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*Alison*

20/11/16, quinta-feira

Mais um dia normal. Acordo, levanto, faço minhas higienes, como, vou para o trabalho, volto, tomo banho, como, durmo.
Meus dias são tão entediantes que podem ser resumidos com apenas uma frase.
Eu tenho uma vida boa, razoavelmente boa, meu salário cobre as coisas necessárias (aluguel, água, luz) e mais um pouco. Nada demais, não moro em uma mansão em California, moro numa simples casa em California.
Eu trabalho em um estúdio de tatuagens, mas mesmo assim tenho poucas tatuagens e pequenas.
Eu falo fluentemente em português e inglês, pois minha mãe era brasileira, veio para California e se casou com meu pai, um americano.
As férias no Natal e no fim de ano são horríveis, aqui sempre lota de turistas, sempre atrás de tatuagens para se mostrar, dizendo que já foram para uma cidade como outra qualquer, ou só procurando informações turísticas.
Hoje começa o inferno. Trabalho 2 horas a mais, mas sou recompensada.
Levanto ás 8, escovo os dentes, como, escovo os dentes de novo e saio de casa. Pego meu carro, uma Sportage, nada demais, e vou em direção ao trabalho. Eu até que gosto de trabalhar lá, eu gosto de saber a história por trás das marcas permanentes que as pessoas desejam estampar em sua pele, só não gosto de muita gente concentrada, mesmo que eu fique em uma sala sozinha com o cliente na hora de tatuar, eu sinto todos, no ar paira uma mistura de aflição e calor.
Acaba o meu expediente, já são 18h, vou para casa correndo e me pego meus materiais e vou correndo para meu último dia de aula. Faço aulas noturnas para também poder trabalhar.
O último sinal toca. Meu coração bate mais forte. Nunca mais vou passar por isso, não vou mais dormir de madrugada depois de estudar horrores. Nunca mais. Uma mistura de angústia e felicidade me atinge. A melhor sensação do mundo junto com uma saudade. Queijo com goiabada. Batata frita com hambúrguer. Bacon com cheddar. Ok, estou com fome.
Para comemorar eu e minha melhor amiga, Vic, decidimos sair para comemorar. Fomos em um barzinho ali perto para beber um pouco. Ambas estávamos adiantadas uma série, nós duas tínhamos feito 17 esse ano.
Sentamos em uma mesa para 4 e começamos a beber, primeiro um drink, depois fomos aumentando a quantidade, até chegar um cara e dizer que tinhas dois homens que queriam ir no bar, e que a única mesa com lugar sobrando era a nossa, e então eles teriam que ficar com a gente. Aceitamos de boa, nada que uma companhia não possa melhorar. Entram dois meninos, um mais branco que papel e outro meio bronzeado. O branco senta do meu lado e o outro do lado da Beth. Nós começamos a conversar até que eles falam alguma coisa que nem lembro em português. Indaguei sobre a nacionalidade deles, e descobri que eles eram brasileiros e faziam vídeos para o Youtube. Conversamos e começamos a beber, e não me lembro de mais nada depois disso.

21/11/16, sexta-feira

Acordo com uma dor de cabeça imensa, olho o sol rachando do lado de fora da janela e me lembro, estava de ressaca. Olhei o horário e, que saco, já são 9:30, preciso sair de casa agora para chegar no estúdio a tempo. Visto qualquer coisa e saio.
Chego 5 minutos atrasada, nada demais, ufa. Pego a lista de coisas que iria fazer hoje para ir me preparando

- [ ] 10:45- Símbolo do infinito, cliente Charlie, mulher, 19 anos
- [ ] 12:00- Bandeira dos EUA, cliente Ronald, homem, 54 anos
- [ ] 13:50- Coração pela metade, cliente Karen, mulher, 45 anos
- [ ] 13:50- Coração pela metade, cliente Zac, homem, 47 anos
- [ ] 15:30- Três pássaros, cliente Milla, mulher, 28 anos
- [ ] 17:00- Caveira, cliente Mark, homem, 32 anos

Se alguém chegasse sem horário marcado também fazíamos, por isso o intervalo entre uma tatuagem e outra. No geral, eu faço coisas pequenas, uma vez ou outra faço coisas maiores, por exemplo, já fiz um filtro dos sonhos nas costas inteiras de uma mulher. Meu intervalo é das 14:00 ás 14:30.
Faço a primeira tatuagem, logo depois chegam uns clientes sem hora marcada, mas meu colega, o Logan, ficou com uns e o David, meu chefe, ficou com outros.
Faço todas as tatuagens marcadas e mais algumas, e logo depois vou para meu intervalo. Eu costumo ir numa cafeteria há alguns quarteirões daqui, mas hoje decidi passar na cafeteria e andar um pouco pela cidade.
Comprei um Frapuccino e saí.
Bom, sobre a minha família, não, meus pais não morreram num acidente de carro e eu vim pra cá pois uns tios meus moravam aqui, eu não vivo em uma fanfic clichê adolescente. Todos moram na mesma cidade que eu, mas a alguns minutos de distância. Meu irmão é adotado, e tem 7 anos, e minha irmã é dois anos mais velha que eu, biológica também.
Volto para o trabalho, encerro meu expediente e passo no supermercado.
Entro e vou passando de corredor em corredor, pegando as coisas necessárias, até que um cara me para.
-Oi, lembra de mim?
-Não, desculpa.
-Meu nome é Rafael, a gente sentou junto num bar ontem à noite.
-Ah! Lembrei! Tudo bem contigo?
-Tudo sim, e com vocês?
-Vocês?
-Você e a sua amiga.
-Aaaaah, claro, tudo ótimo!
-Olha, hoje mais tarde vai ter uma balada aqui perto, eu, meu amigo da outra noite e mais umas pessoas vamos, se vocês quiserem, me manda mensagem que eu busco vocês.
-Ok- falo pegando o número dele
-Tchau, até mais tarde, talvez!
-Tchau!
Paguei as coisas, saí, cheguei em casa, arrumei as compras e chamei a Vic, falei dos planos e ela disse que ia pegar as coisas dela e vir se arrumar aqui comigo.
Avisei o Rafael e ele disse que passaria aqui ás 22:00.
Entrei no banho, pois a Vic tinha uma cópia da chave da minha casa. No meio do banho ela chega, já que ela já tinha tomado banho na casa dela, e começa a escolher uma roupa pra mim. Saio do banho, seco meu cabelo, ponho o vestido preto tubinho com um decote bem grande e um salto vermelho, fiz uma maquiagem escura, a Vic estava maravilhosa, com um vestido verde rodado com umas tiras no decote e uma maquiagem clara. Logo depois ouço a campainha, e vejo que nossa carona chegou.

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