Essa conversa está tomando um rumo sem volta. Quero perguntar sobre esses tais "poderes", mas não tenho certeza se serei bem recebido para respostas, principalmente porque ela está com aquela cara de quem está pensando em fugir de novo, e com essa história de separação, sei que agora ela pode acabar realmente tentando isso, e vai acabar se matando nesse estado em que se encontra. Decido conceder isso a ela.
- Ok. Você consegue se deitar na mesa novamente? - ela olha pra a mesa em que estava antes de cair, e percebo que ela está se esforçando ao máximo nisso, pois ainda deve doer, agora que o ferimento esfriou e adrenalina passou. Ela enfim, consegue subir. - Ótimo, agora eu vou me transformar novamente pra tirar isso de você. Tem certeza mesmo que é isso que quer? - vejo-a balançar a cabeça, reprimindo alguma coisa. Provavelmente a dor.
Me transformo e observo seu ferimento. Não sei se é o certo, talvez essa erva não seja assim tão ruim quanto ela diz, talvez eu possa... Faço uma menção de desistir, mas ela vira a cabeça para o outro lado, nem me dando chance de falar qualquer coisa. Minha loba teimosa. Tiro o emplastro de ervas dela e volto a forma de lobo para poder conversar. Parece que o efeito da dor é instantâneo, e assim que sua dor vai aumentando conforme o efeito da erva passa, não consigo suportar ver seu sofrimento. Já decidi o que fazer, vou colocar a erva novamente nela. Dane-se sei lá quais poderes ela se refere, sua saúde é mais importante.
- Hey! Você não pode ficar sem a erva, - falo com firmeza - eu vou colocar de novo! Estou sentindo sua dor, e não vou deixar...
- Não!!!! - ela me assusta - Você não pode colocar isso em mim, nunca mais, ouviu? Sua mãe vai tirar a bala, e o ferimento vai fechar. Só não use a erva mais. Me prometa!
Ela faz então uma cara estranha como se nem ela mesma soubesse o que está falando, mas como se estivesse lembrando de algo.
Espere. Minha mãe? O que minha mãe tem a ver com essa história? Eu nem falei com ela direito quando estive na cidade. Isso não faz sentido, será que ela começou a alucinar devido a tanta dor?
- Como você sabe que a bala ainda está aí? E como assim, minha mãe? Eu não chamei ela. Ela nem faz ideia de que estamos aqui, ou do que aconteceu. Como ela poderia...
- Eu não pedi pra não discutir comigo hoje? Por favor, só acredite que ela vem, e ela virá.
Não sei no que ela está pensando, mas parece tão desesperada para que eu acredite nela que acabo entrando em dúvida. Se ela estiver realmente sendo afetada pela dor...
Então, tão de repente quanto um piscar de olhos, sinto uma calma tão boa, uma paz, que acabo concordando com ela. Não sei de onde veio isso, mas acabo aceitando o fato de que ela deve decidir o rumo a tomar.
Apesar disso, mesmo com essa calma repentina, eu não estava preparado para o que viria a seguir.- Fique comigo. É tudo o que eu preciso. - ela diz com o pouco de força que parece restar.
Fico tão comovido com seu pedido que suspiro profundamente absorvendo suas palavras, e sorrio feito bobo assentindo para ela, tendo a esperança de que talvez algo do que eu disse a ela tenha feito alguma mudança em sua maneira de pensar.
Ela precisa de mim?
Ela quer estar comigo?
Será que é isso mesmo?
Ou será uma alucinação minha desta vez?
Talvez ela tenha finalmente aceitado meus sentimentos, e decida me aceitar por completo.
Eu sei que não deveria, pois a qualquer momento ela pode mudar de ideia e tentar fugir novamente, ou talvez seja apenas mais alguma alucinação que a está fazendo falar coisas sem pensar, mas não consigo deixar de sorrir com a possibilidade de que a terei em meus braços pelo resto da vida.
Fico um minuto parado a observando enquanto ela parece apenas descansar com os olhos fechados, pensando se ela realmente está descansando ou sendo levada pela dor, se talvez eu deva recolocar as ervas mesmo tendo prometido que não o faria, e tão súbito quanto minha esperança chegou, ela desmorona como uma avalanche, que destrói tudo no caminho e leva em bora junto dela qualquer coisa que tente lutar contra.Enquanto ela parece perder a consciência, sua mente parece perder o controle. Uma série de cenas se desenrolam dentro de sua mente. Ou seria de minha mente?
Essas cenas parecem vir dela para mim, mas são minhas memórias.
São todas as vezes em que desejei ter Lanny em meus braços. Não é possível que isso esteja em sua mente, ela não poderia, não deveria saber disso nunca. Todas as vezes em que observei Lanny de longe, que passei cada minuto do tempo em que estávamos perto um do outro apenas desejando poder tocá-la, meus sonhos com ela, que aliás foram muitos; muitas noites sonhei que estávamos juntos, que éramos um par, que nos amávamos...
Na mente dessa loba, todas as cenas se passavam em minha visão, o que só servia para me deixar mais desesperado ainda. Se minha Luna pensasse que eu não a amava, e sim a outra garota, aí mesmo é que ela iria fugir de mim.Mas então, o golpe final!
Como se não bastasse todas aquelas visões, de repente vi uma que era a pior.
Nesta, eu e Taylor conversávamos enquanto ela me dizia que era a Luna a quem eu tanto procurava, e me abraçava. Mas não era isso o pior.
O pior foi ver a garota bruxa que me deu as ervas dizendo:- Ok, quem quer se desligar? Por que você não quer seu par, queridinha?
E então minha Luna responde:
- Porque não. Se você é a Bruxa que todos falam não preciso dar satisfação. É so me dizer seu preço e fazer seu serviço.
A conversa segue:
- Nossa, ele deve ter feito uma cagada das grandes... Mas enfim, eu tenho que saber sim, se não for um bom motivo não faço. Pensa que é fácil mexer com o destino e a natureza? Tenho que ter um ótimo argumento.
- Ele me magoou. Me traiu. Não quero mais ele. Satisfeita?
- Não é isso que quero saber. Quero saber exatamente quais foram as ações que ele cometeu.
- Ele escolheu outra ao invés de mim. Não tem mais o que explicar. Ele já tem a Luna que queria, agora eu vou escolher alguém que eu queira.
- Se você realmente quer isso, vai ter que esperar o cio acabar. Volte daqui a seis dias.
Esta não era uma lembrança minha, era dela mesma. Ela foi até a bruxa para me rejeitar depois de ter me visto desejando outra garota e sendo abraçado pela Taylor.
Ela realmente pensa que eu não a quero. Ou que quero outra pessoa por pensar ser ela.
Minha Luna não confia em mim, e a culpa é minha. Eu causei isso, e ela simplesmente não me quer mais. Agora entendi o porquê de ela fugir tanto de mim.
Ela está enganada! Completamente! Preciso fazer ela ver isso! Preciso encontrar um meio de mostrar a ela que é a única que eu amo!E então, como se ela percebesse e voltasse a si, sua barreira mental volta com força total, mas isso só serve para desgastá-la ainda mais, ela não suporta e acaba desmaiando.
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Um caso diferente
De TodoEla era apaixonada, mais era só mais uma entre várias que tentavam chamar sua atenção. Ele se apaixonou, mais não a reconheceu. Ela desistiu, mais ele não.