Moreno

12 1 0
                                    

Quem és tu?

Quem és tu, moreno do cabelo cacheado?

Do sorriso largo, cigarro entre os dentes?

Dos olhos da cor da noite?

Quem és tu, do toque delicado, do beijo demorado?

Só sei quem és quando me puxas para perto, quando me tomas como teu. Só sei quem és quando o fôlego acaba, quando tocas por inteiro, quando sussurras meu nome.

És meu, és de ti próprio.

Mas pertences a ninguém.

És independente com a força de uma tempestade.

Pertenço-te da mesma maneira.

.

Eu sorri enquanto acalmavas meu peito. Sorri com todos os dentes, sorri como se considerasse a mim mesmo belo. O sorriso deformava meu rosto, desenhando linhas, contorcendo traços. Deixando marcas.

Era o tipo de sorriso que agora me lembra de ti.

E enquanto tu te vestias, acariciei teu cabelo. Lembro do contorno dos teus cachos, de como eles deslizavam por entre meus dedos. Como caíam em meu peito quando deitavas comigo. Contato.

Lembro vividamente do cheiro. Era um cheiro doce, mas que nunca enjoou. Era um cheiro vibrante, mas sem chamar atenção. Era como colher uma flor silvestre e carregá-la na orelha. Teu cheiro sempre perto, mas nunca mais perto o suficiente. Não como quando repousava minha cabeça em teu braço e conversava sobre coisas. Quaisquer que fossem.

E tu participavas da conversa. Provocava, fazia-me rir até que nos olhássemos como dois idiotas. E éramos.

Ah, que saudade que sinto de quando te abraçava, nu, despido de vestes e de vergonha. Dos tempos que não era preciso máscara ou disfarce. Era eu, apenas eu, verdadeiramente eu.

Éramos nós.

Éramos nós nas manhãs de terça. Nas tardes de quarta e noites de quinta. E o dia todo de todos os dias. Éramos paz.

Fomos.

Numa manhã de terça perguntei teu nome.

Numa tarde de quarta trocamos sorriso.

Numa noite de quinta, ouvi tua voz no telefone.

Vivi-te o dia todo de todos os dias.

Numa sexta à tarde, conversamos como se não houvesse outro dia.

Num sábado à noite, disseste-me que eu era único.

Num domingo, aprendi que precisava de ti. E nunca mais esqueci.

Não esqueci a conversa, nem que eu era único. E não esqueci que precisava de ti.

Mas aprendi numa terça feira, também, que só somos eternos no presente.

E o presente dura menos que um momento.

Como éramos tolos em nossas conversas. Prevíamos o fim dos temos, acendíamos um cigarro e deixávamos desenrolar. O que viesse, veio. Éramos espontâneos. Apenas dois garotos quebrados, cansados, insatisfeitos e imperfeitos.

Juntos? Inteirávamo-nos, energizávamo-nos, satisfazíamo-nos. Juntos nós éramos perfeitos.

Nossa história começa, como eu disse, numa terça feira. E termina numa manhã de domingo.

Desculpe-me, leitor. Eu preciso desse último desabafo.


Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Jul 18, 2017 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

E se eu morrer amanhã?Onde histórias criam vida. Descubra agora