Raiva

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Pov Ella Marcuzzo

Justin não me atendia.
Eu estava há quase uma hora tentando ao menos fazer com que ele me atendesse, e ele desligava logo no primeiro toque. Será que ele não conseguia entender que nós ainda não tínhamos idade para nos casar?

— Justin – murmurei – É a Ella. Por favor, me liga, a gente precisa conversar. Olha, eu não... me liga quando ouvir isso, tá? Eu te amo – sussurrei, suspirando alto e me jogando em minha cama – Por favor, liga.

Quase quarenta minutos se passaram e o meu celular tocou. Eu atendi... e era ele.

— Justin, graças à Deus você me ligou. A gente pode, por favor, conversar? Eu pr...

Ele começou a rir.

— Ella – ele riu mais – Não me ligue mais, tá legal? – murmurou. Ele estava bêbado.

— Me escuta, eu só quero...

Ella, eu quero que você se foda – disse – E quer saber? A ideia de me casar com você foi de Scooter – ele suspirou – E eu só aceitei porque... qual é, seria uma puta grana para mim, não seria? A parte de eu te amar – Justin riu – Agora eu nem sei se era mesmo verdade... olha, você até que é gostosa e eu gostava de estar com você tipo, mesmo. Mas sei que existem outras.
Meu coração se apertou e eu engoli seco.

— O que está dizendo? – choraminguei.

Ele começou a rir alto.

— Que você é uma vadia que serviu muito bem para aumentar a minha fama. Valeu.

E Justin desligou o celular.
Eu não sei o que eu senti. Em um instante me doeu e eu quis desesperadamente só sumir e esquecer suas palavras; e depois eu senti raiva. Raiva por ter acreditado e por ele ter me feito acreditar; em nenhum momento tinha sido de verdade? Quando ele me pediu em casamento, era apenas marketing? Dinheiro, fama? Era só isso?

Eu não conseguia acreditar.

Peguei meu celular, a bolsa e um casaco, saindo de casa sobre os protestos dos meus pais – eu ainda não conseguia falar com eles normalmente. Saí andando pela rua sozinha, com as palavras de Justin se repetindo em minha cabeça num looping eterno. Meus passos estavam pesados, rápidos; eu não tinha ideia de onde estava indo. Talvez minha raiva me levasse para algum lugar que não me lembrasse Justin.

Minha casa era o pior lugar para se estar naquele momento; cada canto de lá tinha um pouco dele, nós tínhamos estado em todos os lugares quando nos vimos pela primeira vez. Balancei a cabeça tentando afastar meus pensamentos e suspirei alto.
Nenhuma lágrima.

— Me desculpe – pedi, quando esbarrei em alguém na rua. Eu continuei andando.

— Ella? – chamou uma voz conhecida.

Ergui os olhos e me virei.

— Cameron? Ah, meu Deus, não brinca!

— Meu Deus, é você – ele disse e sorriu, me puxando para um abraço apertado.
Cameron e eu éramos amigos no colégio e depois que o ensino médio acabou, nós nunca mais nos vimos ou falamos – e não me pergunte o porquê, só aconteceu. Eu fiquei feliz de encontrá-lo, pois sabia que as coisas continuavam da mesma forma que um ano atrás; suspirei e o apertei.

— Eu tenho te visto, garota – disse – Você deve ser a pessoa mais feliz agora, não é?
Eu me afastei para olhá-lo e engoli seco.

— É – murmurei – Era o que parecia, não?

Ele assentiu e franziu as sobrancelhas.

— Era. Ella, se você quiser conversar... eu não sei, podemos ir para algum lugar e...

— Não.

— Você está bem? – Cameron perguntou.

— Não – repeti – E eu não quero chorar.

— Quer me contar o que aconteceu?

— Tá – eu falei, rápido demais – Vamos.

Eu puxei Cameron pelo braço.

— Anjo, eu tô de carro – ele falou e eu me virei para olhá-lo, confusa – O que foi?

— O único carro que eu vejo é aquele e...
Analisei Cameron com atenção. Eu não tinha me tocado de como ele tinha estado longe e como tinha mudado. Suas roupas, até o seu cabelo estava diferente e bem, agora ele se parecia com os antigos caras que jogavam no time do último ano. Eu ri.

— Cameron...

— As coisas mudaram – sussurrou e me estendeu a sua mão – Vamos, Eleanor?

Abri a boca mas fiquei quieta e segurei a sua mão, ainda sem entender muita coisa.
Nós entramos no Audi estacionado no fim da rua e Cameron nos levou até sua casa, que também estava muito diferente de quando eu o visitei, antes da faculdade.

— Ok, você ficou rico de repente?
Ele riu e balançou a cabeça, saindo do carro e tirando um molho de chaves do bolso. Saí e fechei a porta, ainda surpresa com a mudança do garoto que foi um dos meus melhores amigos no colégio – e é, talvez ainda fosse. Eu o segui até à porta e ele a abriu, me puxando para dentro. Ele não me deu tempo de dizer nada sobre a enorme – e aparentemente, cara – sala de estar e me puxou para o andar de cima; a próxima porta que ele abriu era a de seu quarto. Ele se sentou e eu fiz o mesmo.

— Antes que você pergunte mais alguma coisa – falou, quando abri a boca – Você tem algo a me dizer, não tem? Eu a trouxe aqui para isso, Ella – disse e eu suspirei.

— Eu não vivo mais uma fanfic, ao que me parece – sussurrei, rindo – Céus, ótimo.
Meus olhos se encheram de lágrimas.

— Ella, como assim?

— Hoje – murmurei, engolindo seco – ele me convidou para jantar. Disse que tinha a ver com seu novo álbum e eu fui, mas...
Justin tinha preparado tudo e meu Deus, todos os seus amigos e toda a sua família estava lá... era algo tão maior. Cameron...
Precisei respirar fundo. O olhar de Justin me veio à cabeça; no exato momento em que eu disse não. Por um momento eu cheguei a achar que eu talvez estivesse errada e que tudo o que tinha acontecido, desde sua reação até a ligação, era minha culpa; eu cheguei a me perguntar se não deveria voltar atrás e se eu o amava. Sei que a resposta parecia mais do que clara há um tempo, mas quando você machuca alguém que diz amar, não tem a certeza.

E se eu tivesse dito sim?

— Ele me pediu em casamento.

Cameron ficou quieto e eu dei risada.

— E eu disse não.

— Eleanor, você... você disse não? Como assim? Por quê? – perguntou, confuso.

— Agora nem eu sei mais – murmurei, chorando – Eu tentei ligar para ele. Ele – ri fraco – disse ter se enganado comigo e agradeceu por eu ter sido mais um vadia.

Eu não tinha ideia de como me sentir.

A Fresh Start / #Wattys2018Onde histórias criam vida. Descubra agora