Garota ruiva - Guto

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16 de setembro de 2013

Eu sabia que muita coisa na minha vida iria mudar quando eu entrasse na faculdade, eu já vinha me preparando para isso há muito tempo. Até porque os meus planos sempre foram passar para faculdades em outros estados, nunca nem me inscrevi para nenhum vestibular perto de casa.

Eu estava decidido a me manter o mais longe de casa o máximo possível.

Eu sabia que tudo ia mudar, eu só não sabia que ia ser tão estressante.

Dividir uma casa com outros 9 meninos que não tinham nem 10% de consciência coletiva tava acabando com minha saúde.

E eu não tô falando figurativamente não, nunca fui tão literal na minha vida.

Eu não sei que tipo de educação eles receberam em casa, mas deixar sacos de lixo embaixo da cama por semanas, a roupa suja acumular, a louça suja criar bicho, comer a comida de outras pessoas e usar objetos pessoas que não são seu é algo que eu considero abominável e que eu nunca faria, portanto, nunca imaginei que viveria na minha vida.

só que essa é a minha realidade atual.

Querer me desvincular do meu pai me custou bem mais do que eu achava que iria me custar, e não foi só financeiramente.

O quarto que antes era só meu agora é dividido com mais quatro pessoas,o banheiro que antes era só meu agora é dividido para dez pessoas, que não possuem nenhum pingo de higiene ou educação.

O gás não dura nem um mês, a água para beber não dura nem dois dias, a comida do mês não dura nem duas semanas. E aparentemente nenhum deles está realmente ligando para isso.

Eles fazem festas nas semanas de provas, fumam dentro de casa, e não existe condições de se ter uma noite decente de sono.

Por isso que eu estou procurando loucamente um emprego para conseguir sair daquele lugar. Embora meu pai tenha deixado bem claro que eu só estou morando naquele lugar por que estou deixando o meu orgulho falar mais alto e que ele já teria me dado o apartamento que me prometeu quando passei na faculdade.

Mas eu não quero ter que aceitar.

De que adiantaria ter me mudado para tão longe se eu ainda fosse totalmente dependente dele?

Só que aparentemente para se conseguir qualquer emprego nessa cidade é necessário mais experiência do que a NASA, o que eu acho totalmente absurdo.

E aqui estava eu: em mais uma entrevista de emprego em uma livraria café pequena que fica a um trânsito enorme do lugar onde estou morando, mas que foi o único lugar que me deu realmente esperança.

Sempre tive um bom relacionamento com livros, e acho que financiar o meu interesse por eles foi a única coisa que meu pai fez que me beneficia também. Aposto que ele só fez isso porque quer que eu tome conta da editora algum dia, não foi nada exatamente pensando em mim. Acho que ele considerava uma troca justa: comandava toda a minha vida, tomava todas as minhas decisões, manipulava todas as coisas relacionadas a mim. Mas sempre comprava os livros que eu queria, sempre pagava os eventos literários que eu queria ir, às aulas de escrita e o que eu quisesse que estava relacionado a isso. O real motivo pelo qual ele fazia isso não me importava, o importante era que ele continuava financiando.

Acho que por isso que aquele emprego foi o único que me deu esperança, por que eu estava realmente qualificado, até mais do que o necessário.

- Entraremos em contato em breve - a responsável pela entrevista fala antes de me liberar, e eu tenho certeza quase que absoluta de que ela vai mesmo entrar em contato, e eu desejo de todo o meu coração que eles realmente entrem, antes que eu enlouqueça de vez.

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