Os meses se passaram e eu já acostumado com meu serviço dava vida ao jardim e depois ia ter com o plantio. Havia negros cuidando do gado e a fartura era chegada na fazenda Santa Rosa, o barão era esperto como um cão , e estava enriquecendo a olhos vistos , podia -se ver que os seus negócios cresciam, ele tomava quase conta de tudo e era justo quando era para ser justo , eu já sabia lidar com eles , era só ficar como eu estava e ficava sempre: , calado , mas as vezes não funcionava muito , pois quando seu Germano estava de cabeça quente descontava em todo mundo por nada e eu ia no meio , eu e o meu lombo , e aí eu tinha que esperar que cicatrizasse as feridas , com a salmoura que eu odiava , e eu odiava também Seu Germano , ele era muito mais do que mal , aquele ali tinha coisa com o demo e ele que dizia que nós não tinha alma , que era bicho.
Foi numa noite de lua bem cheia , que um grupo de negros,liderado por Sebastião fugiu da fazenda e só de manhãzinha foram dar conta deles, e foi um Deus nos acuda , por conta do alvoroço que foi feito , mas eles logo foram alcançados , era uma fuga muito da mal sucedida , e ele e mais três no desespero não quis esperar tempo bom e não quis se juntar a Severo , e aí deu no que deu , Sebastião foi para o tronco e quase morreu , ficou uns dias ruim , até pensamos que não ia resistir , mas ele era forte , e quanto aos outros três , eu não sabia quem era , eles eram novatos e não se sabe ainda se resistiram , por que eles ficaram semi-mortos depois que saíram do tronco , eu nada quis ouvir , tamanha era a minha dor por eles , e eu também tinha ouvido falar que a negra Anastácia tinha tomado muitos bolos e a mão estava toda ferida de tanto bolo que tomou , ela , foi pega dando água para um dos fugitivos que era um filho seu , assim me contaram, eu tratei logo de me banhar antes que sobrasse para mim e fui para o meu canto dormir , pois tinha que me desdobrar , pois a lavoura estava precisando de mais gente , mais a quantidade de escravos era muito pequena para tanto serviço e a sinhá Acácia queria ver o jardim , e o que estava faltando , e se eu não desse conta de tudo , eu corria o risco de voltar para cortar cana e aí eu não queria , mas , para o meu gosto , as flores estavam crescendo que só , e estavam ficando bonita , agora o milagre era feito por conta da natureza , mas não tinha jeito , se tivesse ruim eu é que levaria a pior e eu não queria apanhar .
No dia seguinte , a sinhá foi ter comigo e eu já estava de pé no jardim , já tinha feito tudo que podia e estava me encaminhando para a lavoura , quando ela se aproximou , e aí eu fiquei intrigado com uma coisa , ela estava acompanhada de seu Germano , e eu fiquei com mais medo do que eu já tinha em minha alma, aí foi que ela falou ---- vejo que fez um bom trabalho aqui , está ficando uma formosura o meu jardim , e virando-se para Germano --- senhor , de agora em diante , quero que Inácio , tenha livre acesso aos matos da propriedade e que tudo quanto for espécie de plantas e flores sejam trazidas para adornar meu jardim , esta casa há de ficar linda até que possa trazer visitantes da corte e quando Rosa chegar , contemplar a beleza dele . Foi a primeira vez que eu ouvi a sinhá falar na filha , e eu fiquei curioso para saber , como ela era ; mas tratei apenas de cumprir o meu serviço e foi o que fiz , a sinhá ainda ficou ali olhando as plantas e eu de cabeça baixa , e seu Germano me encarando , mas nada disse , apenas quando finalmente a sinhá foi embora sua voz de pouco caso ;-- não pense que é porque está tendo toda essa regalia que eu não estarei de olho em você , seu negro imundo! , por que se está pensando que terá vida boa está enganado , vá logo para a lavoura , negro preguiçoso !, você tem sorte que a sinhá Acácia gostou de seus serviços ! e eu fui , sem nada a dizer , nem um sim senhor , senão podia ser pior , e fui fazer o que tinha que ser feito , agora eu podia andar livre , pela terra em busca de plantas e flores para o jardim da frente da casa , teria um pouco de ar fresco só para mim , já estava até saboreando a água do riacho , que eu vi quando aqui cheguei e com sorte podia ver o pai Tonho ...
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O Dedo de Deus (Obra não revisada)
RomanceEsta obra retrata a vida do escravo Inácio que superou todas as suas provações, na dura vida da senzala, seus medos e tormentos a que a escravidão lhe submetia. Em meio a todas essas injustiças, apaixonou-se por uma mulher branca que vinha ser sua s...