Eu fiz de tudo para não encontrar Pietra durante o dia, eu evitei os corredores e locais onde ela pudesse estar, em resumo passei o dia me escondendo.
Soltei um longo suspiro e parei no meio do corredor a caminho da sala de jantar, olhei para o quadro do cavalo negro como a noite, selvagem e destemido, crina esvoaçante enquanto corria e olhos atentos.
- eu não sou assim!-falei sozinha.
Eu realmente não sou assim, nunca fugi de nada. Mas confesso que a presença de Pietra está me incomodando mais do que deveria.
Cheguei a mesa de jantar e todos já estavam presentes, com exceção do Senhor Seymour.
Pietra já estava fazendo seu papel de boa moça, contando suas histórias e tentando chamar atenção.
Em silêncio me sentei ao lado de Ian e murmurei um boa noite muito sem graça.
Notei o olhar preocupado da Senhora Seymour e o olhar curioso de Dorian, mas logo fui esquecida pois Pietra começou a falar mais alto chamando atenção deles.
Não muito tempo depois, o Senhor Seymour se juntou a nós e o jantar foi servido.
Eu estava comendo em silêncio até ouvir um sussurro ao meu lado em meio as perguntas e conversas da hora do jantar:
-você está bem? -perguntou Ian.
Não respondi, apenas fiz que sim com a cabeça e o ignorei.
Por mais que eu tentasse, a voz de Pietra penetrava na minha cabeça fazendo ela doer. Apertei os olhos com força e suspirei.
Quando abri os olhos vi a Senhora Seymour me encarando com curiosidade.
- Senhorita Garner, como foi seu primeiro dia aqui?-perguntou Ian.
- Ah foi incrível. A Senhora Seymour me levou para conhecer a casa, me mostrou os jardins e conversamos bastante. Estou adorando tudo aqui. É tão bonito, vocês são tão acolhedores. Acho que logo me adaptarei a rotina daa casa.
- pelo menos uma parece ter educação!-disse o Senhor Seymour.
Pietra me encarou triunfante, ela ainda acha que isso é uma competição. Ela não sabe da minha vontade desesperada de ir embora, por isso acha que se sobressair vai me afetar.
Não resisti ao impulso de revirar os olhos. Ela é tão fútil, tão infantil, tão...
- Senhorita Helena? -chamou Dorian.
- pois não? -perguntei surpresa.
Pietra instantaneamente começou a rir.
- está ficando surda menina? -perguntou o Senhor Seymour.
- perdão, estava perdida em meus pensamentos! -falei.
- que isso não se repita!-disse o Senhor Seymour.
- não se repetirá Senhor! -falei baixo.
- então Senhorita Helena, como foi seu dia?-perguntou Dorian novamente.
- foi bom!-falei.
- bom?-perguntou ele.- só isso? O que fez o dia inteiro?
-o de sempre! -respondi.
O silêncio voltou a reinar na mesa, até que eu finalmente encorajada disse:
- se me derem licença!
Não esperei para ver a reação do Senhor Seymour, apenas deixei a mesa e fui em direção ao meu quarto.
Acabei por não resistir e parei novamente em frente ao quadro do cavalo negro. Esse quadro mexia comigo. Me emocionava de alguma forma...
- gostou?-perguntou uma voz suave.
Virei-me e vi a Senhora Seymour me encarando no fim do corredor.
- eu adorei, me faz feliz. Eu acho! -respondi.
- também gosto muito dele, apesar de achar um pouco selvagem! O artista têm uma alma selvagem. - disse ela parando ao meu lado.
- não penso assim. Liberdade. É a única palavra que posso pensar.
- depende do ponto de vista! -disse ela olhando para o quadro.
Ficamos em silêncio olhando para ele por alguns minutos.
- o que está lhe incomodando Helena?
- não é nada Senhora Seymour!
- Virgínia, por favor.
- como queira.
- vejo em seus olhos que tem algo errado. O que é? Posso te ajudar?
-não é nada Virgínia. É só saudades de casa.- menti.
Menti descaradamente, eu não estava com saudades de casa. Mas também não tenho certeza do que está me deixando nervosa.
- acho que não é isso!-disse ela.- a presença de Pietra está te afetando bastante não é?
-sim... Não é segredo que não queria me casar, agora ter que viver junto àquela mulher...
