Eu e meus olhos brancos

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Eu nasci com a síndrome dos olhos fantasmas. Minha mãe me contou que assim que eu nasci , agentes do estado vieram fazer uma visita. Eles deram a ela três alternativas: ela poderia me entregar para ser criada pelo estado. Eles poderiam me levar a força. Ou ela poderia aceitar que eu fosse medicada diariamente até os meus 18 anos para não desenvolver nenhum de meus domínios.

Sabe, por um tempo, a humanidade toda foi otimista com essa coisa de "olhos fantasmas". Éramos vistos como uma "evidência contundente" da evolução humana. Novas conquistas eram almejadas. Mas isso tudo foi antes deles descobrirem o que realmente as pessoas com essa síndrome podem fazer.

Por um tempo, todas as crianças da geração "fantasma" se tornaram popstars. As mães iam com orgulho exibir seus filhos de olhos coloridos nos canais da televisão e da internet, até que um dia o inevitável ocorreu.

Quando um jovem de treze anos exibia sua habilidade de escalar muros rapidamente, saltar grandes distâncias ou correr uma maratona sem grande esforço, ali, naquele programa banal da tarde , ao vivo, ele manifestou seu domínio.

Cada cor diferente dá uma pista sobre o que a pessoa possui poder sobre. É simples.

Os olhos amarelos possuem domínio sobre os elementos naturais: fogo,vento, água e terra.

Os olhos púrpura desenvolvem uma grande habilidade psíquica podendo mover coisas com a mente, ler e manipular a mente das pessoas.

Os olhos vermelhos possuem um grande fator de regeneração celular , habilidades e força extraordinária que vão muito além das habilidades de um "fantasma" comum, eles correm realmente muito rápido.

Os olhos cinza são os mais raros e perigosos. Eles manipulam as coisas a nível atômico e molecular. Isso os dá habilidades incríveis de controlar raios, gerar energias em formas de rajadas e , segundo a lenda, até mesmo teletransporte. Particularmente nunca vi um.

Os fantasmas que eu conheço são todos chamados de "filhos do estado" são criados para servir ao governo, são crianças cujos pais preferiram deixar com que o estado se responsabiliza-se por sua criação. Talvez por medo do que eles seriam capazes de ser no futuro. A verdade é que ninguém sabia naquela época o que esperar da nossa geração.

Minha mãe adotou a terceira medida. Eu tenho de passar todos os dias no posto público para tomar minha dose diária de coquetéis químicos que previnem que eu desenvolva altas habilidades e domínios.

E todas as tardes, após a escola, enquanto eu espero naquela sala higienizada pelas minhas vacinas. Eu preciso assistir a um vídeo mostrando a importância do que eu estou fazendo.

A cena principal deste vídeo é a de um rapaz de treze anos , com olhos amarelos incendiando sem querer a mãe, a apresentadora e toda uma platéia de programa da tarde.

Meu nome é Christina Mendes. E graças aos medicamentos oferecidos pelo governo, meus olhos são brancos e opacos. Minhas habilidades são medíocres e eu não tenho nenhum domínio sobre nada. E por causa disso, sofro com o ostracismo diário. As crianças fantasmas não gostam de mim pois eu não tenho altas habilidades e as normais não gostam de mim pelos meus olhos. Ao escolher me ter como filha, minha mãe me isolou do mundo.

Eu tenho 15 anos e vou a uma escola mista. Crianças com síndrome dos olhos fantasmas (com e sem medicamentos) frequentam o mesmo lugar, dividem o mesmo espaço que crianças normais. Eu poderia até fazer amizades com as crianças medicadas, mas eu não sei quem são. Eu fui a única a ter uma reação adversa às drogas profiláticas e desenvolver esses olhos brancos. Todos os outros, até onde sei, conseguiram desenvolver olhos normais.

Ainda lembro da vez que tentei usar lentes de contatos. Elas não duraram nem dez minutos em meus olhos que rapidamente incharam. Eu sou hipersensível a qualquer objeto estranho nos olhos, mais uma reação adversa aos medicamentos. Ou seja, sou prisioneira destes olhos estranhos e sem par.

Meu mundo e meu futuro são limitados por essa íris opaca. Eu não sei que tipo de vida me aguarda. Mas parece ser algo não muito diferente da vida no ensino médio.

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