

Seu tom era jocoso e pensei que Letícia iria enfartar, quando escutasse a pronúncia perfeita do meu nome.

- Decidi? - Eu ri, não tanto por achar graça, mas porque me sentia em estado de graça. - Não decidi, simplesmente aconteceu.

- E as coisas simplesmente acontecem para você? Achei que você apenas definia suas metas e as conquistava. Não me parece o tipo de mulher que espera as coisas acontecerem.

E porque havia um quê de admiração em seu olhar, eu me permiti não responder de pronto. O garçom já havia nos servido o vinho e vi Erik me fitar por sobre a borda da taça. Ele aguardava minha resposta e eu estava buscando na memória se alguma vez já havia esperado por um olhar daquele.

- Quando o que se quer é especial, às vezes, é bom esperar apenas que chegue até você. Naturalmente.

Ele sorriu, do jeito que se tenta segurar o riso para que ele não se torne um super sorriso. Erik era especialista nisso. No riso contido, dissimulado e sexy.

- Hoje, na reunião, eu vi que as pessoas não têm muita chance. - Franzi o cenho, sem entender o que ele tentava dizer. - Elas são "naturalmente" atraídas por você, senhorita Fraise.

Ri sonoramente.

- Se está falando de Carol, eu não fiz absolutamente nada para seduzi-la.

- Não precisa. Como eu disse... As pessoas não têm escolha.

Saboreei o primoroso vinho e decidi mudar o rumo daquela conversa.

- Foi por acaso. A fotografia. Eu sou jornalista, mas a fotografia me ganhou. - Ele assentiu, sem tirar os olhos de mim em nenhum momento. - E você, Erik... De onde vem? Quem é? Quais os seus hábitos alimentares e noturnos?

Rimos juntos da alusão à um programa de TV, que tende a estudar a vida animal.

- Eu sou filho de um empresário dinamarquês, nada simpático, com uma artista brasileira cheia de simpatia. Cresci em Copenhague e pouco depois que minha mãe morreu, fui embora de casa.

- Eu sinto muito por sua mãe. Você ainda era muito novo?

- Tinha dezesseis anos e meu irmão oito. Fui morar sozinho dois anos depois, mas só aos vinte um, com a minha parte da herança, pude começar a minha vida em Paris.

Ergui uma sobrancelha, compreendendo por que a sua pronúncia do meu nome era perfeita.

- Foi quando começou a Drakkar?

Bellanne-se! - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora