Nos funerais, ninguém sabe o que realmente falar. Alguns ficam calados, outros conversam sobre pessoas que brevemente morreram, sobre o clima, política, ou até mesmo o irônico nascimento de uma criança.
Essas com certeza são as coisas que pessoas de uma cidade pequena como Pointer City falam.
Elas também mentem.
Dizem o quão bom era o defunto, pai amoroso, respeitado, sem nem ao menos conhece -lo. Não que não exitem pessoas assim, com tais características, mas é isso que estão falando do meu pai.
Quero gritar que é mentira, que ele era praticamente um monstro, que me batia, as vezes não me deixava comer presa no quarto, e que por causa dele meus braços são cheios de cicatrizes, por ter tentado me matar mais vezes do que posso contar.
Não há muita gente aqui nesse cemitério. Alguns amigos de bar do meu pai, vizinhos que sempre fingiam não escutar meus gritos por socorro. Mas boa parte são completos estranhos.
Por ser uma pequena cidade, boatos, fofocas ou mortes, correm rápido. Então, consequentemente, são moradores curiosos que aparecem para ver se é verdade e fingir que o conhecia. Mas só eu o conhecia de verdade, devo acrescentar um infelizmente.
Arthur se aproxima, ficando atrás de mim, com um gesto que diz que ele esta ali para me dar apoio. O calor familiar do seu corpo me dá um conforto que não achei que sentiria hoje.
Me perguntei o tempo todo em como fingir a filha triste pela morte do pai se não estou tão triste como devia? Claro, ele era meu pai, muitas vezes quis a sua morte, mas não achei que iria acontecer tão rápido.
A única coisa boa que me aconteceu foi conhecer Arthur, meu melhor amigo. Meu único amigo.
Nos conhecemos na época de escola quando eu tinha 10 anos e ele 12. Eu e ele estávamos com alguns anos atrasados, então éramos os mais velhos em uma sala com alunos de 8 e 9 anos. Começamos estão a cuidar um do outro, ele ainda cuida mais de mim do que eu dele. Já deu um soco no meu pai uma vez, para evitar que ele me batesse antes de irmos para o baile de formatura. Eu o amei mais ainda depois disso. Ele é minha única família agora.
"Esta bem Licy?" sussurra atrás de mim.
"Porque esta perguntando isso? Esperava que eu estivesse chorando pela morte do Tom?" pergunto irônica, mesmo sabendo que ele não merece isso.
Só estou cansada de perguntarem sempre a mesma coisa para mim desde das últimas 48 horas.
"Não. Não pela morte do Tom, mas pela morte do seu pai" ele parece ferido, mas continua ali, me dando tempo, apoio, e sua paciência. Ele é a melhor pessoa que já conheci.
Me viro para olhar ele. Cabelos pretos e ondulados, pele branca de quem realmente nasceu nessa cidade fria, olhos verdes esmeralda.
Os olhos dele sempre me dizem o que ele esta pensando, e agora, está com uma leve ondulação entre as belas sobrancelhas, o que representa sua expressão indecifrável.
"Tom. Papai. São todos a mesma coisa" respondo ríspida.
Ele me abraça sem avisar, me deixando tensa. Tento relação em seus braços.
"Não são Licy. Tom era um idiota cruel, seu pai é a visão boa que você tinha do Tom, por ele ter seu sangue e por ser sua única família" alisa meu cabelo, me fazendo suspirar.
"Queria que Tom pudesse ter sido um pai de verdade" me afasto. "Mas ele não foi, sou a prova viva disso" termino e me viro para o caixão suspenso, encerrando a conversa.
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Que Bom Que Você Chegou.
De TodoFelicity e Felícia, duas irmãs gêmeas que foram separadas quando ainda eram dois bebês, pois após muitos anos sofrendo nas mãos do marido, a mãe delas decidi deixa -lo, mas ele ganha um direito de ficar com uma das gêmeas. E a assim sua mãe parte pa...