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A tenda é decorada com fios de lâmpadas expostas e pedaços de espelho amarrados aqui e ali para dar um brilho. (Só parece mambembe depois que você já pagou.)

Você paga sua entrada a um homem que aparenta conseguir nocautear um boi, mas é um rapaz franzino que lhe entrega o ingresso: impresso em papel grosso e limpo, um canto com tinta dourada em relevo traz um grifo cujas asas mecânicas brilham à gélida luz do luar.

TRESAULTI, está escrito, e abaixo, CIRCO MECÂNICO, o que é ainda mais pomposo do que os cartazes. As lâmpadas estão expostas; quem eles pensam que são?

"Entrem, sentem-se, o espetáculo vai começar!", o jovem berra para as pessoas enquanto distribui os ingressos, e suas pernas articuladas de metal rangem. Por cima do barulho, o vendedor de comida grita: "Venham tomar uma bebida! Cerveja no copo! Cerveja no copo!"

Dentro de um picadeiro invisível feito pelas pessoas do circo em um morro lamacento estão as dançarinas, os anunciantes e os malabaristas. O músico toca dentro da tenda — uma bagunça sonora tilintante dessa distância. As dançarinas rebolando do lado de fora da tenda têm mãos ou pés de metal que brilham sob as luzes, e chamando por cima de tudo isso está o rapaz com as pernas de latão que havia chegado à cidade no dia anterior e espalhado os cartazes do Tresaulti.

Por dentro, a tenda é redonda e clara, com dezenas de lâmpadas penduradas na armação. Algumas são cobertas por lanternas de papel, e a luz fica levemente rosada ou amarelada.

Os trapézios já estão pendurados em seus suportes mais altos, hastes de latão e ferro, esperando pelas garotas que o habitarão. O cartaz diz "Mais Leves que o Ar". O clima na tenda é: Veremos. Não que você espere que alguém é mais leve que o ar, bem, as apostas estão feitas.

(Esses trapézios são impostores; eles são para praticar, só para o início do ato. Para o final, os trapézios verdadeiros aparecem, Big George e Big Tom são erguidos a seus lugares por Ayar, o homem forte, e eles prendem seus braços de metal de dois metros em torno dos mastros e se põem retos como uma mesa. As garotas galopam para cima e para baixo em seus braços, engancham seus pés nos pés de Big George, e ficam penduradas de ponta-cabeça com braços abertos feito asas. Quando Big George balança para frente e para trás, as garotas se soltam, voando, e agarram as pernas de Big Tom do outro lado.

O rufar dos tambores anuncia o início do espetáculo, e as abas da tenda se abrem para a entrada de uma mulher enorme com m casaco de lantejoulas pretas. Seus cabelos pretos e encaracolados pulam por sobre seus ombros, e ela usa um batom vermelho que parece forte demais quando ela está debaixo das lanternas de papel cor-de-rosa.

Ela ergue os braços e a plateia ruidosamente se acalma.

"Senhoras e senhores", ela chama.

Sua voz enche o ar. Parece que a tenda cresce para acolher as palavras, o círculo de bancos se afasta mais e mais, o metálico Panadrome vira uma orquestra, a luz se suaviza e se enrola em torno das sombras até que, de uma só vez, você está empoleirado em um minúsculo assento de madeira sobre um grande e glorioso palco.

Os braços da mulher ainda estão bem abertos, você percebe que ela não parou de falar, que sua voz sozinha mudou o ar, e quando ela continua, "Bem-vindos ao Circo Mecânico Tresaulti", você aplaude como se sua vida dependesse disso, sem saber por quê.


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O Circo Mecânico TresaultiOnde histórias criam vida. Descubra agora