A Inexplicável Dádiva de Amar

Capítulo 3 - Hayle

Capítulo 3

Hayle

         Estou na cozinha tomando café da manhã, quando a campainha toca. Olho em direção a pia e vejo uma pilha de louças para lavar. Faço planos para lavar mais tarde e saio arrumando tudo que está na minha frente, até chegar à porta em uma tentativa de amenizar a bagunça.

         Quando a abro, Fernando entra em disparada, com aquele sorriso. Ele se aproxima, me dá um beijo apaixonante e logo se afasta e começa a falar dos planos para o final de semana. Parece tão empolgado, mas eu, na verdade, não estou entendendo nada. Por que ele me beijou? Por que retribuí? E desde quando temos essa intimidade toda?

         Ouço-o fazer planos, caminhando de um lado para o outro, está tão inquieto. Eu abro a boca para me pronunciar e ele fala antes de mim:

         - Agora que estamos juntos, temos que aproveitar cada segundo, antes de irmos para a faculdade – Abro mais ainda a boca, não acredito no que ouvi, estamos juntos? Como assim? Gosto muito do Nando, mas nunca pensei em ter nada com ele. Começo a sentir um calor, uma falta de ar e Nando se aproxima e começa a me sacudir.

         - Hayle, está tudo bem? Hayle? Hayle? – Sua voz parece distante, quase inaudível.

         Quando acordo em sobressalto, estou encharcada de suor.

         Eric estava me chamando, levei um susto ao vê-lo na minha cama. Estava vestido, lindo de morrer mesmo com um olho roxo e o cabelo ainda molhado do banho. Olho-o com a intenção de lhe perguntar o que faz em minha casa, mas logo me lembro do motivo de ele estar ali, mas mesmo assim fico possessa por ele estar no meu quarto. Quem permitiu ele entrar?

         Ontem, quando cheguei em casa e vi a porta aberta, subi as escadas e fui em direção ao meu quarto. Dei de cara com Eric sentado na minha cama, perdi meu chão ao vê-lo ali, mais respirei fundo e entrei determinada a lhe dizer poucas e boas.

         - O que você faz aqui? Por que arrombou a minha casa? Quem você pensa que é? – Eric se levanta e vem na minha direção. Sem nem pensar duas vezes, dou um passo para trás. Ele para no mesmo instante e, tenso, pronuncia:

         - Vim me explicar, não é o que você está pensando!

         Não acredito no que ele acabara de me dizer. Eu o vi de mãos dadas com outra e ainda não é o que eu estou pensando? Ele acha que eu sou o que? Abro um sorriso e o olho como se eu acreditasse em suas palavras. Aproximo-me como se fosse lhe dar um beijo e o sinto relaxar, por um segundo acho que o convenci. Vejo-o abrir um meio sorriso, que até algum tempo atrás me tirava dos eixos e, antes que eu perca as estribeiras e não resista a seus encantos, desvio o meu olhar do dele e digo próximo ao seu ouvido:

         - Você acha que eu sou idiota? – Me afasto e o encaro, agora com uma expressão séria, continuo falando.

         - Acha que eu iria cair nessa conversa de que não é o que eu estou pensando? Achou mesmo que eu iria acreditar nesse seu papo furado? – No mesmo instante seu sorriso desaparece, dando lugar a um olhar perdido, acho que percebeu que não caio mais em seus joguinhos. Ele faz menção de se pronunciar, mas logo o corto e continuo, agora andando ao seu redor do quarto. Com minha postura determinada, digo tudo que está entalado:

         - Foram cinco anos Eric, cinco anos me dedicando a você! Você terminou comigo, alegando que iria para fora do país e que não daria certo mantermos um relacionamento a distância, que não queria mais ficar comigo! Dias depois vai para a mesma festa que eu, na qual sabia que eu estaria, com outra!  O que você pretendia com isso?