Giz preto

133 13 3
                                    

Eu sou um inferno.
Eu não posso me explicar.
Não encontro minha razão e não me encontro na razão.

Minha mente
Devastada de ideias absurdas
Não pode só ficar em um lugar tão pequeno como esse.
Tem que fluir
Tem que viajar
Tem que vazar pelos extremos

De extremo a extremo, eu não aceito eira nem beira.
Tem que ser tudo mesmo que eu não seja nada.
Eu sou uma confusão, uma bagunça miserável e sem fim
Como de desenho animado mas a diferença é que uma criança se assustaria ao se deparar com o cadáver da minha alma.

Giz de lousa preto
que além de riscar sangra o espaço em branco da minha mente
Sangra coisas boas, sentimentos.
Sangra coisas ruins, pois sangra.
Sangrar dói.

Cigarros queimando e me deixando sem vida, isso foi a única coisa que era pra ser, e que realmente foi. Verdadeiramente será e não deixará de ser nem mesmo se eu acabasse comigo primeiro.
E escrever... Ah, já me devasta
E que de forma mais linda uma tragédia não poderia ser.
Só insanidade para aqueles que tentarem desvendar minha mente cheia de vazio
E nada mais além do além.

É engraçado, não é?
Eu me sinto perder o controle de algo que nunca foi meu de fato.
Talvez eu viva pela mente de um outro alguém.
Talvez eu leia a mente de outra pessoa o tempo todo, e me esculpo nisso.
Perdida em um lugar que posso afirmar, não criei. Não me pertence mas ele se apodera de mim, me usa, me domina e me deixa só.
Que lugar é esse? Eu não tenho certeza de nada, nem mesmo de quem eu sou.
Não sei nem se sou alguém. Talvez seja esse o tipo de lugar.
O lugar que consome gente que não é ninguém.
Eu não sei mais o que estou falando sobre, mas é isso tudo que eu sempre tento explicar.
Que eu não me explico, só crio mais dúvidas sobre mim.
Pensar em mim é como pensar em teorias sobre a vida e a morte
Nunca se sabe ao certo.

Meu coração tão soturno, é gritante e indeciso, cheio de mágoas mas com a ardência de um inferno escaldante.
Me deixo levar e é a pior coisa que poderia acontecer.
Atingi pessoas dessa forma.
Mas ninguém entende que me sinto perdida, não entendem realmente
Não moram na minha pele.
Cada vez mais
Portas surgem, fechadas.
É assim que me sinto
Que me faço
Que me quero sair.
Dói tanto, corrói.
Não posso mais me escorar nos escombros do que restou dos meus sonhos.
Destruídos.
E a frustração me enlouquece.
Eu quebrei meu próprio coração.
Eu não me vejo mais em lugar nenhum.
Eu não me vejo. Minha imagem do futuro passou a ser distorcida e por fim, deixou de existir
Para nunca mais me deixar entrar no eixo.
Espancada até a morte, psicologicamente, pelas próprias coisas que eu sinto.
E o que eu sinto?

Eu sinto muito.
Eu sinto tanto...
Eu sinto ao redor e analiso
Que não sinto nada. Eu não sinto, eu faço acontecer
E as situações que me sentem, eu só as preencho.
Tento ver se a reação dos outros me faz sentir tudo, ou se me faz sentir que o tudo é na verdade um nada imenso e sem cor na minha vida.
Somente solidão por volta desses dias.
É só o que meu inconsciente ama ao mesmo tempo que minhas formas físicas não suportam.

Eu mereci isso?
Eu não me aguento, é estranho ficar aqui dessa forma.
Me sinto tão sozinha
Minha mente me consome nas horas vagas e de desespero. Todos os dias. A ardência do meu inferno interior.

De tristeza
De mágoa
De sentimento
Mas nunca, nunca realmente
Será para todo sempre, sempre.
Eu sou um inferno, amor.
Entende o que quero dizer?
Eu sou um inferno.

.Esther Alves.

TorazinaOnde histórias criam vida. Descubra agora