Uma chuva torrencial caía ao lado de fora da estação de gerenciamento como um lamento por todos os sacrifícios realizados durante a noite e pelos que ainda iriam acontecer. Zalazar agradecia a chuva benevolente que mantinha suas lágrimas escondidas com suas águas cristalinas. Durante sua vida matara inúmeras pessoas, todavia matar Lou Ane tinha sido o assassinato mais árduo que já cometera consumindo todas as suas emoções, se sentia vazio como se um pedaço de sua própria alma desaparecesse no infinito. Não possuía nem a doce promessa do reencontro no paraíso para acalentar sua dor. Sua amada adorava um falso Deus e nesse momento era certo que estava sendo torturada por sua apostasia em um lago de fogo e enxofre. Iria orar todos os dias pela sua alma implorando a misericórdia divina e quem sabe um dia voltasse a sentir alguma coisa. Talvez quando encontrasse sua filha a dor da perda de um amor seria curada por outro tipo de amor.
Zalazar caminhava satisfeito pelas ruas da cidade guiando como um pastor de ovelhas uma multidão branca. O seu discurso transmitido por toda Civitadei somado a derrota de quatro dos oito inquisidores na estação de Oderi funcionara muito melhor que o planejado, impulsionando o ódio e a amargura que a população de classes inferiores escondiam em um lado negro de seus corações. Sentimentos que emergiram fortemente como um vulcão adormecido prestes a entrar em erupção. A cada passo que davam em direção a morada do falso Deus, mais pessoas vestindo as máscaras brancas deixadas nas portas de suas casas aderiam a causa engrossando as fileiras dos revoltosos. Marchavam emitindo uma cacofonia de gritos pela causa de Deus, de ódio e grunhidos ininteligíveis. Um cântico desordenado de um povo acorrentado que clamava por liberdade.
Chegaram à frente da fachada retangular do templo divino e Zalazar sentiu-se estranho ao olhar para o topo de onde tinha o costume de observar a cidade perdido em pensamentos conflitantes que não passavam de um julgo sobre as classes baixas. Um tempo que vivia imerso em um mar de ignorância obtusa. Louvava ao senhor, por ter mostrado a uma existência tão perturbada e pecaminosa a verdade. O prédio erguia-se ameaçadoramente em sua altura infinita como uma torre de babel, um monumento construído por hereges e precisava ser derrubado como um símbolo do fim de uma era.
A frente do saguão de entrada do templo um esquadrão da inquisição estava posicionado para bloquear a passagem dos Sacros rebeldes. Prontos para matar e aniquilar os ventos de mudanças transformando-os em um sopro fraco de um velho moribundo. Os quatros que salvaram-se da morte pelas mãos de Zalazar e seus homens aproveitando o sacrifício de Lou Ane estavam a frente do batalhão. Especialmente esses quatro precisavam ser punidos por terem deixado-a morrer por suas mãos.
Diante da visão aterradora do exército inquisidor um murmúrio de medo e apreensão tomou conta de suas fileiras, todos estavam fortemente armados, mas não possuíam o poder das nano máquinas.
— Não temam, Deus está conosco e nós revestiu com seu santo poder. Eu irei mostrar para todos vocês um verdadeiro milagre.
Zalazar caminhou sozinho com o peito estufado na direção dos inquisidores sem medo e qualquer tipo de dúvidas. Jorg, um dos seus antigos amigos estava liderando o exército e veio ter com ele provavelmente intuindo que Zalazar tencionava conversar.
— Zalazar saber que você estava vivo e que mudou de lado apenas me entristeceu. Queria guardar a memória do grande inquisidor que você foi e assim continuar te admirando como um homem de princípios.
— Sua Tristeza não vai durar velho amigo, pois e chegada a hora da sua morte.
Zalazar se concentrou em um compartimento de sua mente. A fachada do templo e o exército de inquisidores desbotaram até ficarem em segundo plano em sua visão e uma sequencia numérica composta de zeros e uns de um intenso verde florescente jorraram como uma cachoeira inundando o compartimento confundindo-o. Fechou os olhos e conseguiu discernir cada numero que atacava sua mente em uma velocidade frenética. As sequencias formavam diversos caminhos que se conectavam com milhões de outros compartimentos fora da sua mente, de alguma forma estava conectado a todos. Escolheu algumas centenas de caminhos e Forçou sua vontade neles. Abriu os olhos a tempo de ver o braço direito e a cabeça de Jorg e seu exército explodindo derramando sangue para todos os lados inclusive em suas vestes alvas. Em uma fração de segundos a ameaça fora aniquilada.
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Ao Deus que odeio
Science FictionEm um mundo pós-apocalíptico uma entidade chamada Deus controla, segrega em classes e pune os atos da humanidade através de um chip que é obrigatoriamente instalado na mão de cada individuo. Para manter a ordem o templo divino usa os agentes da inq...