Capítulo XX

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Akira Yamaguchi

O sol, bem tímido, começa a mostrar seus fios no leste, atrás de uma cadeia de montanhas altas; e o frio da noite não dá nenhuma mostra de que está indo embora.

Estou vestindo minha jaqueta azul marinho do uniforme da OCRV enquanto subo uma grande colina com Anippe, envoltos em uma densa neblina úmida.

Estamos atrás de qualquer coisa que possa ser comestível, mas não tivemos muita sorte.

Encontramos algumas batatas alaranjadas de um pé que já dava sinais de velhice, e colhemos algumas espigas de milho de um canteiro escondido naquela vegetação amarronzada.

Enquanto subimos, sinto a dificuldade em puxar o ar para meus pulmões e me sinto a ponto de pedir para Anippe ir mais devagar, quando ela diz:

- Podemos beber um pouco de água? - ela para e coloca as mãos nos joelhos, tira o cesto que está nas suas costas e o joga no chão.

Pego o cantil da minha cintura e entrego para ela. Ela toma alguns goles e me devolve. Algumas gotas de suor brilham em sua testa, mas vejo seu corpo tremer no frio do crepúsculo.

- Quer continuar subindo? - pergunto, torcendo para que ela diga não.

Mas, mais uma vez, ela me contraria. Mesmo que inconscientemente.

- Sim - ela diz, se levantando. - Vamos continuar para ver o que há além dessa tigela onde estamos.

Recoloco o cantil em seu lugar, agora com a metade do seu peso original, e continuamos a subir, ficando de olho nas moitas de folhas e qualquer árvore mais alta, atrás de frutas ou animais pequenos.

Coelhos, galinhas, raposas.
Qualquer tipo de carne seria bem aproveitada.

Sim, voltamos ao tempo das cavernas; se é que ele de fato não é um conto inventado pelo povo.

A subida vai se tornando mais íngreme, conforme nós nos aproximamos do topo e, num momento repentino, ouvimos um balido.

Levanto a cabeça rapidamente e olho para Anippe. Ela também olha pra mim e, tenho a confirmação de que aquele som não foi fruto da minha imaginação.

Naquele ponto, devido à altitude, a neblina está bem menos densa e olhamos ao redor atrás de qualquer vestígio de movimento.

Ficamos imóveis, apenas respirando, até que ouvimos o som novamente.

- Bééééé...

Ela coloca um dedo na boca e faz sinal de silêncio.

Pé ante pé, subimos até o pico da montanha e, no meio das sombras da madrugada e do resto de neblina, vemos o pequeno animal se mover.
É um pequeno bode, provavelmente perdido do seu bando.

Anippe desaparece na minha frente, usando seu poder, e eu fico de prontidão, com a katana nas mãos. Sinto o couro da bainha dançar em meus dedos e se ajustar exatamente no encaixe da minha mão, como se tivesse sido feita sob medida.

O pequeno animal começa à fuçar o chão ao seu redor e comer alguns galhos secos.

- Béééééé...

O som se repete mais alto, como num pedido de socorro, sem nenhuma resposta.

Então, num segundo, escuto um galho se quebrando e uma flecha passa zunindo por baixo do pescoço do animal.

Com a visão ajustada à escuridão, vejo o bode correr na minha direção e pulo no penhasco na sua frente, fechando seu caminho.

Ele grita e dá meia volta, antes mesmo de chegar ao alcance da minha arma. Ele corre, mas no caminho suas pequenas pernas são atingidas por um bastão de madeira que se materializa junto com Ani na frente do animalzinho. Ele tropeça e cai, mas se levanta no segundo seguinte e Anippe não tem tempo de preparar a flecha.

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