Capítulo 8 - A Batalha na Costa

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Ralph sempre pensava em como poderia ajudar as pessoas, desde os negligenciados até os que apenas precisavam de uma segunda chance. Fantasiava sobre um lugar onde heróis e vilões pudessem reunir-se sem causar tumulto, formando equipes que buscassem objetivos semelhantes. Não seria uma tarefa fácil, mas sentia que tinha um plano e precisava expandir sua ideia por toda a Sellure até ser reconhecido em cada província.

Lesten quis apresentar sua casa, entrou encurvado para dentro da cabana enquanto repetia um gesto convidativo cheio de empolgação. Mesmo que os geckos tivessem o costume de agir com desconfiança com forasteiros, eles ainda adoravam receber visitas e preparar refeições com iguarias excêntricas e temperos que nenhuma outra raça sabia cultivar.

— Sejam bem-vindos à minha humilde residência. Podem ir entrando, fiquem à vontade!

A cortina de cocais escondia uma completa bagunça. Restos de comida estavam jogados pelos cantos, o ambiente exalava um estranho odor de dormitório masculino composto por cinco ou mais garotos que decidiam fazer a limpeza só depois de um mês inteiro de festas. No primeiro andar o chão era forrado com tábuas de madeira improvisadas e cheias de buracos. Seus pertences mais importantes ficavam em uma área superior, caso a água do mar decidisse subir ao anoitecer e ele fosse pego de surpresa. O que Lesten chamava de "segundo andar" era um amontoado de caixotes e barris embaixo de toras de madeira que se sustentavam como pilares, uma rede de dormir estava estendida de uma ponta à outra e só uma lagartixa poderia alcançá-la no topo. Havia uma lareira — o que Auria não soube explicar a princípio —, pois os geckos precisavam de calor para manter o sangue aquecido em noites frias, mesmo vivendo em uma ilha tropical.

Ralph encantou-se com a autenticidade. Era a casa perfeita para alguém que desejava morar sozinho, alheio aos deveres e obrigações com o resto do mundo.

— Cara, faz um tempão que não recebo visitas. Vocês me pegaram de surpresa! — disse o lagarto enquanto reunia seus pertences. — Sorte que eu limpei a casa, ontem mesmo aproveitei para jogar fora o lixo.

— Pois é. Vimos a sua varanda — comentou Auria, nem um pouco discreta. — Como alguém pode viver nessa bagunça?

— Bagunça é quando a maré sobe e leva tudo embora. Por isso deixo aquela área elevada ali em cima para colocar minhas coisas importantes penduradas. Ah, e cuidado com o buraco no chão.

— Isso tudo é muito interessante — respondeu Ralph por fim. Ele espremeu-se embaixo de alguns caixotes como se fosse um esconderijo. — Sem regras, sem leis. Você pode fazer tudo que quiser e quando bem entender!

Auria apoiou as mãos sobre a caixa e encarou o garoto de ponta-cabeça.

— Pronto. Realizou seu sonho?

— Como assim?

— Você disse que queria ter amigos para compartilhar suas histórias. Aqui estamos nós. Você queria construir uma base notória onde fosse reconhecido. Aqui está a base.

— Auria, você não entendeu. — Ralph caiu na risada. — Eu não procuro uma base, uma guilda ou um castelo requintado, eu quero um lar! Um lugar onde pessoas possam se reunir para compartilhar bons momentos. O lar é uma consequência de onde nos sentimos plenos e felizes. Você se sente feliz?

Auria levou a mão até sua cabeça em sinal de desapontamento.

— Bem, eu não gosto daqui — falou enquanto verificava a qualidade das paredes que caíam quando ela as empurrava com força.

— Poxa, também não ofende! Eu ergui essa cabana com muito esforço — respondeu Lesten, abrindo uma fruta com suas garras para depois abocanhá-la. — Vocês recuperaram seus pertences, então por que não vão embora logo?

Matéria, Espada de MadeiraOnde histórias criam vida. Descubra agora