PREFÁCIO

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"I got ice in my veins,

blood in my eyes,

hate in my heart

and love in my mind"


Quando somos crianças, tudo é motivo de alegria, piadas e risadas. Eu sinto saudades de correr, pular e brincar o dia inteiro sem ficar com um pingo de cansaço. E o final era sempre o mesmo: socar minha cabeça no travesseiro sem ter que me preocupar com nada. Eu tinha pouco, mas era o suficiente pra me fazer muito feliz. Tudo era perfeito, até que aquele dia chegou... E eu me lembro como se fosse ontem.


14 de Agosto de 2013


- Abra a porta! – gritou a voz aguda, de maneira ríspida, dando batidas que mais pareciam socos contra a porta; eram tão fortes que era possível vê-la tremer, como se fosse ceder a qualquer instante.

Dentro da casa, o silêncio era absoluto, afinal, ninguém se atreveria a fazer um ruído sequer. Algumas crianças choravam em silêncio, guardando seus soluços para si mesmas, enquanto outras simplesmente enterravam suas cabeças nos poucos travesseiros que tinham. O importante era parecer que não havia ninguém ali – como se os homens do lado de fora fossem tolos o suficiente para acreditar.

A pequena menina, que vivia sempre feliz e contente com o pouco que tinha, estava agarrada a uma das mulheres de idade que pediam o silêncio dos pequenos, vendo a si mesma estremecer a cada batida violenta na velha porta de madeira.

- Não nos obriguem a derrubar – a voz tornou a ecoar pela pequena casa, mais ríspida do que da primeira vez – Não queremos ser rudes, estamos apenas fazendo o nosso trabalho.

E esse foi o ultimo aviso. Com os olhos cheios de lágrimas, a menina viu a porta de seu lar cair como se fosse a folha de uma árvore durante o outono. E com isso, vários homens uniformizados entraram e começaram a retirar tudo o que encontravam pela frente, jogando na rua sem nenhum cuidado.

- Desculpem por fazer vocês passarem por isso crianças – disse uma das senhoras, em prantos.

Nossos anjos da guarda, aquelas que nos acolheram e criaram como se fossemos seus próprios filhos, não tinham como sustentar mais um mês de aluguel. Fomos jogados na rua como se fossemos ratos. RATOS. E tudo porque uma grande empresa decidiu, naquele ano, comprar vários terrenos para montar a sua sede em Caron Ford.

Behind Words & ChillsOnde histórias criam vida. Descubra agora