- o que tem Helena? Não consigo entender!
- nem eu Virgínia. É só que a presença dela me faz mal. Me sinto confusa, sufocada...
- se serve de consolo, não confio nela!-disse Virgínia acariciando meu ombro.
Ela olhou mais uma vez para o quadro, foi até ele e o retirou da parede entregando a mim.
- o que?
- pendure em seu quarto. Vejo que ele te traz segurança.
- mas é parte da decoração.
- Ian quer que eu me livre dos quadros, ele não vai se importar. Mandarei colocar outro e ninguém perceberá.
- obrigada Virgínia! -falei sorrindo.
Despedimo-nos ali e fui para o quarto.
Pedi para que Celine pendurasse imediatamente, para que eu pudesse observar a alegria e a liberdade do cavalo selvagem.
Eu me despi e entrei na banheira para me refrescar e em seguida me deitar, o dia foi exaustivo a ponto de deixar meus músculos rígidos.
A água quente estava fazendo seu trabalho, relaxando meus músculos. As pétalas de rosa estavam boiando na água enquanto repousei minha cabeça e fechei os olhos.
Um estrondo alto me despertou. Acho que devo ter dormido na banheira e levantei a cabeça desorientada. A água ainda está quente, o que quer dizer que não se passou muito tempo.
Assustada olho em direção ao barulho, e vejo Ian furioso parado na porta.
- O QUE VOCÊ FEZ?-gritou ele.
Eu não sabia o que fazer, eu estava tão furiosa e tão envergonhada que fiquei sem reação.
- do que está falando? Enlouqueceu? -perguntei confusa.
- Não se faça de desentendida, o que fez?
-não sei do que está falando! -respondi irritada.
- Pietra. Encontrei ela chorando na biblioteca, ela não quis me dizer o que aconteceu. Apenas disse que alguém a humilhou. É não existe outra pessoa nessa casa com motivos para isso!
Eu estava em choque. Ele veio aqui defender aquela mulherzinha...
- EU NÃO ACREDITO! -gritei. - você acabou com o meu banho para defender aquela fingida!
Ele finalmente pareceu notar que eu estava nua na banheira e arregalou os olhos.
-eu...- começou ele.
- não Ian, por mais que eu odeie aquela mulher, não fui eu, eu estava com sua mãe até agora, só então resolvi me banhar.
- ninguém aqui tem motivos para fazer isso com ela, a não ser você! - disse ele.
Que inferno, não acredito que vou fazer isso...
De costas para Ian, sai totalmente nua de dentro da banheira. Não posso dizer qual a reação dele pois estava de costas, mas ouvi uma exclamação de surpresa.
Eu estava muito envergonhada, mas não podia ficar ali ouvindo ele me caluniar.
Caminhei até a cadeira que tinha um roupão de seda, meus rosto estava queimando de tanta vergonha. Com um movimento preciso, vesti o roupão e amarrei, virando-me de frente para encarar ele.
Ian parecia em choque, sua boca estava meio aberta e seus olhos arregalados me encarava. Meu rosto novamente queimou.
- Ouça bem o que vou te dizer Ian Seymour, não admito que entre em meu quarto sem ser convidado, e ainda com o intuito de defender aquela mulherzinha.
- mas você...
- mas nada Ian!-falei.
Andei a passos largos até ficar cara a cara com ele, sem que ele percebesse o que eu estava prestes a fazer, dei um tapa na cara dele.
- ISSO É POR INVADIR MEU QUARTO! - gritei.
Quando ele me encarou novamente furioso, dei outro tapa nele.
- E ISSO, É POR DEFENDER AQUELA MULHER!
Ele ficou surpreso com o segundo tapa e não deixei tempo pra ele pensar qualquer coisa.
- AGORA SAIA IMEDIATAMENTE, OU FAREI UM ESCÂNDALO!
Sem falar nada ele saiu do quarto, e eu bati as portas com força quando ele saiu.
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Casamento Arranjado [Completo]
Historical FictionEla sempre sonhou em casar por amor, mas ao descobrir que foi prometida em casamento para unificar os negócios das famílias mais poderosas de Londres, fez seus sonhos ruirem e se tornarem seu pior pesadelo, fazendo com que ela acredite que o amor é...