Formas geométricas invadem minha visão impossibilitando a nitidez do cenário no qual me encontro, minha cabeça dói, tento mexer os braços na intenção de levantar e percebo que meus pulsos estão amarrados. Vinda da janela, a luz da lua penetra na superfície do chão, foco no local a minha direita e percebo que prateleiras encobertas por livros dão origem a um extenso corredor.
Estou na biblioteca da minha escola, e não faço ideia de como vim parar aqui.
Com certa dificuldade, ergo meu tronco e fico sentado, leves estalos ecoam na minha mente por conta do movimento. No novo ângulo é possível notar mais detalhes, há terra espalhada pelo chão, se trata de um rastro que termina na porta, levanto.
O breu não ajuda a manter minha confiança e sanidade, o lugar poderia parecer bonito se estivesse em outra situação, mesmo tomado pelo medo começo a caminhar na direção da porta e abro-a. A escola está fechada, afundada na escuridão infinita, anteriormente eu diria que era impossível ficar mais apavorado, contudo, aquilo era macabro. Estávamos no outono então as plantas eram compostas apenas por galhos, a lua iluminava exclusivamente o caminho que eu teria que percorrer até chegar na secretaria, o céu era escuro, a cor das paredes ajudava no contraste tétrico e eu tinha que chegar até os interruptores.
Fechei os olhos, eu não seria dominado pelo medo novamente.
O caminho não pareceu tão longo, percebi que tudo era questão de manter a calma independentemente da situação, acredito que essa calma teria se manifestado pelo fato da minha cabeça ainda não estar raciocinando direito. Cheguei aos interruptores e pressionei todos eles, eram quatro no total. Meus dedos tremiam, as luzes foram se ascendendo em sequência pelos corredores e eu vi que não havia nada de anormal na escola além do silêncio, olhei a minha direita onde se encontrava a sala dos professores, dois banheiros e uma extensa mesa, a direção também ficava naquele lado. Sem razão nenhuma, olhei para frente onde ficava o segundo andar.
Não houve qualquer reação da minha parte, eu apenas tentava processar o que se passava na minha frente: o sangue escorria ganhando vida e se expandindo sobre os degraus, uma mulher loira estava caída no chão com os olhos abertos, uma faca estava fincada sobre seu pescoço e não havia mais vida sobre ela. Nunca passei pelo que estava passando naquele momento então não sabia o que fazer, de modo automático comecei a caminhar em sua direção, um segundo choque me atingiu.
A mulher com quem eu me deparei sozinho, em uma escola inundada pela escuridão, a mulher que agora estava em meus braços servindo de superfície para as minhas lágrimas, a mulher que Deus sabe como acabou assim ...
Era minha mãe.
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Você Não Me Conhece
Mystery / ThrillerE se você não tivesse controle sobre si mesmo?