Um fato que me deixou muito triste, é que o negrinho que teve aquela dor de barriga tinha na verdade pegado uma doença ruim e tinha sido morto ou morreu. Mas desconfia-se que o Seu Germano deu ordem para dar fim no pobre para não contaminar a gente e a mãe que foi defender seu filho, foi golpeada e agonizou até morrer. É o que se conta... Mas eu só soube disso quando cheguei para dormir a noite , e vi os escravos revoltados com o acontecido , tudo muito triste , até uma criança era descartada como um animal , só por que estava doente , nem sabia ao certo se era doença ruim ou não., eu escutava calado , meus companheiros cada vez mais revoltados , , nem nossa música e dança foram tocadas por um bom par de dias , a gente ficou de luto , e todo mundo ficou arquitetando uma maneira de se fazer justiça , mas , a verdade era que fracos , não sabíamos ainda como lutar., e o que realmente fazer , :Severo armava estratégias , fugas , mas era preciso nos fortalecer , por qualquer erro , morreríamos, eu , escutava tudo calado , também estava revoltado e por demais triste com o que ocorrera , mas essa era a nossa vida ali , e eu não me queixava , por que desde que passei a fazer parte dos escravos que trabalhavam na casa grande , cuidando do jardim , das plantações , eu tinha um sossego , os trabalhos eram muitos , mas nada comparado aos canaviais em que eu labutava .
E o tempo foi passando , o raiar dos dias me deixava mais alegre , eu gostava do meu trabalho , as plantas do jardim começavam a dar ares de quem queria viver , as roseiras , estavam se abrindo e eu , muito orgulhoso do meu feitio , : também na lavoura , o plantio de hortaliças crescia que era uma beleza , só as batatas não queria aparecer de logo , mas era preciso paciência , e tudo ficaria de bom grado , esta era a minha lida agora , mas meu sossego não impedia o meu sofrimento , eu sequer sabia se minha tia estava viva ainda, pois com dois anos na fazenda Santa Rosa, eu deixei tudo para trás , só trazia as lembranças em meu coração, e a dor em minha alma , e procurava abafar o que sentia , rogando a oxalá piedade para os meus irmãos.
Eu era um negro apessoado , e eu sabia disso , mas eu não ligava não , só quando chegava uma carroça de negras era que me lembrava disso , elas , depois que se instalavam na senzala ia conhecendo a gente um a um , e , na maioria eram mulheres vindas de outras fazendas , algumas tinham largados lá seus homens e filhos, mãe e pai , mas eram raros os que vinham juntos e permaneciam unidos , ia depender da sua boa forma física , e era muito penoso , ver a agonia estampada de quem deixou lá as suas crias ...
Elas , as negrinhas me olhavam com disfarçado interesse, que eu disfarçava , pois eu não queria me ajuntar com ninguém ainda e eu queria ver a minha sorte com o pai Tonho , eu tinha um medo danado de me meter com qualquer uma dessas negrinhas , eu , na verdade queria gente da mesma nação que meus antepassados minha nação eu num sabia ... e , e por isso eu queria ver a minha sorte , ter com pai Tonho , mas isso eu só ia conseguir quando pegasse mais confiança com os patrões , a baronesa gostava do meu trabalho , e eu nunca via os filhos dela , sabia que eram dois , uma sinhazinha , e um sinhozinho , e o nome , da fazenda era Rosa como a da menina e o menino , o sinhozinho era Cipriano , ele estava estudando fora , para ser dotô, e eu nunca vi nem a fuça da sinhazinha , até o dia que eu cheguei soube que , ela estava na corte e, lá ela , estava com os tios , e era só !, a baronesa , falava muito pouco deles , até com Maria crioula que era da casa e de confiança , os outros escravos da casa eram escravos que eu ainda não tinha pegado intimidade e ficava no meu canto calado , fazendo meu serviço , e eu não era de falar muito, eu era mais de agir e eu estava gindo ,lidando com a terra , mas um dia desses , que estava tudo tranquilo , e eu arando a terra no plantio , eu fui castigado com três chibatadas em meu lombo , é que eu estava cantarolando uma moda minha , eu cantarolava baixinho e arava , cantava baixinho e arava , aí o Seu Germano ouvia e o meu lombo foi quem sofreu , --- cala a boca negro!, é para trabalhar em silêncio e não trabalhar com essa cantoria dos infernos!, na mesma hora meu canto cessou , dando lugar a dor do meu lombo , a raiva cresceu dentro de mim , mas tratei de fazer o que tinha de ser feito, e quando , mais tarde , na hora de me recolher , vi com alivio que não me rasgou muito as costas , e me deram a salmoura para cicatrizar , aquilo era uma dor ,... , mas dava para sarar mais rápido , e daquele dia em diante eu não mais cantarolei , só no meu pensamento , que ali , eles não podem entrar.
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O Dedo de Deus (Obra não revisada)
RomanceEsta obra retrata a vida do escravo Inácio que superou todas as suas provações, na dura vida da senzala, seus medos e tormentos a que a escravidão lhe submetia. Em meio a todas essas injustiças, apaixonou-se por uma mulher branca que vinha ser sua s...