CAPÍTULO 1 – O TRABALHO
Ainda eram 10:30 da manhã, o que significava que restavam tediosas duas horas e meia de aula pela frente. Os alunos da turma B do 7º ano da escola Novos Valores estavam contando os minutos para, enfim, terem o início das férias pela frente.
A escola Novo Valores ficava em um bairro tradicional na zona Oeste de São Paulo e era reconhecida por realizar um trabalho de pesquisas e experimentações com os alunos que os ajudavam a assimilar o conteúdo como poucas escolas conseguiam.
E nesse último dia de aula, a professora Tatiana, que dava aulas de História, estava entregando os trabalhos sobre os índios da Amazônia para os alunos com suas respectivas notas e considerações. Muitos trabalhos foram bastante elogiados pela professora e alguns outros levaram pequenas observações, mas uma boa nota. Propositadamente Tatiana deixou um trabalho para ser entregue por último. Esse trabalho era da filha de um professor muito amigo dela, que dava aulas de Geografia na mesma escola.
O professor Chiquinho era muito querido por todos os alunos por causa de sua alegria e facilidade em ensinar um conteúdo não muito atrativo aos alunos. Tinha o respeito e a admiração de seus colegas, entre eles, da professora Tatiana, que agora estava para entregar, com muito pesar, o trabalho para a filha de seu amigo.
– Manu – disse a professora ao parar ao lado da aluna que estava sentada vendo fotos suas com outros amigos no celular. Manu era uma menina muito bonita, com cabelos cumpridos e escuros, olhos verdes e muito bem arrumada, com roupas caras e maquiada com o extremo rigor que a moda exige. – Aqui está o seu trabalho. Espero que não se espante pela nota, pois ela reflete apenas o pouco trabalho que você teve em copiar essas informações da internet.
Manu ao ver o olhar desapontado da professora, meneou a cabeça, pegou o trabalho e viu, com um grande destaque em vermelho no canto direito da página, sua nota zero. Indignada por ver seu trabalho de pesquisa ser tratado com tamanha indiferença, mas também envergonhada por ter sua mentira descoberta pela professora, pois Manu achava que tinha feito um bom trabalho em trocar algumas palavras para tentar deixar seu trabalho um pouco diferente do que ela tinha encontrado na internet em pouco mais de cinco minutos de pesquisa, ela olha para a professora e diz com o orgulho que lhe resta:
– Como você pode me dar nota zero? – Disse Manu mostrando toda indignação que deveria mostrar na frente de seus colegas. – Eu me esforcei para conseguir essas informações, fazer pesquisa na internet faz parte do trabalho. Se eu copiei alguma coisa, foi na verdade por ter ficado com essa informação na cabeça. Não foi de propósito. Isso é um absurdo, meu pai vai ficar furioso comigo!
Manu usou essa desculpa sabendo que sua relação com a professora Tatiana, ou tia Tati, como a chamava desde que se conheceram quando ela tinha apenas seis anos, poderia influenciar para que a decisão fosse revista e uma nota melhor fosse dada para ela.
– Realmente pesquisar na internet faz parte do trabalho, Manu. O que não faz parte é copiar o que encontrou mudando meia dúzia de palavras. Se o seu pai ficar furioso com você, o que eu diria que é totalmente merecido, isso é apenas fruto do seu esforço, que acredito foi bem menor do que o tempo que você gasta postando fotos suas nas redes sociais. – A professora fitava agora diretamente o celular de Manu, que ainda exibia uma foto dela com as amigas.
– Mas Tati – Manu agora usava uma cara de súplica que costumava funcionar com o seu pai, quando sua mãe a proibia de sair com as amigas. – Eu confesso que posso ter copiado um pedaço ou outro do texto, mas o que importa é o que eu aprendi não é? E mesmo assim, esse não é um tema que eu precise gastar muito tempo estudando mesmo, tenho muitas atividades de Matemática para fazer, o que importa a vida desses poucos índios que sobraram?
– Não acredito que ouvi isso. – Tatiana agora estava realmente ficando irritada. – Como pode achar que a vida desses índios que já sofrem todo o tipo de descriminação e omissão não tem importância alguma? Bom, nem precisa pensar em alguma resposta pronta. Sua nota não mudará e eu já agendei uma conversa com o seu pai hoje, depois da aula. – Dito isso a professora se afastou da mesa de Manu que, prevendo a bronca que levaria, afundou em sua cadeira e ficou com uma cara de poucos amigos até o final da aula. Pois agora tudo o que planejara para suas férias estava em risco.