O som estridente do sinal tocou. Típica sexta-feira e bem, eu com a típica cara de sono de primeiro dia de aula, aquela cara de quem acordava as três horas da tarde, com sono mesmo dormindo com direito á acordar, levantar, e voltar a dormir sempre - até alguém me obrigar a fazer algo em casa, ou sentir fome, é claro -, mas por sorte, não estava com olheiras. Fiz a matrícula meio atrasado, mas estava tudo bem, já que o colégio estava passando por obras, então esse era nosso primeiro dia de aula.
Um homem alto, com cabelo como o meu, mas um pouco grisalho, e o castanho de um tom bem mais escuro entrou na classe. Ao contrário de no Ensino Fundamental, que todos se animavam com o primeiro dia de aula e abraçavam os conhecidos e cumprimentavam os novatos, todos estavam com a cabeça afundada nos braços tentando dormir, os abraços substituídos por um aceno e depois voltando a fazer como os outros, e o sinal mais presente de vida naquele lugar, eram as pessoas escutando músicas com um fone no ouvido e o outro solto para se alguém os chamasse. E finalmente, a hora que eu menos queria que chegasse.
O homem meio grisalho bateu palmas e disse com autoridade, porém com calma:
- Atenção! - ele aguardou, pensando que algo mudaria, mas todos continuaram posicionados. O pessoal do fone ainda escutava música, mas olhava para ele. - PRIMEIRO ANO A! - Todos se levantaram assustados e incomodados por terem sido tirados de seus sonos ou refrões. - Obrigado. - disse ele logo limpando a garganta fazendo um som grave e ríspido. - Hoje, é o primeiro dia de aula e...- - ele foi interrompido por vários "Jura? Nem imaginava", mas simplesmente revirou os olhos e terminou - e como todo ano, temos alunos novos. - escondi minha cabeça entre a mesa e meus braços apoiados nela, mesmo sabendo que nada adiantaria. - Quero apresentar á vocês... - puxando a gaveta e pegando um caderno de lista de chamadas, ele vacilou em falar, parecendo que tinha lido algo a mais e pronunciou - Lexam. Lexam Densolo! - senti que ele tinha apontado pra mim, pois todos se calaram, e ninguém se pronunciou por ter esse nome. é, obviamente era eu. - Lexam, conte-nos sobre você. - Forçado a levantar, levantei a cabeça e comecei.
- Sou um menino, queria estar na minha cama, e odeio você por ter feito isso. - disse voltando a esconder minha cabeça e recebi inesperados aplausos de todos em classe. Foi um dia longo, e quando três horários de apresentações e brincadeiras se passaram, na hora do intervalo, alguém me puxou de trás pelo ombro, fazendo eu me virar.
- Eu já te falei o quanto eu te amo? - a garota riu - Sério, aquilo foi demais - disse Lara e ri junto com ela, segurando a mochila na mão por estar desacostumado com o peso de mochilas escolares. Conversamos sobre séries, livros, singles novos, e o sinal bateu, e assim entramos de novo, e ela se sentou atrás de mim pra que pudéssemos continuar conversando na aula.
No meio da aula de biologia, senti algo grudento bater na minha bochecha, com muito nojo tirei com a mão.
- EEW, SÉRIO, CARA? UMA BOLINHA COM BABA? ECA! - disse, e a professora obviamente percebeu a situação... peculiar e me perguntou:
- Quem foi a delicada pessoa que jogou isso? Lexam, sabe de onde veio?
- Diagonal direita, mas não vi ninguém jogar, só senti essa... coisa.... - respondi
- Fui eu. - disse um aluno na direção que eu havia dito - Estava ensinando ao novato sobre líquidos alcalinos viscosos, professora. Aula de biologia, só quis ser um bom aluno - tentou manter uma postura séria mas era óbvio que estava tentando não rir, então, deixou a sala toda fazer isso por ele.
- Eca, cara, eca. - disse me levantando e saindo da sala.
- Onde é que você ta indo, Densolo? - disse a professora em tom rígido.
- Pro banheiro, quero lavar meu rosto.
- E pensa que pode fazer isso sem permissão? - mostrou autoridade
- Você não deu permissão pra ele - fiz aspas com os dedos - "me ensinar sobre líquidos alcalinos viscosos", e mesmo assim ele - fiz aspas novamente - "ensinou" - disse abrindo a porta e saindo da sala. E logo, depois de sair do banheiro, da escola, mesmo ainda estando no quarto horário. Voltei pra casa xingando o garoto, e logo comecei a falar coisas que pra mim faziam sentido, mas pra qualquer outra pessoa não faria sentido algum, como - Maledictus haedum - e - salivae, quod haeret in auribus illius - e até - et lignum vitae ne illum where'm bibendum. - e a última coisa audível foi - fatuus, medíocre.
Quando cheguei em casa, minha mãe ainda não tinha chegado, e parece que Maria, a moça que trabalhava em casa como doméstica, tinha saído pra algum lugar. Ainda bem que eu tinha a chave. Me joguei na cama, peguei meu celular do bolso, digitei pra Lara:
"Traz minha mochila pra mim quando sair da aula? Fugi da escola, Xx"
e enviei por mensagem, e por fim dormi. Tive um sonho estranho. Um lugar todo branco, principalmente o piso. pra cima eu via o céu, mas não era azul, era de um branco mais escuro que o piso, como se fosse tomado por núvens, mas as núvens estavam normais e num branco mais claro que o do céu. Eu não estava no sonho, ninguém estava. Sem árvores, grama, só a paisagem branca. E dormi por horas vendo o local de vários ângulos em meus sonhos.
N/A: Eu sei exatamente como a história vai continuar, mas se vocês querem que ela continue, por favor, comentem! Algumas partes são/serão baseadas em coisas que eu presenciei ou até aconteceram comigo. Mas preciso saber se vocês gostam. Não faz sentido escrever sem um público.
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Salvation
Teen FictionA história acontece em volta de Lexam Densolo, um garoto até então comum no colegial, que descobre seu passado através de outro garoto, e através de uma estátua esculpida em nome de uma profecia. Lexam, é na verdade, um anjo adolescente.