Em duas semanas de aula, descobri que o colégio não era de todo mal quanto eu pensava. Os professores eram severos, porém animados e gostavam da nossa turma (por mais que 99% dos alunos só façam bagunça); o método de ensino era ótimo e, até o presente momento, estava entendendo todas as matérias ao revisá-las após as aulas em casa depois de fazer tudo que minha avó mandava.
Mesmo assim, havia apenas uma coisa que eu não havia entendido ainda. Após ter falado rapidamente com Morya Kim no primeiro dia de aula e com Jimin, minha boca só abriu novamente para tirar dúvidas durante as aulas. Por passar os intervalos sozinhas por não ter feito nenhuma amizade ainda, vários perguntas começaram a pipocar em minha mente, como diversos mini seres em forma de ponto de interrogação falando com vozes finas: Por que você está sozinha, Sirena? Por que não tenta se aproximar de Morya da mesma forma que ela se aproximou no primeiro dia? Por que não tenta algo?
Todas as respostas para essas perguntas foram dadas no fim da primeira semana, na sexta-feira. Estava andando pelo pátio até o banco de pedra perto da escadaria após comprar um salgado na cantina e vi as meninas com quem Morya havia conversado depois de mim na segunda-feira me olhando torto de cima à baixo e depois cochichando. Fingi continuar andando, mas me escondi atrás de um pilar perto de onde as duas se encontravam e ainda espero esquecer o diálogo que ouvi:
- Ainda não entendi o que alguém como ela faz aqui no colégio - disse Sohyun Kim, a menina de postura impecável.
- Ela está estudando como nós, Kim - disse a outra, Sori Mya, baixinha e com certo pavor no rosto.
- Não seja tão ingênua, Sori. Aposto que você não sabia que a escola tinha um sistema de cotas.
- Cotas?
- Vai me dizer que não notou a cor da pele dela. Beira o marrom cor de barro.
- Ela não é tão morena assim.
- Não, ela só é preta.Tal palavra, preta, me atingiu de certa forma no meu interior. Fechei os olhos e tentei afastar os pensamentos ruins, voltando a prestar atenção na conversa:
- Ela deve entender que o lugar dela não é aqui com a gente. É na escória do lugar de onde veio - disse Sohyun.
- E você sabe por um acaso de onde ela veio? - perguntou Sori.
- Não, mas de onde você acha que esse tipinho de gente vem? - Sohyun disse rindo.
- Você não deveria ser tão má com as pessoas, Kim.
- Você por acaso acha certo uma menina como ela vir aqui, roubar a vaga de quem realmente é bom o bastante para estudar aqui e sair impune? Você concorda com o que ela faz? Está do lado dela, Sori?Sori Mya não falou nada, apenas abaixou a cabeça e ficou quieta, fazendo com que Sohyun desse um grande sorriso de satisfação. A conversa acabou ali, mas ela continuou martelando na minha cabeça.
Naquele dia, voltei para casa na hora do almoço. Pensei no que tinha ouvido o trajeto inteiro e, enquanto ajudava minha avó a cozinhar, a fiz uma pergunta:
- Vovó - chamei.
- Diga, querida - ela respondeu.
- A senhora acha que eu sou...preta?Minha avó parou imediatamente o que estava fazendo e me olhou incrédula com as palavras que haviam saído da minha boca.
- Sirena Siyoon, nunca mais repita isso - ela disse.
- Eu estou falando sério, vovó. Você acha isso? Pode me falar.Ela me olhou com um certo pesar, se sentou em uma cadeira na cozinha e puxou outra, indicando com o dedo para que eu sentasse.
- Querida, você já é crescida o suficiente para entender o que eu vou dizer. Quando seu pai era jovem e resolveu que queria estudar fora do país, eu e seu avô ficamos muito bravos. Queríamos que ele ficasse na Coreia, fizesse a faculdade de medicina que tanto desejamos para ele, mas ele foi teimoso, passou em uma faculdade renomada na Califórnia para estudar Arte e foi. Arte! Aquilo foi o cúmulo. Seu avô e eu nos recusávamos a falar com ele, principalmente quando ele conheceu sua mãe. Mas aí, seu irmão nasceu e depois veio você. Eu ainda tinha certo preconceito, mas quando te vi pela primeira vez, eu desmoronei. Todo meu pensamento antiquado foi embora. Minha neta, mulher, coreana-americana, morando num país antiquado.
- Onde a senhora quer chegar? - perguntei.
- Eu fiquei preocupada quando seus pais disseram que viriam morar aqui. Não por eles, não pelo seu irmão, mas por você. Querendo ou não, mulheres sofrem e eu sempre rezei para que isso nunca acontecesse com você, mas aí você chega hoje e me diz que as pessoas lhe chamaram de preta. Isso parte meu coração.
- Parte o meu também, acredite.
- E é nessas horas que eu me lembro de sua mãe e de seu pai. Ambos eram destemidos, não tinham medo da vida e de suas consequências. Seu pai nos desafiou ao nos desobedecer e foi ser feliz. Sirena, o que você deve entender é: pense fora da caixa. Não se prenda a padrões. Seja quem você é. As outras pessoas não tem nada a ver com a sua vida, e as pessoas que falam mal de você por uma coisa tão antiquada quanto a cor da sua pele não merecem nem os neurônios que você queima ao pensar no assunto.
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Maybe One Day {Park Jimin} - HIATUS
Fanfic[Capa da maravilhosa @chanbreak ♡] "É verdade quando dizem que o tempo muda as pessoas. Acredite, eu sei que é verdade. Sabe porquê? Porque eu mudei, Park Jimin. Eu mudei o jeito que eu te olhava, te tocava, te sentia, muito embora você nunca tenha...