Eu acordei no meio da noite com um cochicho , era Severo que estava reunido com mais quatro escravos , e pensei que boa coisa ele não estava armando , ele era o mais revoltado com a nossa condição e não tinha como eu não escutar o seu plano de fuga , eles estavam querendo , render o feitor e todos os seus comparsas , mas era preciso toda uma estratégia , e ainda tinha de trazer para o seu lado , os escravos do outro grupo , para que fosse formado um só , esses eram grupos maiores que estavam armando fuga sozinhos , eles se diziam melhores e mais inteligentes do que os outros não queriam se unir a Severo e os outros quatro , pois queriam uma liderança sem o mesmo , , é que , entre nós , ainda , diante de tanta miséria e castigos em que eramos submetidos , existia o preconceito entre nós , , e não ia ser uma tarefa fácil , sobretudo por que com os dias no cativeiro , o pavor se apoderava de todos e todos faziam por viver , ; cada qual á sua maneira , eles também estavam a esconder todo tipo de faca, e objetos que fossem pontiagudos , eu ouvia o cochichar deles , e depois o silêncio , e cada qual se dispersando quando havia indícios de alguém do lado de fora , da confiança de seu Germano , estar atento ao que se passa no recinto da senzala : , Eu virei minha cabeça e meu corpo para um lado , me acomodando melhor e procurei dormir , eu queria acordar disposto , e ver logo como estava o plantio , pois tinha que me revesar entre a roça e o jardim que estava adornando , e agora com a chegada de sinhá Rosa , ia me esmerar para , manter o prestígio e os elogios ao trabalho feito por mim . peguei no sono , mas ainda ao longe eu ouvia a voz de Severo e de um outro que eu não sabia quem era.
O dia amanheceu e o sino tocou , : era hora de se levantar , cuidar da vida , se lavar , tomar o ralo café , que se dessemos sorte , vinha acompanhado de um angu, mas isso era raro , eu , estava tendo as minhas regalias , pois as cozinheiras da casa grande , sempre me dava alguma coisa as escondidas , e eu não ficava mais com aquele buraco em meu estômago , eu estava bem , dentro do que eu podia sentir , o que era estar bem ;, Fomos em fila como fazíamos sempre , para que o seu Germano olhasse e fizesse a contagem de todos nós e , quando menos esperávamos , ele enfureceu , pois cadê o escravo Quintino? ---- Cadê o negro Quintino? , onde está ? , ninguém sabia , ou fingia que não sabia , o homem , latia raivosamente ,, parecia que ia ter um troço e a gente ali ,, parado , eu com fome , mas de nada ia adiantar , se Quintino não aparecesse , o chicote ia sambar no nosso lombo, Seu Germano , chamou os seus auxiliares , e vociferou ---- rápido olhem em tudo quanto é buraco e voltou a atenção aonde estávamos , um a um --- , o negro onde está? , fugiu para onde? , quem sabe ? e olhou para a fila onde estávamos , um silêncio brutal, se fez eu já estava suando , o silêncio ecoava no pátio , ninguém ousava nada dizer , ele , seu Germano , nos inquiriu , um a um mais uma vez , e quem não soubesse , estava levando as chicotadas , e quando chegou a minha vez , eu falei ;-- eu num vi ninguém não , Seu Germano me fitou com aquela cara de demônio que ele tinha , --- NEGRO SAFADO , VOCÊ É O MAIS SONSO , CADÊ O QUINTINO? e eu de cabeça baixa respondi , - num sei não senhor , quando eu acordei , num vi nada , nem ninguém , eu vim logo para a fila , se soubesse ia falar a vosmecê .. ( eu que num ia dizer ,eu num tinha visto nada e eu num sô traidor ) falei como se fosse adiantar alguma coisa , eles sempre queriam um motivo para nos chicotear e dessa vez eu , nem os outros escaparam , todos nós fomos agraciados com várias chicotadas e não nos foi servido nada , enquanto não achassem o negro Quintino.
Mais tarde , eu soube que ele tinha fugido mesmo e ninguém soube como , o feitor , seu Germano botou os homens atrás dele , mas o homem escafedeu-se , rumou pelas matas , e ninguém viu, e como ninguém viu , todos nós fomos castigados , os que eles tinha raiva apanhavam mais , e foi uma sangria danada , eu , num fui para a casa grande , pois era o feitor que dava essa ordem , com o consentimento de seu Gonçalo , e seu Gonçalo estava , fora e em sua ausência era o feitor , e capataz que se encarregava de nosso castigo , tomando as providências ...:, Eu , já , castigado , junto com os demais , esperava que o negro Quintino estivesse lá pelas bandas do mato onde tinha os quilombos.
Quintino se foi , e nem sinal dele , eu, torcia para que ninguém pusesse os olhos nele , porque se ele fosse pego , ninguém ia saber do seu destino, ., ; Esse foi um episódio dos mais dolorosos , , fomos castigados sem dó nem piedade , , ; as nossas costas abriram em feridas , e eu fiquei um trapo , nunca mais havia sentido o chicote , ,só tinha soado em mim de vez em quando , o pior era o sal que tinha que colocar para que sarasse logo , foi uma sangria esse dia , eu nunca hei de esquecer , as lágrimas não saia de dentro de mim e eu fiquei com um bolo na garganta por dias , e acredito que os outros também , cada qual na sua maneira de sofrer , Severo , trincava os dentes e chorava de ódio , eu só ouvia ele falar baixo _- ainda mato esse bicho , ainda mato ele ...
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O Dedo de Deus (Obra não revisada)
RomanceEsta obra retrata a vida do escravo Inácio que superou todas as suas provações, na dura vida da senzala, seus medos e tormentos a que a escravidão lhe submetia. Em meio a todas essas injustiças, apaixonou-se por uma mulher branca que vinha ser sua s...