Capítulo Único

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 Aspirou mais uma vez o aroma do frapuccino de brigadeiro. O relógio já indicava as 3 horas da manhã, o horário silencioso e perfeito para as suas horas de trabalho, quando toda a cidade de Londres adormecia — exceto por alguns adolescentes noturnos. O barulho da chave virando na porta de entrada anunciava a chegada de uma dessas adolescentes noturnas em questão.

— Bom dia, Lene — disse Lily.

A morena, com quem dividia apartamento, apenas resmungou, jogando os seus sapatos em um canto da sala, seguindo pelo corredor até o seu quarto. Lily negou com a cabeça, acostumada com o cheiro de bebida alcoólica exalado e também com a falta de horários de Marlene. Voltou a atenção para o branco do Word no notebook. Suspirando, tomou outro gole do café.

Mais uma noite em claro.

Menos um dia para a entrega do capítulo.

— Isso é falta de inspiração — disse Marlene, no almoço do dia seguinte.

— Obrigada por constatar o óbvio — ela resmungou, sentindo que, se bebesse mais um gole de café, entraria em um tipo de coma cafeico.

— Você sabe muito bem como resolver isso — a morena ergueu a caneca, dando um sorriso malicioso — Você escreve muito voltada para os sentimentos, precisa viver a experiência.

Lily levantou o olhar incrédula, como se a amiga estivesse louca, como se os efeitos da bebida deturpassem o seu senso.

— Eu não sou virgem, Lene — sentiu-se na necessidade de lembrá-la.

— Se você não está invocando essa lembrança na hora de escrever é porque não foi bom pra você.

Ela tentou argumentar, mas não pôde, sabia que ela estava certa.

Sua primeira vez tinha sido com Amos Diggory e foi horrível, exatamente como o filme "Love, Rosie" retratava, exceto que ela não perdeu a camisinha na vagina — ainda bem, não precisava de mais um mico em sua lista.

— E o que você sugere? Que eu saia procurando na balada? — a voz de Lily saiu abafada por ter aproximado o copo mais uma vez de sua boca — Eu não tenho um namorado!

— Por que você tem que ser sempre tão certinha? — Marlene revirou os olhos — Uma vez na sua vida não vai te prejudicar!

— Bem, eu não fui certinha quando resolvi ir pra cama com Diggory — ela afastou o copo, irritada — E você viu no que deu.

— Aí foi você quem escolheu a hora errada para deixar de ser certinha.

A campainha tocou e, antes que Lily pudesse fazer algo, Marlene tomou um longo gole de seu suco de laranja, antes de levantar-se.

— Já vou!

Curiosa, ela olhou para trás, perguntando-se se era algum dos ficantes da amiga — o que era estranho, já que voltou sozinha à noite. Abrindo a porta, deu um grito que não deu para entender, parecendo empolgada.

— Lily! Vem cá!

Revirando os olhos, ela levantou-se, sem a mínima vontade.

Encostando-a ao batente da porta da cozinha, teve uma visão privilegiada da porta de entrada, onde ela sentiu-se dentro de uma cena de seus livros de romance.

— Esse é meu primo, Lily! — disse Marlene, sorrindo empolgada — James Potter, e ela é a minha melhor amiga que eu te falei, que dividimos apartamento, ela escreve... Enfim! Você me entendeu!

— Prazer — cumprimentou Lily.

E então, Marlene não pareceu tão empolgada.

— Você se importa dele ficar aqui?

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