Capítulo 3

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" Um, dois, três afastar!" "Um, dois, três afastar!"

Inspiro novamente uma quantidade indeterminada de ar, recupero todos os sentidos novamente e consigo novamente ouvir e ver tudo o que se passa à minha volta. A dor de cabeça que sentia há breves momentos desapareceu e a única dor que ainda sinto é um peso bastante grande no estômago por desconhecer ainda o motivo pelo qual aqui estou. Mas se me fossem matar não me teriam acabado de salvar. Um pingo de esperança forma-se na minha mente. 

                                                                          **

- Evan, John! Ele está a acordar. - profere uma voz feminina que me é bastante familiar. 

Sinto o calor de três pessoas que estão próximas de mim misturado com o calor proveniente dos raios de sol que embatem diretamente na minha face, abro os olhos e visualizo o rosto dos meus três amigos, eles vieram apoiar-me. 

- Como é que.. como é que souberam que eu estava aqui?- pergunto com a voz fraca num tom agudo. 

- A tua mãe ligou-me e disse que eventualmente irias precisar de companhia assim que acordasses. - responde Evan fitando lentamente os meus olhos. 

Novamente aqueles malditos olhos verdes, foco o meu olhar nele até Evan desviar o seu olhar para a maquina de batimentos cardíacos que se encontra distanciada de mim por poucos metros. 

- Sabem.. o barulho disto é super irritante. - exclamo com uma pequena gargalhada. - Obrigado por me terem vindo visitar. - agradeço. 

- Estaremos sempre aqui para o que precisares tonto. - diz calmamente John. 

Fico um pouco surpreso e surpreendido quando John me dirige a palavra visto que o mesmo é bastante reservado e raramente alguma palavra sai da sua boca. 

- Bem, vou-me só vestir e vamos embora daqui que já não aguento este ambiente nem mais um minuto. - meto-me em pé. Sinto-me bastante fraco, não sinto qualquer dor física mas há algo em mim que  impossibilita o meu próximo passo, caio contra a maquina de batimentos cardíacos assim que tento mover-me mais um pouco. 

Os braços de Evan envolvem-me evitando que eu caia no chão. 

- O médico disse que terias de cá ficar pelo menos mais 4 dias Peter. Estás muito fraco, o teu ataque de pânico deixou-te bastante fraco. - explica Evan ajudando-me a voltar para a cama. 

- Espera.. Ataque de pânico?-  pergunto confuso. 

-Sim, quando estavas com a tua mãe reagiste mal a uma notícia qualquer na televisão e tiveste o ataque, a tua mãe chamou a ambulância e vieste cá parar.- acrescenta. 

Rapidamente sinto o meu corpo mais leve, o nó que tinha na barriga desfaz-se sentindo-me agora mais aliviado. Que idiota que sou por pensar que a minha mãe me podia realmente entregar, sou o seu filho e uma mãe é incapaz de trair um filho, pelo menos a minha é. 

Não respondo a Evan mantendo-me em silêncio. Segundos depois lanço-lhes um sorriso como forma de agradecimento por estarem ali comigo. Levo o meu olhar a um pequeno relógio velho e castanho pendurado ao pé da porta de entrada. 

- Vocês deviam  ir andando. A vossa primeira aula está quase a começar, não quero que faltem por minha causa. - digo em tom de ordenação. 

- Ficas bem? - questiona-me Eva. 

- Fico. - respondo-lhe. 

Damos um abraço de grupo e minutos depois os três saem  deixando-me sozinho no quarto onde estou hospedado. 

" ENFERMEIRA!" grito esperando que respondam ao meu pedido. 

- Chamou menino? - entra no quarto uma enfermeira que aparenta ter mais ou menos a minha idade. Encontra-se vestida com uma bata totalmente branca que lhe cobre uma t-shirt cor de rosa. 

- Acha que me poderia trazer o pequeno almoço? Estou cheio de fome. - peço. 

- Claro, volto já com a sua refeição. - acolhe o meu pedido. 

- Agradecido. 

Assim que a enfermeira abandona o mesmo compartimento onde eu estou, entra a minha mãe com um ar surpreso assim que me vê acordado. 

- Peter! Já acordas-te! - afirma a minha mãe com um ar bastante feliz. 

- Sim mãe, sou eu. - solto uma gargalhada. 

- Tive muito medo sabes? Medo de te perder. Medo de ficar sozinha. - lamenta. 

- Shh... Estou aqui, está tudo bem.- lanço-lhe um sorriso tranquilizador abraçando-a segundos depois. 

                                            **

São horas de jantar. Faz agora precisamente um dia que aqui estou hospitalizado. Apenas 24 horas passaram e estou completamente saturado deste ambiente e do cheiro que invade todos os cantos deste hospital. A minha mãe foi jantar ao café situado no piso inferior ao meu. Encontro-me neste momento sozinho no quarto esperando pelo meu jantar. 

O hospital à noite é bastante tranquilo e silencioso, raramente se vêm pessoas a passar pelo corredor e não é frequente ouvir pessoas a falar do outro lado da porta. 

Depois de jantar todos os dias costumo ir à varanda ver o pôr do sol mas hoje não o poderei fazer, sinto-me bastante fraco e por tanto incapacitado de me erguer totalmente. Até o poderia ver da cama mas a única janela existente no quarto é pequena e para além do mais tem os estores estão fechados . 

Foco-me no vazio situado na parede à minha frente enquanto espero que a enfermeira me traga o jantar. Começo a ouvir vozes do outro lado da parede, duas vozes masculinas. Consigo reconhecer uma delas, é o médico que me está a acompanhar, mas a outra voz é me completamente estranha. Tento focar completamente a minha audição na conversa deles. 

" O Governo está a pressionar-nos cada vez mais doutor. Tem de perceber que estes testes são obrigatórios e foram exclusivamente ordenados pelo governo. Amanha de manhã iremos fazer o teste da homossexualidade a todos os pacientes deste hospital e detetar todos os casos aqui existentes, esta doença tem de ser erradicada. Nem que isso exija medidas extremas". 

Meto a mão à frente da minha boca para segurar o grito que está prestes a sair da mesma. O meu primeiro pensamento é como será que eles irão testar se uma pessoa é homossexual ou não, isso é possível ao menos? O segundo pensamento que me assombra a mente é o facto de não poder ficar nem mais uma noite neste hospital, tenho de o abandonar e de imediato. 

Assim que o corredor fica novamente silencioso, levanto-me com alguma dificuldade tirando o fio do soro de dentro do meu braço, gemo num tom baixo ao tirá-lo, sinto-me fraco. 

" Concentra-te Peter" é a única coisa em que consigo pensar. Visto a minha roupa, que se encontra apoiada na cadeira do outro lado do quarto, para me confundir entre o resto das pessoas. Abandono o meu quarto o mais silenciosamente que consigo. Vou em direção ao elevador situado ao fundo do corredor clicando depois no botão para as portas abrirem. Ouço passos que vêm na minha direção, o meu coração bate com mais intensidade. 

- Peter Andrew fique imobilizado exatamente no sítio onde está. Nem mais um passo! 



Executado Por Ter NascidoOnde histórias criam vida. Descubra agora