As Gotas Na Folha

Mãe

Foi difícil vencer a minha timidez no ensino médio mas se tem algo que me ajudou foi a arte, entrei para o grupo de teatro da escola e assim eu pude me expressar melhor e me relacionar melhor com as pessoas.. confesso que não sou lá uma ótima atriz (pra não dizer que sou um desastre) mas como amo coisas relacionadas à literatura fiquei ajudando a professora a roterizar as peças, até que esse ano ela conseguiu permissão para que eu escrevesse o roteiro da próxima peça... VÃO APRESENTAR UMA PEÇA QUE EEUUU ESCREVI!!
Como eu tô? MORTA!

-Bom dia mãe!
....
-Mãe? Mãae!!

-"Katy, tive uma reunião de emergência e vou fazer uma viagem.. vou aproveitar e ficar por aqui mais uns dois dias, tô muito estressada e preciso relaxar"
- Alô? Mãe?
-O QUE É KATY?
-Você não esqueceu de nada? Lembra o que tem hoje à noite?
-Ah Katy me poupe! Você acha que eu vou trocar uma folga por um trabalho de escola idiota?
- Mas não é um simples trabalho, é uma peca que eu...
-(Tu..tu..tu)
-Escrevi....

(Notas sobre a "Dona Carmem")

Como eu falei anteriormente, na minha infância fui criada como "princesinha superprotegida" mas na cabeça da minha mãe quando se tira a parte da "princesinha" a parte da proteção também vai junto.. digo isso porque a nossa relação mudou muito de um tempo pra cá, e só agora eu percebi que nunca tivemos uma relação de verdade, ela me via como uma "boneca" ou  "investimento" é comum de toda mãe "tradicional" educar seus filhos segundo a sua própria educação, mas no caso da minha mãe era diferente, ela me "amava" enquanto eu vestisse o que ela gosta, pensasse como ela pensa e sonhasse os sonhos dela.
Mas eu não quis ser uma versão frustrada da minha mãe, e isso irrita ela, os meus sonhos irritam ela, as minhas roupas, gostos, a minha essência!
E a forma que ela me trata já não me irrita mais.. me dói! Me magoa, e inflama aquela minha velha ferida do abandono.. eu fui "fora de padrão" desde a minha infância, e hoje até a minha mãe me despreza por isso.

"E sua lágrima era maior que seus olhos..
E maior até que sua dor..
E veja só, ao invés de lutar, ela se entregou..
E seu melancolismo se solidificou
E em monstro se transformou
Mais um monstro pra lutar..
Ou melhor, pra se entregar!
Se lamentar e afogar- se em um poço!
Lutar Pra quê? Se chorar não exige esforço?"

-Uma Foragida