Sim. Eu voltei. Apenas um antigo projeto (o Zayn nem tinha saído da banda ainda!) reescrito e postado para aquecimento. Novos anos, novas histórias. Mal posso esperar para postar aqui de novo. Por enquanto, espero que aproveitem essa pequena oneshot. Postada também no site Nyah!Fanfiction, mas é de minha autoria. É bom estar de volta.
Harry estava impaciente - talvez um tanto melancólico. Arrastava os pés pelo corredor escuro e fétido, percorrendo a parede descascada com a ponta dos dedos. A chuva torrencial que sacudia as vidraças já velhas não contribuía para melhorar seu humor. No entanto, ninguém se daria o trabalho de perguntar como ele estava naquela ou nas outras manhãs - ninguém se importava realmente com um louco.
Ele havia aceito sua condição, desde que entrara no Villete - famoso e temido hospital psiquiátrico, outrora uma importante base militar das províncias inglesas já esquecidas. Corriam boatos que os prédios de dois andares cada, precariamente construídos, ainda guardavam pólvora e armamentos em seus subterrâneos, mas Harry, depois de longos três anos de exploração e busca, afora os quinze meses internado, sequer encontrara uma centelha de sol, que dirá armamentos. Com disposição para apenas cem pacientes, o Villete contava com a entrada de mais de trezentos e cinquenta pessoas em suas intermediações. Os quartos, transformados em cubículos de estadia, economizavam o pouco espaço contido, e os andares subdividiam-se em alas masculinas e femininas, para evitar conflitos. Não havia um real sentido para aquilo - os loucos interagiam entre si, e ninguém os impedia. No final, eram temidos por todos e por eles mesmos.
Harry não era de muitos amigos - na verdade ele desprezava a maior parte do contato social naquele lugar. No entanto, tinha olhos e ouvidos, e conhecia grande parte dos residentes. Era um tanto quanto deprimente, na realidade. Desde que fora mandado para lá, o garoto estava resignado sobre sua posição: era louco. Completa e perfeitamente insano. Precisava se afastar da sociedade, conviver entre os seus até que melhorasse - ou não. Mas aquelas pessoas... elas apenas ignoravam. Seguiam, como se estivessem em um resort, como se as terapias de eletrochoque fossem mimos, como se os remédios de morfina que tomavam diariamente fossem pílulas para dormir. Harry queria despertá-las. Queria gritar para que percebessem e reagissem, tentassem se recuperar. Mas, de qualquer maneira, estava ocupado demais, perdido dentro da própria mente.
Mas não por muito tempo.
Chegou no refeitório pouco tempo depois do café começar a ser servido. Como costumeiro, não estava com fome, mas precisava, ao menos, fingir ingerir alguma coisa sólida, ou então seu médico lhe proibiria de sair a noite.
E ele não poderia ir ouvi-lo.
Percorrendo os olhos cuidadosamente pelo salão, localizou a mesa mais afastada e seu típico frequentador, que já conversava, em meio a berros, com o estranho amigo que nunca falava, apenas observava-os pensando na melhor maneira de matar a todos. As pessoas, arrastadas pela quantidade homérica de tranquilizantes, por muitas vezes tropeçavam ou derrubavam sua comida. Nos melhores dias, algumas defecavam no refeitório, mas apenas quando tinham sorte. No todo, era apenas mais uma manhã normal no Villete.
O moreno caminhou pelas laterais, tentando atrair o mínimo de atenção possível. Entretanto, teve de desviar de algumas garotas que o irritavam. Quando chegou, sentou-se de maneira estratégica, observando a entrada do refeitório, a espreita. Sua mente estava alerta, embora nenhuma voz o tivesse visitado ainda, sabia que não podia confiar em ninguém.
- Bom dia, Harry! Como você está hoje? - gritou o garoto loiro em sua direção, e Harry lhe fitou sem esboçar grandes emoções.
- Desprezivelmente bem, Niall, e você? - perguntou por educação. De maneira bem relativa, era contra qualquer entrosamento entre os grupos de loucos, mas o colega era insistente, e, querendo ou não, uma boa relação ali dentro. Niall conhecia as pessoas como ninguém.
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O Pianista
RomanceTodos, irremediavelmente, guardam monstros dentro de si. O problema é quando estes monstros escapam de suas jaulas, dominando seu guardião. E então, está feito os loucos. Com a mente nublada, não conseguem distinguir a sanidade de sua demência. Com...